Após o México ser citado em documentos militares vazados para a mídia americana, o presidente mexicano, Andrés Manuel López Obrador, acusou os Estados Unidos de espionar seu governo. “Vamos proteger as informações da Secretaria da Marinha e da Defesa, porque estamos sendo objetos de espionagem”, afirmou, nesta terça-feira (18), em sua tradicional entrevista coletiva diária.
As afirmações foram feitas dias depois de uma reportagem do jornal The Washington Post citar um comunicado militar interno dos EUA para revelar aparentes tensões entre a Marinha e o Exército do México. A informação é fruto de um vazamento online que tornou público diversos documentos militares americanos e que já foi classificado pelo Pentágono de “ato criminoso deliberado”.
Na mesma reportagem, o Post revela que agências de inteligência americanas espionaram membros do cartel do Golfo após um de seus membros sequestrar, no mês passado, quatro cidadãos americanos, dos quais dois foram mortos.
Na segunda (17), AMLO, como também é conhecido o presidente, já havia esbravejado a repórteres contra os EUA. “Como assim estão nos espiando? Essa é uma intromissão abusiva e prepotente que não deve ser aceita sob motivo algum.”
Na última sexta-feira (14) Washington lançou uma ofensiva judicial contra 28 membros do cartel de Sinaloa, incluindo três filhos do Joaquín Guzmán -conhecido narcotraficante chamado também de El Chapo, que em 2019 foi condenado a prisão perpétua pela Justiça dos EUA. Agora, o Departamento de Justiça pede a mesma pena para Iván Archivaldo, Jesús Alfredo Guzmán Salazar e Ovidio Guzmán López. Dentre as acusações, está a de que o grupo criminoso joga inimigos a seus tigres de estimação.
O pano de fundo da mais recente tensão entre os dois países, porém, é o fentanil. Na quinta (13), uma comitiva que incluía o chanceler Marcelo Ebrard e a secretária de Segurança Rosa Icela Rodríguez visitou Washington para tratar da crise dos opioides, nova frente dos EUA na guerra contra as drogas.
De acordo com dados oficiais, de agosto de 2021 até o mesmo mês de 2022, 107.735 pessoas morreram nos EUA por intoxicação de drogas -e, dessas mortes, 66% foram causadas por opioides sintéticos como o fentanil que, segundo Washington, é produzido principalmente pelos cartéis mexicanos.
Enquanto os EUA parecem entender que esforços do país vizinho não são suficientes, Obrador opõe-se à operação americana em território mexicano. “Estamos sentindo que querem violar nossa soberania com um plano intervencionista”, afirmou nesta terça.
Em resposta, um porta-voz do Pentágono disse que o departamento tem uma “forte parceria de defesa” com o Exército e a Marinha do México, e que as entidades enfrentam desafios comuns enquanto “se respeitam mutuamente em relação à soberania e às respectivas agendas de política externa”.
A insistência no tema dias depois pode ser explicada por outra reportagem -a publicada pelo jornal The New York Times nesta terça. O veículo revelou um novo escândalo envolvendo o software de espionagem israelense Pegasus durante o governo Obrador –segundo a reportagem, o México foi o primeiro a adquirir a ferramenta da empresa NSO, usada frequentemente contra ativistas e políticos. “Não temos problemas de consciência. Não somos repressores, não espiamos, fazemos por segurança”, disse AMLO.
O grupo de direitos humanos Centro Prodh, com sede no México, disse que dois de seus funcionários tiveram seus telefones invadidos pelo Pegasus no ano passado, de acordo com uma análise do Citizen Lab, um órgão de vigilância digital com sede em Toronto.
Obrador sofre pressão para responsabilizar os militares por anos de uma escalada de violência que se acentuou em 2006, quando o governo de turno lançou um polêmico plano antidrogas com a participação dos militares que já deixou mais de 350 mil mortos.
Durante o mandato de AMLO, porém, o presidente ampliou o papel do Exército na segurança pública e tentou colocar a Guarda Nacional, uma força policial sob controle civil, aos cuidados do Exército -o que a Suprema Corte do México declarou inconstitucional nesta terça.
Com informações da Folhapress.
Acesse as redes sociais do O Estado Online no Facebook e Instagram.