A Associação Okinawa promove uma exposição única e emocionante para homenagear os 115 anos de imigração japonesa no Brasil. Intitulada “O Romance Noroesute Tetsudo e os Okinawanos de Campo Grande”, a mostra revisita, por meio de fotografias e vídeos, a trajetória dos primeiros imigrantes okinawanos que estabeleceram raízes em Campo Grande, trazendo consigo uma herança de coragem, perseverança e trajetória. A exposição iniciou no sábado (12), no shopping Bosque dos Ipês e vai ficar em exibição até ao final do mês, podendo ser prorrogada. A entrada é gratuita.
Natural de Campo Grande, Patricia Nogueira Aguena é vice-presidente da associação Okinawa e comenta sobre o romance de Tatsushiro Oshiro. A obra inspiração para o evento, narra a vida dos imigrantes que precisaram construir suas vidas longe do país de origem. “A base da exposição reside no romance ‘Noroesute Tetsudo’. A obra é assinada por Tatsuhiro Oshiro, um autor que transcendeu fronteiras ao conquistar o Prêmio Akutagawa, um dos mais prestigiados por escritores literários, no Japão. O romance mergulhou na jornada dos imigrantes de Okinawa que construíram em Campo Grande sua casa, traçando suas lutas, triunfos e os laços indestrutíveis”, declara.
Os visitantes terão todo o mês de agosto para explorar as fotografias, vídeos e narrativas que dão vida à saga desses imigrantes. Apresentada em detalhes, a jornada é narrada desde a província de Okinawa até a chegada ao Mato Grosso do Sul, por meio da Ferrovia Noroeste do Brasil. Ao explorar suas adversidades e triunfos, o público pode fazer uma viagem imersiva às histórias de superação, adaptabilidade e crescimento desses povos. Além de poder, compreender a contribuição direta da comunidade para a diversidade étnica e cultural de Campo Grande, essencial para a criação de uma sociedade inclusiva e multicultural. “Ela revela a saga dos bravos imigrantes,suas dificuldades e triunfos, ajudando-nos a compreender melhor não apenas na história de nossa comunidade okinawana, mas também a história de Campo Grande em si. Esta exposição serve como uma janela para a cultura okinawana, permitindo- -nos uma oportunidade única de conhecer e apreciar nossas raízes e patrimônio. É um lembrete poderoso da rica tapeçaria de histórias e culturas que moldam Campo Grande”, afirma Marcel Arakaki, presidente da Associação Okinawa na cidade.
Comunidade
A presença da comunidade okinawana em Campo Grande transcende a mera estatística numérica. Campo Grande é considerada a cidade mais okinawana do Brasil, cerca de 60-70% dos descendentes de japoneses são de Okinawa, conforme informações disponibilizadas pela Associação Okinawa de Campo Grande. Segundo a vice-presidente da Associação Okinawa, os okinawanos que residem na Capital enriquecem a região com experiências. Dessa forma, a comunidade é um grupo que desempenha um papel fundamental na construção do mosaico cultural e social da cidade. Além disso, a rica herança cultural trazida pelos okinawanos é evidente em todos os aspectos da vida, em Campo Grande. Desde tradições ancestrais até a culinária icônica, como o sobá, que em contato com influências regionais ganhou uma releitura na Capital e foi reconhecido como patrimônio imaterial, em 2018. A mistura harmoniosa de costumes antigos e contemporâneos que os imigrantes agregaram e hoje compõem e valorizam a cidade, é outro aspecto colocado em ênfase pela vice-presidente, que destaca ser uma oportunidade para os moradores locais experimentarem e apreciarem uma cultura diferente.
“Provavelmente, é a comunidade mais okinawana do Brasil. Os okinawanos desempenham um papel significativo em Campo Grande, contribuindo para a diversidade cultural e enriquecendo o tecido social da cidade. A presença da comunidade okinawana não apenas mantém viva a herança cultural desse grupo étnico, como também uma série de influências positivas para a região”, afirma Patricia.
Patricia é uma das figuras centrais nesse empreendimento. Como descendente da terceira geração de okinawanos, ela compartilha sua paixão pela cultura e história, descrevendo como encontrou um sanshin, instrumento okinawano de quase 100 anos, símbolo de sua herança. Patricia, representando a Associação Okinawa em Campo Grande, juntamente com a Biblioteca de Okinawa e outras instituições, superou desafios para trazer à vida essa exposição, rica em detalhes, pois, “Frequentei a associação quando era criança, na época em que meus avós, Koei Aguena e Kamado Aguena (Higa: sobrenome de solteira) tocavam sanshin e praticavam danças clássicas okinawanas. Fiquei afastada por um longo período, durante a minha adolescência, porém sempre pesquisando e estudando sobre a cultura e história de Okinawa, minha paixão. A minha trajetória, na associação, iniciou-se após encontrar o sanshin, instrumento musical okinawano com quase 100 anos, trazido pelo meu avô ao imigrar para o Brasil, em 1936. Quando voltei para Campo Grande, em 2018, uma jovem e habilidosa luthier, Sarita Shirado, única mulher da América do Sul a fabricar e restaurar sanshin, consertou o instrumento herdado por mim e pouco antes da pandemia, iniciei meus estudos de sanshin na Associação Okinawa de Campo Grande, com aulas ministradas pelo sansei Crystian Proença. Em 2022, fui chamada a compor a diretoria da associação. Estamos muito honrados em poder realizar esta exposição, neste ano de 2023, que marca o 115° ano da chegada do navio Kasato Maru com os primeiros imigrantes okinawanos e japoneses ao Brasil. Esperamos que ela desperte o interesse por Okinawa e que possa promover ainda mais a relação de cooperação e amizade entre os Estados irmãos, Mato Grosso do Sul e a província de Okinawa”, explica Patricia.
Interação
A vice-presidente ainda acrescenta que, por meio de eventos e festivais culturais, a comunidade não apenas oferece entretenimento, mas também promove a interação e o entendimento entre diferentes grupos culturais. Ressalta também sobre a diversidade étnica e cultural, conctribuição para a educação local e ajuda na integração de imigrantes em Campo Grande. “A comunidade organiza eventos e festivais culturais que não apenas proporcionam entretenimento aos residentes locais, mas também promovem a interação e o entendimento entre diferentes grupos culturais. Isso é essencial à população, pois oportuniza a troca de conhecimento, experiências e valores entre diferentes grupos culturais. Isso enriquece o conhecimento e a compreensão dos habitantes da cidade. Para concluir, a comunidade okinawana também ajuda na integração de imigrantes e descendentes, proporcionando um espaço em que podem se conectar com pessoas que compartilham sua herança cultural. A própria comunidade, muitas vezes, oferece uma rede de apoio a seus membros, criando um senso de pertencimento e proporcionando um ambiente de apoio social.
A exposição é originalmente elaborada e organizada pela Biblioteca de Okinawa, que realizou a primeira edição em 2021, em Okinawa. Em parceria com o shopping Bosque dos Ipês, a Associação Okinawa e a Travel Way, a exposição “O Romance Noroesute Tetsudo e os Okinawanos de Campo Grande” chega à capital e celebra os 115 anos da imigração japonesa no Brasil – conectanto passado e presente. “Hoje, graças ao esforço, temos o privilégio de compartilhar essa história também aqui, em Campo Grande”, destaca Marcel Arakaki, presidente da associação na cidade.
Por – Ana Cavalcante
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