[Texto: Por Filipe Gonçalves, Jornal O Estado de MS]
Steven Spielberg é uma das figuras mais relevantes da história do cinema. O diretor e produtor foi capaz de criar obras icônicas e revolucionar toda a indústria com sua engenhosidade e com uma forma única de contar uma história que praticamente manipula o espectador. “Os Fabelmans”, seu último filme lançado, é uma obra de arte muito pessoal.
Para as artes plásticas, pintar o autorretrato pode indicar uma virada de chave, para Spielberg, marca um momento muito particular em que pode contar um pouco de sua trajetória no cinema e como foram seus primeiros anos de vida. A mãe, vivida por Michelle Williams, é o ponto central e talvez uma das grandes incentivadoras de sua carreira nas artes, além de apoiá-lo desde o princípio.
“Os Fabelmans” conta a história de uma típica família dos anos 1950 que precisa se mudar algumas vezes por conta do trabalho do pai, Burt Fabelman, vivido pelo excelente Paul Dano. Foi um engenheiro elétrico e por meio de sua incrível capacidade de compreender como cada circuito (na verdade, cada aspecto de qualquer coisa) funciona que o capacitou a desenvolver grandes melhorias para os computadores naquela época, se tornando muito requisitado por grandes empresas de tecnologia
. A dinâmica que Burt mantém com sua esposa acaba afetando os filhos, em especial Sammy, que já é capaz de ter um discernimento de que aquela relação não se baseia exclusivamente em amor e companheirismo, mas é quase como se fosse duas pessoas que se gostam muito, porém já decidiram que vivem melhor sozinhas.
Burt, por ser uma pessoa muito pragmática e pensar no mundo como um grande sistema, capaz de ser respondido por fórmulas e teoremas matemáticos, ignora os talentos artísticos de qualquer um e não os vê como uma forma genuína de trabalho, embora o filho já mostre uma grande tendência a criar mundos incríveis.
O elenco, muito competente, traz uma vida em família muito boa, mas um tanto conturbada no que refere a funcionar em grupo e, mesmo que o filme não explore cada personalidade, consegue dar pelo menos um esboço do que seria cada um deles, como a irmã vivida por Julia Butters, que brilhou em “Era uma vez em… Hollywood”, filme de Quentin Tarantino, de 2019.
A condução talvez espante aqueles que estão acostumados a uma tocada média dos últimos filmes do diretor. Talvez o espectador mais jovem sinta um cansaço, nas quase 3 horas de filme. Os pontos fortes do filme são situações corriqueiras e as cenas que são mais impactantes são quase que premeditadas por grandes atores, como Judd Hirsch, David Lynch e Seth Rogen. “Os Fabelmans” está disponível no catálogo da Apple TV, Amazon Prime Video e até no YouTube, para aquisição.