‘A relação entre o Brasil e a China funciona como um grande sistema’

Reprodução/O Estado Play
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No próximo ano, China e Brasil celebram 50 anos de relações diplomáticas. Segundo o ministro conselheiro da Embaixada, acordos vão além do agronegócio

O ministro conselheiro da Embaixada da China, Li Qi, celebrou a parceira do jornal O Estado com a agência chinesa de comunicação, “Xinhua”. “Entre duas potências, dois grandes países, China e o Brasil, dois parceiros tão fundamentais precisam que se busque um maior entendimento e conhecimento entre ambas sociedades e os meios de comunicação atuam com um papel fundamental em tudo”, afirmou.

Li Qi concedeu entrevista ao jornal O Estado por videoconferência, direto da embaixada, em Brasília (DF). O ministro defendeu o uso da moeda única entre os países como forma fortalecimento de acordo comercial e uma nova opção ao setor empresarial e privado. “O uso de moedas próprias no comércio ajuda a fomentá-lo ainda mais e aumenta os investimento porque as empresas, tendo as suas próprias moedas, precisam usá-las e isso fomenta o comércio entre os países. Ao observamos o panorama econômico internacional, o uso de moedas próprias é uma grande tendência”, acredita. 

Brasil e China completam, em 2024, cinco décadas de relações diplomáticas. Li Qi diz que essa relação alcança níveis satisfatórios, que não é centralizada apenas no agronegócio, como em ciência, tecnologia, educação, cultura e turismo. “A relação entre o Brasil e a China funciona como um grande sistema que está formado por diversos setores, não apenas o diálogo político, relação com agendas internacionais, mas também no comércio, investimentos e tecnologia, ciência, cultura, educação, turismo e, inclusive, nos esportes, sobretudo no futebol. Por isso, eu digo, entre ambos há potenciais em nível mundial, temos diversos temas a colaborar. No próximo ano, 2024, vamos celebrar 50 anos de relações diplomáticas entre a China e o Brasil e estamos discutindo com vários setores do Brasil para planejar eventos que serão realizados no próximo ano e, dentro desses eventos, também estão incluídos os setores de ciências e tecnologias, que agora são nossas prioridades”, informou. 

O Estado: Recentemente, os dois países concordaram em realizar transações comerciais em suas próprias moedas, retirando o dólar americano como intermediário. Qual a expectativa com essa mudança? Reduzir custos? 

Conselheiro Li Qi: Esperamos que sim. Esse é um tema que gera debates, efetivamente pelo uso de moeda própria, que ajudaria a reduzir custos e evitaria riscos cambiários para as empresas comerciais. Por outro lado, o uso de moedas próprias no comércio ajuda a fomentá-lo ainda mais e aumenta o investimento porque as empresas, tendo suas próprias moedas, precisam usá-las e isso fomenta o comércio entre os países. 

Ao observamos o panorama econômico internacional, o uso de moedas próprias é uma grande tendência e está acontecendo em muitos países, não apenas entre a China e o Brasil. 

O Estado: As exportações brasileiras para a China são dominadas por produtos como soja, minério e carne bovina. Hoje, qual a importância do Brasil na alimentação do povo chinês?

Conselheiro Li Qi: A estrutura está definida pelas vantagens complementárias entre os dois países e o Brasil é um país altamente competitivo em agronegócio. Não apenas no seu comércio com a China, mas é um provedor muito competitivo e, neste caso, de fato, a China importa muita soja e carne bovina, ajudando a diversificar o consumo e também assume um papel fundamental na alimentação da China, com a soja, pois ela não é só importante para produzir azeite e de consumo, mas também alimento para os animais. Ao mesmo tempo, nunca ficamos satisfeitos com o panorama atual e, em ambos os lados, estamos trabalhando juntos para diversificar a exportação de Brasil para a China e, neste sentido, tanto o Ministério de Indústria e Comércio e o Itamaraty estão fazendo um imenso trabalho e a China está disposta a colaborar.

Acredito que em ambos os governos podemos oferecer uma orientação política que contribua para uma maior diversificação na relação Brasil e China.   

