O procurador-geral do Irã, Hojatolislam Jafar Montazari, fez uma indicação neste domingo (4) de que a polícia da moralidade pode ser suspensa. A possível medida surge três meses após o início de protestos pela morte de Mahsa Amini por não estar usando o hijab de forma correta estabelecido pelo regime vigente.
Nomeada oficialmente como Patrulha da Orientação, a polícia moral foi criada no regime do ex-presidente ultraconservador Mahmoud Ahmadinejad (2005 a 2013) e tem como objetivo impor a chamada “cultura da decência”, fiscalizando as vestimentas e comportamentos de mulheres em pleno século 21.
Desde o seu surgimento, a instituição é criticada por atacar a liberdade individual e de praticar violências contra as mulheres que supostamente desrespeitam os códigos de vestimenta da República Islâmica. Porém as críticas se intensificaram ainda mais desde que Mahsa Amini morreu em setembro, enquanto estava sob custódia da polícia da moralidade.
“A Patrulha de Orientação não tem nada a ver com o Judiciário e foi suspensa”, disse Mohammad Jafar Montazeri, segundo a agência de notícias ISNA, ligada ao regime iraniano. “O Judiciário, claro, continua monitorando o comportamento na comunidade”.
Porém, ainda não há nenhuma confirmação da dissolução da polícia da moral ou de alguma mudança na lei que obriga o uso de hijab pelo Ministério do Interior e segundo a imprensa iraniana, está medida está fora do alcance de Montazeri, que também não é o responsável por supervisionar a força.
O presidente do Irã, o ultraconservador Ebrahim Raisi, afirmou neste sábado (3) que a Constituição do país “tem valores e princípios sólidos e imutáveis”, mas que “a aplicação e fiscalização dos métodos podem ser alterados”.
Formada por homens que vestem uniformes verdes e mulheres que usam o austero chador preto -véu negro que cobre todo o corpo, exceto o rosto, as primeiras patrulhas apareceram em 2006, porém desde 1983 é obrigatório o uso do véu cobrindo o cabelo e de roupas largas em público para as mulheres iranianas e estrangeiras.
Como começaram os protestos?
No dia 16 de setembro de 2022, Mahsa Amini veio a óbito após ser detida pela polícia da moralidade por não estar usando o hijab, ser internada e ficar em coma durante três dias.
As autoridades de Teerã afirmaram na época que a jovem teria tido um ataque cardíaco, após ser levada à delegacia para ser “convencida e educada”. Familiares da vítima negaram que Amini sofria de algum problema cardíaco e afirmaram que ela teria sido espancada durante o período que passou presa.
Após a morte de Mahsa, protestos explodiram nas 31 províncias do Irã e a repreensão das autoridades tomaram conta dos portais de notícias. Até o momento foi admitido pelo governo a morte de 300 durante as manifestações, mas a ONG Direitos Humanos no Irã estima que mais de 450 manifestantes e 60 agentes foram mortos desde o início dos atos.
Nos protestos, a maioria dos manifestantes são mulheres e estudantes que entoam gritos como “mulher, vida, liberdade”. O regime é frequentemente desafiado durante os atos, já que elas queimam os hijabs e cortar os cabelos em espaços públicos.
Para os próximos dias, os manifestantes organizaram uma greve geral e um novo protesto na Praça Azadi, uma das principais de Teerã. A manifestação está marcada para esta quarta-feira (7). No mesmo dia, Ebrahim Raisi, o presidente do Irã, deve discursar para estudantes.
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