‘Nosso pensamento é sempre o de proteger’, diz agente patrimonial

Nilson Figueiredo
Nilson Figueiredo

Ato heroico de professor e funcionário impediu que mais pessoas fossem vítimas de ataque

Ato heroico – assim foi definida a atitude do agente patrimonial da escola municipal Bernardo Franco Baís, durante um ataque de um ex-aluno, 15 anos, ocorrido na última quinta-feira (18), em Campo Grande. A ação rápida do agente impediu que outras pessoas fossem atingidas pelo adolescente, que acabou esfaqueando uma mãe, de 46 anos, na região da lombar. Um dia após o acontecido, as aulas foram mantidas normalmente.

No entanto, o medo ainda estava presente entre pais, alunos, e funcionários da unidade. Um dia após o ocorrido, o jornal O Estado conversou com o agente patrimonial da escola municipal, Jocsã Conceição Silva, 32 anos, que, mais aliviado, relembrou o momento. “O menino chegou cedo na escola, era por volta das 10h30, e ficou rodeando a área. Eu já estava cuidando ele, mas não esperava que isso aconteceria. Quando deu 13h, ele entrou já com a faca na mão e acertou a mãe, que estava na secretaria. Nesse momento, eu consegui imobilizá-lo para não passar para o pátio, que era onde estavam os alunos, na acolhida”, afirmou.

Com um ano e meio de atuação na segurança patrimonial da escola, o profissional destacou que nunca passou pela sua cabeça que poderia vivenciar uma situação como esta. “Agora estou mais tranquilo, bem mais calmo. Mas nunca imaginei passar por isso. Tenho duas filhas que estudam, uma de 3 anos e outra de 11 anos, quando cheguei em casa, a minha família me deu um abraço forte. Nosso pensamento é sempre proteger”, destacou.

Agente patrimonial Jocsã  Conceição detalhando o ocorrido na escola. Fotos: Marcos Maluf

O professor do colégio, Willian Silva, também estava presente, no momento da agressão. “Eu estava na entrada com a mãe, conversando sobre o filho dela, que é meu aluno. Foi tudo muito rápido e poderia ter sido mais grave, se não tivéssemos agido na mesma velocidade que ele”, relembrou.

Professor William Silva presenciou o ataque. Foto: Marcos Maluf

A agressão foi vista pelo agente patrimonial que, imediatamente, jogou uma mesa no adolescente, que tentava invadir o pátio da escola, em busca de novos alvos. Sem pestanejar, Willian foi ajudar o funcionário e os dois conseguiram imobilizar o menor, evitando que o pior acontecesse. “Eu agi no instinto, mesmo, porque nessas horas não dá nem tempo de parar e pensar. O agente encostou ele na parede e eu fui direto para a mão dele, para tirar a faca, a mãe gritava. Fomos na mesma velocidade que ele, pois o susto foi muito grande, afinal, tinham muitos alunos na escola, professores e funcionários. Era um dia normal de aula”, ressaltou o educador para o jornal O Estado.

Após o ato, os funcionários acionaram a Polícia Militar, que encaminhou o jovem à Deaij (Delegacia Especializada de Atendimento à Infância e Juventude). A escola foi submetida a exame pericial e os instrumentos que seriam utilizados para vitimar os alunos, sendo quatro facas e um machete, foram apreendidos pela PM. As circunstâncias e suas motivações ainda estão sendo investigadas. A advogada, vítima do adolescente, recebeu alta hospitalar na manhã de ontem (19).

 

ADOLESCENTE FICARÁ INTERNADO EM UNEI 

O adolescente, de 15 anos, responsável pelo ataque na escola, ficará internado em uma Unei (Unidade Educacional de Internação) de Campo Grande, até que sejam realizados todos os trâmites da investigação.  Ainda é investigado um suposto abuso sexual cometido contra ele, enquanto ainda era aluno da escola municipal e isso teria motivado o ataque, realizada na última quinta-feira (18).

O jornal O Estado entrou em contato com advogado da família do adolescente, Guilherme Cury, que está atuando na defesa do menor e de sua mãe. Cury afirmou ter conversado, brevemente, com o menino e que ainda não tem detalhes do abuso que o jovem afirma ter sofrido. “Ele disse que foi na antiga escola encontrar meninos que teriam abusado dele. Ele está abalado com tudo o que aconteceu”, ponderou. 