O Estado: Além das relações comerciais, os dois países têm buscado a cooperação em diversas áreas, como ciência e tecnologia, educação, cultura e turismo. Como está o diálogo sobre essas parcerias com o atual governo? 

Conselheiro Li Qi: A relação entre o Brasil e a China funciona como um grande sistema que está formado por diversos setores, não apenas o diálogo político, a relação com agendas internacionais, mas também no comércio, investimentos e tecnologia, ciência, cultura, educação, turismo e inclusive nos esportes, sobretudo no futebol. Por isso, eu digo, entre ambos há potenciais em nível mundial, pois temos diversos temas a colaborar.

No próximo ano, 2024, vamos celebrar 50 anos de relações diplomáticas entre a China e o Brasil e estamos discutindo com vários setores do Brasil para planejar os eventos que serão realizados e, dentro deles, também estão incluídos os setores de ciências e tecnologias que agora são nossas prioridades e a cultura, por meio de algumas exposições culturais.

Na educação, queremos estabelecer laços mais estreitos entre as universidades de ambos os países e no turismo, eventualmente, vamos estabelecer uma oficina de representação para o turismo e claro, que também damos as boas-vindas a membros do governo federal e dos governos dos Estados do Brasil, para que estabeleçam a sua própria oficina de representação na China e promovam um conhecimento maior. 

Eu acredito que a relação entre Brasil e China é muito rica e os chineses costumam dizer que todo passado serve como um preâmbulo, ou seja, temos que olhar para o futuro, para a frente e ainda temos muito trabalho a fazer.

O Estado: Os dois países estabeleceram relações diplomáticas em 1974, durante o governo do presidente Ernesto Geisel. Com o retorno de Lula (PT) ao governo, as parcerias tendem a aumentar?

Conselheiro Li Qi: China e Brasil são dois grandes países em desenvolvimento, a China sempre atribui extrema importância ao Brasil e toma a relação com o Brasil como uma prioridade na nossa relação exterior. Não é algo novo, é algo de sempre, já fazem 30 anos que o Brasil se converteu no primeiros país em desenvolvimento a estabelecer parceria estratégica com a China. 

E essa relação, que agora alcança um nível bastante satisfatório, é resultado do esforço de várias gerações. Com o governo atual, estamos trabalhando em um ritmo muito acelerado e intenso. 

A visita do presidente Lula à China, em abril, foi um êxito. Ambos mandatários alcançaram uma série de consensos políticos e agora, entre ambos os lados, estamos trabalhando para implementá-los e o ritmo de trabalho é muito intenso. Estamos trabalhando 24 horas ao dia e, de fato, após essa visita, as instituições da China, tanto públicas quanto privadas, ao celebrar algum evento ou ao buscar alguma colaboração, sempre pensam no Brasil. 

Nos próximos dias, teremos dois importantes eventos internacionais, o primeiro será uma feira de investimentos em Xiamen, na China e o Brasil vai ser o país homenageado, e vamos aproveitar essa feira para celebrar o importante fórum entre os governadores das províncias de China e dos Estados do Brasil. 

O segundo evento será um Fórum Internacional de Inovação Tecnológica e o Brasil também vai ser o país homenageado, por isso digo que estamos trabalhando em um ritmo muito acelerado. A ideia é apresentar os resultados concretos em um futuro muito próximo, volto a reiterar que no próximo ano serão celebrados os 50 anos da nossa relação diplomática e tentaremos entregar uma lista de sucessos alcançados.

O Estado: Outro setor que a China investe no Brasil é compras. Recentemente, o governo federal se envolveu em uma polêmica, por taxar a compra internacional. Isso não deixaria os produtos mais caros?

Conselheiro Li Qi: A  política tributária é um direito soberano de cada país, mas, do meu ponto de vista, tenho entendido que o que o governo brasileiro busca é recuperar essas compras internacionais, em vez de taxá-las ou simplesmente tributar. Também vi, por meio das notícias e reportagens, e sinto que as grandes plataformas já manifestaram a sua vontade de respeitar essa medida do governo. 

