Sul-mato-grossense defenderá o ouro nas Paralimpíadas
Yeltsin Jacques Ortega foi certamente o principal nome do esporte paralímpico de Mato Grosso do Sul. Com conquistas no Mundial e no Parapan, o atleta dos 1500 m e 5000 m, o campo-grandense de 32 anos disse à reportagem que 2023 foi excelente. Em entrevista respondida no último dia 5, o medalhista em Tóquio promete “entregar tudo” nos dois principais eventos da próxima temporada: o Mundial e, sobretudo, os Jogos Paralímpicos de Paris.
Entre os pontos positivos, o corredor cita terminar o ano sem lesão. “Foi excelente, estou feliz por não estar mais lesionado, ter conseguido me recuperar, praticamente treinando sem dor e isso já foi uma vitória”, diz o brasileiro, por meio de mensagens de voz. “Comecei o ano com dor, fomos para o Campeonato Mundial (ocorrido em Paris, no mês de julho), conquistamos o ouro nos 1500 m e um bronze nos 5000 m. O 5000 tava treinando muito pouco volume, devido a isso acabei sentindo no Mundial”, acrescenta.
Já em Santiago, em novembro, o quadro foi diferente. “Agora, no Parapan, já mostrei que estou bem, fomos muito bem, ganhei a prova (dos 5000), nos 1500 tive um problema com o guia, mas vi que estou bem, e dá para ser campeão em Paris, que é o foco principal”, analisa.
Em comparação a 2022, o campo-grandense fecha a temporada em patamar superior. “A gente encerra o ano feliz, três medalhas nas duas grandes competições do mundo. Diferente de 2022, que não teve grandes competições, tive dificuldades, várias lesões seguidas, foi difícil”, relembra o paratleta.
Fechar bem o calendário fortalece as esperanças para os próximos objetivos. “Esse ano foi bem melhor, a gente fez um bom trabalho na altitude, então encerro com chave de ouro e bem, psicologicamente, para 2024, que é o ano alvo, porque a gente precisa entregar tudo nas competições”, diz.
Treinos com intensidade e na Bolívia
Questionado se existe algum aspecto ou fundamento a ser priorizado, Yeltsin avisa que o ritmo vai ser ainda maior. “Um pouquinho mais de volume. Trabalhar um pouco mais de fartlek (método de treinamento que consiste em alternar períodos de corrida em diferentes intensidades), intervalado. A gente vai fazer mais trabalho de altitude”, diz. “[Esse ano,] por causa das lesões, acabei fazendo uma vez só, na Bolívia, e geralmente a gente faz em torno de duas a três vezes por ano”, explica.
Os outros que lutem
Chegar a Paris como medalhista ajuda ou pressiona? “Põe um pouco mais de responsabilidade, mas sou um cara que normalmente cresço sobre pressão. Gosto disso, dessa responsabilidade, pra mim é uma vantagem”, afirma Yeltsin.
“Sei que os adversários estão treinando focados em mim, quero que eles treinem mais e melhor mesmo, porque sei que estou bem, vou para ganhar. Eles que venham, porque vou pra ganhar. Não tem margem para erro, nem para mim, nem para eles. Estou indo para conquistar o bicampeonato”, avisa.
Ele tem um plano
Em seu cronograma 2024, os trabalhos começam em janeiro, com preparações em São Paulo e na Colômbia. Em fevereiro, retorna ao país, onde deve participar do Desafio CBAt/ CPB no Estado paulista.
Na sequência, hiato necessário. “Depois, o foco é o Campeonato Mundial (17 a 26 de maio em Kobe-JAP). Daí, a gente volta e já vai para a Bolívia, em junho, [onde] faz mais um camping, depois finaliza o trabalho em Campo Grande”, lista o sul-mato-grossense.
Depois, a parada segue rumo à Europa. “E vai para uma cidadezinha no interior da França, que se chama Font-Romeu, finalizar a preparação lá, fica a 1900 m de altitude… e de lá vai para a Paralimpíada”, afirma ele, com o esquema todo já na cabeça. ]
“A ideia é garantir o ouro em duas provas. O que percebi, neste ano, é que o meu 1500 está excelente, dá para ganhar já com o que a gente vem fazendo, o trabalho está perfeito. Nos 5000 tenho de ajustar alguns detalhes, que é o que a gente vai ajustar agora. Sem lesão, sem dor, a gente consegue trabalhar o fartlek, volume e o trabalho na altitude é fundamental para isso”, argumenta.
Descansar sim, perder o foco, jamais
Sobre o que faz nos momentos de folga e se consegue se desligar da pista, Yeltsin brinca, ao citar seu apelido.
“Sou muito tranquilo. O pessoal até brinca, fala que sou ‘minhoca’, que não sai de Campo Grande. Da tranquilidade de estar aqui, estar em um ambiente tranquilo, tudo muito próximo, pronto pra eu treinar… já consigo me desligar um pouco até por isso”. revela. “Eu gosto muito de ler livros, sobre vários temas, podcast, documentários… às vezes viajar aqui, próximo de Campo Grande mesmo. Um domingo de folga, que é raro, ir em uma fazenda, em Aquidauana, e voltar. É isso, manter o foco 24 horas. A gente trabalha para isso, para sempre entregar o máximo”, comenta o paratleta.
Lembra que a parte mental é fundamental. “Consigo estar com um psicológico muito bom por isso. Apesar da gente saber que ‘você é a caça, os adversários do mundo todo estão treinando pra te vencer’, estou tranquilo, estou bem. Até brinco, meu trabalho é 24 horas, a gente não tem folga, férias. Meu descanso, alimentação, sono, faz parte do treinamento.”
Por – Luciano Shakihama
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