Tema não pode ser tratado como guerra dos sexos
“Homem falando sobre violência contra as mulheres, sobre violência doméstica é muito interessante. Chama a atenção e isto pode ser ele repassando, muitas vezes, experiências dele próprio depois de entender seu erro”. A fala é da promotora de justiça Lívia Bariani, que atua na 19ª Promotoria de Justiça do Ministério Público Estadual dentro da 1ª Vara do Tribunal do Júri de Campo Grande, por onde passam muitos julgamentos de casos de feminicídio.
Para a promotora de justiça, já passou do tempo de a sociedade como um todo adotar a pauta da não violência contra as mulheres e meninas por entender que todos podem ser agentes de informação para coibir todos os tipos de violência (sexual, psicológica, patrimonial, política, moral, física). “Temos feito muitos convênios para passar informações para que homens não sejam pessoas que ouvem, fazem cara feia e bico todo vez que se fala neste tema, mas que possam divulgar a informação. Eles têm que ser formadores de opinião com este tipo de assunto”, defende.
Deixar que se perpetue a violência contra a mulher é dar carta branca para que extremos como o feminicídio aconteçam. A promotora de justiça destaca que, normalmente, os acusados quando sentam no banco dos réus sempre justificam que a vítima foi a culpada, que foi a mulher a causadora da sua ira e que poucos contam o fato com outro olhar. “Quase todos não têm ficha criminal, são bons pais, bons funcionários, não são traficantes, são os ‘gente boa’ do futebol, mas nem por isso nós vamos deixar de pedir a condenação deles”, frisa.
O Dia do Laço Branco (6 de dezembro), é uma campanha mundial que buscar envolver os homens na luta contra a violência contra as mulheres. Ela está inserida dentro da Campanha 16 dias de Ativismo, que vai de 25 de novembro a 10 de dezembro, pelo fim de todas as formas de violência contra as mulheres.
Historicamente, a campanha Laço Branco foi instituída depois que um estudante de uma escola de Montreal, no Canadá, em 6 de dezembro de 1989, ordenou que todos os homens saíssem da sala e depois assassinou a tiros 14 mulheres por ser contra pessoas do sexo feminino estudarem engenharia. A ideia da campanha é que homens se envolvam com a temática da não violência contra as mulheres. Já são mais de 50 países adeptos a este movimento, um deles o Brasil.
A promotora destaca que muitos homens, depois que recebem informações, revelam que não sabiam que certas atitudes praticadas por eles são caracterizadas como violência contra as mulheres como, por exemplo, um xingamento, pelo enraizamento cultural da criação que teve, da vivência social rodeada de abusos tidos como “coisa sem importância, um sarrinho de leve e algo que não mata ninguém”. Porém, a promotora alerta que este tipo de comportamento na maioria dos casos é o início para outras violências, inclusive feminicídio. “É uma preocupação do Ministério Público Estadual este apoio às vítimas para que elas saibam que o que estão sofrendo é violência e que elas podem contar com nossa rede de apoio, por meio do Núcleo de Atendimento às Vítimas, para que ela resolva seu problema ou resguarde um direito seu, saber o que fazer e onde procurar ajuda”, destaca.
Lívia Bariani frisa que muitas vezes as tentativas e os feminicídio ocorrem na frente dos filhos porque é dentro da casa do casal o ambiente mais comum da violência contra a mulher. “Isto gera, não só um sofrimento naquela família que perdeu tudo. Esta criança que vê tudo isto vai replicar. Estes agressores estão replicando agressores a todo momento. Reproduzindo pessoas que não acreditam mais em relacionamentos”, diz.
Por Bruno Arce – Jornal O Estado de MS.
Leia a edição impressa do Jornal O Estado de MS.
Acesse as redes sociais do O Estado Online no Facebook e Instagram.
Veja também: Concen entrega “Carta de Campo Grande” à equipe de transição federal