Ao mencionar essas plataformas, eu acredito que desde esta embaixada estamos observando as plataformas como uma importante oportunidade para elevar o nível do comércio bilateral, porque as plataformas não apenas fomentam exportação de produtos chineses para o Brasil, mas também ajudam a comprar desde o Brasil, diversificando a venda do Brasil para a China, porque as plataformas oferecem uma nova porta para as OMEs e, de fato, algumas PMEs são muito competitivas no Brasil, mas, devido a essa questão geográfica, algumas vezes, têm dificuldades  em ter uma porta de entrada para o mercado da China.

O Estado: Em abril, o governo do Brasil fechou acordos com a Agência “Xinhua” e “CMG” (China Media Group). Qual a importância dessa abertura de parcerias em modelos de comunicação?

Conselheiro Li Qi: Eu acredito que esses acordos refletem o espírito de abertura e a inclusão do governo brasileiro. A política exterior do Brasil, que sempre é séria, profissional e com muito respeito, de fato, estamos vivenciando uma sociedade de informática. O mundo está muito informatizado e globalizado, sem embargos, notamos que nessa sociedade, algumas vezes, as mentiras, ganham em sua competência contra a verdade. A informação não chega tão rápido e tão eficiente como a desinformação, esta é uma característica na história da Nova Era. 

Por isso é, muito importante conseguir informações em primeira mão. Porque às vezes também temos fatores ideológicos por trás das reportagens, e eu reitero que é sempre importante obter as informações em primeira mão, principalmente as oficiais. Eu acredito que esses acordos assinados entre o governo brasileiro e as mídias oficiais da China oferecem uma orientação para a sociedade e, sobretudo, considerando os fatores complicados da comunicação.

 

O Estado: Além do setor público, qual a importância dos setores privados de comunicações estarem fechando essas parcerias, por exemplo, com a Agência “Xinhua”, principal e maior órgão gerador de notícias do país?

Conselheiro Li Qi: De fato, essa relação entre Brasil e China é de país para país, Estado a Estado e sociedade para sociedade. Se essa relação busca resultados satisfatórios e duradouros, é indispensável que ela conte com a ampla participação de todos os setores do país, e a ampla e ativa participação dos setores sociais dependem da profundidade do seu conhecimento sobre o outro país. 

Neste caso, o setor privado de comunicação está desenvolvendo um papel fundamental. Por um lado, a imprensa oferece uma janela de observação para a sociedade e, ao mesmo tempo, cada imprensa serve como um porta-voz do país, eu acredito que os meios de comunicação entre ambos os países têm um espaço de colaboração para estreitar esse apoio entre si e podem oferecer mais informações em primeira mão para a outra parte. Não é só importante firmar esses acordos, mas também queremos dar as boas-vindas para os meios de comunicação do Brasil, para que enviem representantes permanentes a nosso país. Em terreno e com os próprios olhos podem entender como é a China.

Por isso, celebramos a assinatura do jornal O Estado com a Agência Xinhua.

 

O Estado: A parceira do jornal O Estado com a  Agência Xinhua é uma nova tendência no mercado de comunicação? 

Conselheiro Li Qi: Esse é um grande espaço de colaboração a ser explorado e vocês são os pioneiros, por isso volto a repetir que entre as duas potências, dois grandes países, China e o Brasil, dois parceiros tão fundamentais precisam que se busque um maior entendimento e conhecimento entre ambas sociedades e os meios de comunicação atuam com um papel fundamental em tudo isso, pois temos demanda da sociedade e, de vocês, vêm a oferta. 

Ao mesmo tempo, também podemos dizer que os meios de comunicação estão passando e experimentando transformações porque a tecnologia avança, a forma de trabalhar avança junto e se transforma e, neste caso, acredito que em ambos os lados, entre os meios de comunicação de ambos países há muitas experiências que podem ser compartilhadas. 

Tenho amigos que trabalham nos meios de comunicação da China e sei que eles estão implementando outras tecnologias, outras formas de trabalho e pode haver um grande compartilhamento, entre todos. No Brasil, o setor midiático tem suas próprias características e precisa compartilhar com os colegas da China.

 

 

Por Michelly Perez – Jornal O Estado de Mato Grosso do Sul.

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