Segundo a Secretaria Estadual de Educação (SED), em março, a unidade escolar entrou em contato com a mãe do estudante e a orientou para que buscasse a Rede Pública de Saúde, para avaliação e possível acompanhamento psicológico. “Esse tipo de ação faz parte do protocolo da rede, mantendo pais e responsáveis informados sobre situações observadas na escola.”

 

Aulas são mantidas e segurança reforçada

 

Com aulas acontecendo normalmente, a segurança na escola foi reforçada, para que pais e alunos se tranquilizassem, após o ocorrido. Os secretários municipais de Educação e Segurança estiveram presentes na entrada da aula, na manhã de ontem (19). “Está sendo feito um estudo, um levantamento, para entender o caso. O que o motivou a isso? A escola tem psicólogo ou pessoas capacitadas para atender a essa equipe, que estava aqui. Falamos com os servidores, com os professores, na sequência, falamos com um grupo de alunos, trazendo essa conscientização sobre a segurança e fica aqui um apelo às famílias: tenham a responsabilidade de cuidar das crianças e adolescentes. Educar é dever da família e do Estado. É importante acompanhar a vida escolar do filho, acompanhar a mochila, verificar quais são os grupos de amigos, o que está assistindo e jogando na internet”, alertou o secretário municipal de Segurança Pública, Anderson Gonzaga.

“O adolescente foi entregue à polícia, e a investigação com a questão criminal já está junto com a Polícia Civil. Mas, aparentemente, ele nunca apresentou um comportamento agressivo. Inclusive, nunca teve alteração aqui na escola, também. Porém, a veracidade dos fatos está sendo apurado pela Polícia Civil. Segundo o adolescente, ele tinha alguns casos pontuais, alguns alunos, mas isso está sendo investigado”, acrescentou o secretário de segurança.

À imprensa, o secretário municipal de Educação, Lucas Bitencourt, também reforçou sobre o compromisso dos pais e da escola, em conjunto. “Nas escolas, nós temos o futuro do nosso país, precisamos valorizar isso. As medidas devidas estão sendo tomadas, mas claro que todo cuidado é pouco. Precisamos da colaboração dos pais com seus filhos, e nós, da educação, faremos a nossa parte, também”, ressaltou.

Ele ainda declarou que as aulas seguem normalmente, com o reforço da segurança, como portões sempre fechados, parceria com as famílias e também um aplicativo a ser oficializado, para estes casos, que será anunciado pela prefeita Adriane Lopes, nos próximos momentos.

Além da polícia, a escola municipal também foi tomada por pais preocupados com a segurança de seus filhos, no primeiro dia de aula, após o ataque. Para a mãe de um aluno do 6º ano, levar o filho para aula depois do ocorrido foi uma mistura de sentimentos. “A vontade era deixar ele em casa, guardado. Mas ele queria vir, teria aula e conteúdo normal, então, pensei melhor, conversamos e eu trouxe ele. Mas confesso que vir buscar ele na saída foi ainda melhor.

Saber que correu tudo bem, que agora ele já pode voltar para casa, não tem preço. Acho que vai levar uns dias até normalizar tudo e sair esse medo que estamos sentindo ao trazer nossos filhos para a escola”, desabafou a mãe, Juliana Ortelan, 35 anos, ao abraçar o filho, na saída da escola.

Compartilhando do mesmo sentimento, o fotógrafo Lanner Granze, 41 anos, também disse ter pensado em deixar o filho em casa, pelo menos nessa sexta-feira. “Lá em casa, conversamos com ele, para saber se estava tudo bem, se ele não estava com medo. E decidimos trazer ele. Sempre viemos trazer e buscar, ainda mais depois de tudo isso. O coração fica apertado de deixar o filhão aqui, mas também não podemos parar nossas vidas, ele precisa aprender, nós precisamos trabalhar e a vida é assim. Aqui, na escola, sempre teve polícia, ainda mais hoje, então, isso ajuda a tranquilizar, nem que seja um pouco”, disse o pai, ao lado do filho, de 14 anos.

 

Por Brenda Leitte e Michelly Perez – Jornal O Estado de Mato Grosso do Sul.

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