Soraya e relatora provocam e ironizam depoente durante CPMI

Edilson Rodrigues/Agência Senado
Edilson Rodrigues/Agência Senado

Coronel do Exército foi questionado sobre diálogo referente a golpe

Durante a participação na oitiva da CPMI (Comissão Parlamentar Mista de Inquérito) dos atos de 8 de Janeiro de 2023, ontem (27), a senadora Soraya Thronicke (União), protagonizou momentos de ironia e crítica contundente em relação à postura do coronel do Exército, Jean Lawand Junior, diante das lideranças do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Lawand foi convocado pela comissão devido ao conteúdo de mensagens trocadas com o ex-ajudante de ordens da Presidência da República do governo Bolsonaro, o tenente-coronel do Exército, Mauro Cid. Nas mensagens colhidas pela Polícia Federal, o coronel pede a Cid que solicite a Bolsonaro que “dê a ordem”.

Com um tom irônico, a senadora destacou que, por possuir atributos como ser cristão, homem de família, defensor da pátria, além de mencionar Deus e liberdade, o coronel deveria ser agraciado com o Prêmio Nobel da Paz. No entanto, a ironia não parou por aí. Soraya Thronicke, deixando claro que um golpe de Estado não requer necessariamente oemprego de violência, afirmou que a tomada dos três poderes pelos manifestantes em 8 de janeiro foi uma tentativa de golpe, ainda que fracassada.

A senadora direcionou suas cobranças ao coronel Lawand, exigindo respostas sobre suas declarações ao ajudante de ordem de Bolsonaro, Mauro Cid. No entanto, o coronel optou por permanecer em silêncio diante dos questionamentos. 

A parlamentar também fez uma crítica bem-humorada em relação à campanha de arrecadação de recursos, via PIX, para ajudar o ex-presidente Jair Bolsonaro a pagar multas judiciais. Soraya Thronicke sugeriu que o dinheiro arrecadado deveria ser destinado aos presos envolvidos nas depredações em Brasília. Em sua declaração, a senadora ressaltou nunca ter presenciado o presidente Bolsonaro visitar essas pessoas nas prisões, como a Papuda e a Colmeia.

Com suas palavras irônicas e críticas ácidas, Soraya Thronicke expôs seu posicionamento diante do cenário político e das investigações acerca dos atos antidemocráticos. 

 

RELATORA

Outra senadora a colocar o coronel “contra a parede” foi a relatora, senadora Eliziane Gama (PSD-MA), que rebateu as afirmações do coronel Jean Lawand.“Não infantilize essa Comissão”, disse ela. 

Trecho da conversa obtida pela PF. “Cidão [referência a Mauro Cid], pelo amor de Deus, faz alguma coisa, cara. Convence ele [ex-presidente Bolsonaro] a fazer. Ele não pode recuar agora. Ele não tem nada a perder. Ele vai ser preso. O Presidente vai ser preso. E pior, na Papuda, cara”, disse Lawand no dia 1º de dezembro de 2022. Em resposta, o ex-ajudante de ordens disse que Bolsonaro não pode dar a ordem porque “ele não confia no ACE [Auto Comando do Exército]”. 

“Então ferrou. Vai ter que ser pelo povo mesmo”, concluiu Lawand. Na justificativa apresenta à CPMI, o militar disse que a ideia dele era de que o então presidente Jair Bolsonaro pudesse “apaziguar” os ânimos diante dos atos golpistas que pediam intervenção militar em frente aos quartéis e nas rodovias do país.

Em seguida, a relatora interpela o coronel sobre outra mensagem. “O senhor diz o seguinte: ‘ele tem que dar a ordem, irmão. Não tem como não ser cumprida’. Mais adiante o senhor diz: ‘de modo próprio o Exército Brasileiro nada vai fazer porque será visto como golpe; então está nas mãos do presidente’. O senhor poderia explicar a razão pela qual entende que o golpe seria legitimado se viesse pelas mãos do então presidente?”, questionou a senadora.

O coronel voltou a defender que não se tratava de um pedido de golpe. “Em nenhum momento eu previ esse golpe. A minha missão, a minha intenção foi sempre fazer com que o coronel Cid entendesse que viria uma manifestação do presidente e aquela manifestação faria com que as pessoas retornassem às suas casas”, reafirmou. A senadora, então, questiona a veracidade dessas informações.

 

[Rayani Santa Cruz – O ESTADO DE MS]
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