“Jaguaretê-Avá: Pantanal em Chamas” é premiado no exterior

Imagem ilustrativa
Imagem ilustrativa
O filme é independente e trata sobre os incêndios no Pantanal

O documentário “Jaguaretê-Avá: Pantanal em Chamas”, do documentarista de natureza Lawrence Wahba, venceu o Prêmio Mérito de Sustentabilidade da 40ª edição do Wildscreen Festival, depois de concorrer com 700 produções de 38 países, e terá estreia internacional em Bristol, na Inglaterra, amanhã (14).

Ao longo dos últimos 30 anos, Lawrence Wahba fez dezenas de expedições ao Pantanal. A 44ª delas, em março de 2020, foi, no entanto, o início de um duplo pesadelo. Enquanto realizava as primeiras filmagens sobre as belezas do Pantanal, numa área remota da maior planície alagável do planeta, o diretor foi surpreendido com o anúncio de que a OMS (Organização Mundial da Saúde) havia decretado a pandemia de COVID-19.

Diante da “surpresa”, ele não viu alternativa, a não ser registrar o que presenciava. “Esse é o filme que eu gostaria de não ter feito. Eu não escolhi fazer esse filme, eu fui escolhido quando eu estava sendo evacuado da Serra do Amolar, por conta da declaração da pandemia, em março de 2020. Ao ser evacuado, eu vi aqueles incêndios em pleno pico da temporada cheia, incêndios esses que foram piorando cada vez mais.”

Ele afirma, ainda que, diante do cenário de tanta dor e tristeza, o que se passava por sua cabeça era mostrar aquela realidade, independentemente de qualquer outra coisa e sem se preocupar com o que viria depois. “Então, quando a gente faz um filme como esse, a gente não pensa em prêmio, a gente não pensa em nada, a gente pensa que é uma história – eu pensei –, que era uma história que tinha de ser contada, e eu estava lá, no lugar certo, na hora certa, ou no lugar errado, na hora errada… Fato é que eu estava lá e me senti na obrigação de contar essa história que aconteceu no Pantanal. E, mediante o tamanho da tragédia, da morte de 15 milhões de animais, de 29% do Pantanal ter sido queimado, o prêmio fica insignificante”, pontua.

Mas o desabafo do documentarista é facilmente compreendido quando ele detalha as circunstâncias que envolvem o assunto. “É um reconhecimento do trabalho, mas o que realmente significa um prêmio para a gente é ver que o Centro Veterinário do Instituto Homem Pantaneiro, na Serra do Amolar; o Centro Veterinário do Ampara Animal, na Rodovia Transpantaneira; a Brigada Alto Pantanal, na região da Serra do Amolar, e todo o treinamento e equipamento para a Brigada da ONG Panthera, na região do Porto Jofre, dois anos depois dos incêndios, continuam lá: todo mundo pronto, tudo a postos, tudo funcionando. Então, acho que o grande prêmio foi ter contribuído para a preservação do Pantanal, muito mais do que esse prêmio do festival – que é uma honra – mas não muda a minha vida”, explica.

De volta ao Pantanal em chamas

Já em casa, isolado e desolado com o que via a distância, em agosto, Wahba idealizou a formação de uma brigada de incêndio que logo contou com o crescente apoio de voluntários. De volta ao Pantanal – ainda – em chamas, ao se dar conta da dimensão da tragédia e do diminuto grupo destacado por órgãos governamentais para enfrentar o recrudescimento das queimadas, as maiores desde 2006, Wahba articulou novas frentes para ampliar as ações da brigada voluntária composta por ribeirinhos, pescadores, indígenas, fazendeiros, entre outros.

“A ideia de criar a Brigada Alto Pantanal foi minha, mas o personagem central para a sua construção foi o coronel Ângelo Rabelo, do Instituto Homem Pantaneiro. Empregamos ribeirinhos com experiência no combate ao fogo e que estavam sem trabalho em meio à pandemia. A brigada continua ativa e a gente tem muito orgulho porque, dois anos depois, esses ribeirinhos estão treinados, uniformizados e capacitados, com salário e carteira assinada. Quando tem incêndio eles fazem o combate; quando não tem, visitam comunidades, ajudam no manejo das roças e dão orientações sobre o uso do fogo”, orgulha-se.

Paralelamente ao serviço voluntário que realizava, com câmeras em punho e contando com a ajuda de outros cinco cinegrafistas – Thamys Trindade, Diego Rinaldi, Mike Bueno, Ernane Junior e Cesar Leite – para dar conta da dimensão das queimadas, Wahba era também tomado pela triste e amarga consciência de que o filme que planejava fazer no começo de 2020, baseado em uma série de registros sobre a exuberante beleza do Pantanal, ganhava agora o caráter de um testemunho de horror.

Concluído em 2021, “Jaguaretê-Avá: Pantanal em Chamas”, o impactante documentário que resultou dessa aflitiva missão, foi exibido pela primeira vez na grade do Globoplay em 12 de novembro, o Dia do Pantanal. O filme, que foi coproduzido pela Wahba Filmes e por Jefferson Pedace, segue disponível, com exclusividade, na plataforma de streaming da Rede Globo.

“Jaguaretê-Avá” não é uma experiência fácil. E faço um destaque especial ao Marco Del Fiol e à Tatiana Lohmann, diretores de documentários mundialmente reconhecidos e premiados, que foram os montadores. Por causa deles, digo que o filme tem praticamente três diretores. Por duas semanas depois da estreia, o documentário foi o mais visto no Globoplay. Recentemente, quando algumas imagens dos incêndios foram usadas na novela Pantanal, voltou a subir o número de pessoas querendo assistir ao filme”, comenta o diretor, às vésperas de vivenciar um momento de celebração aos seus 30 anos de apaixonada dedicação à causa ambiental.

Bristol

Nessa sexta-feira (14), “Jaguaretê-Avá: Pantanal em Chamas” enfim chega ao público internacional, quando será exibido em Bristol, na Inglaterra, na programação do Wildscreen Festival, a mais importante mostra de filmes documentais sobre natureza e meio ambiente, que tem como convidados confirmados os cineastas James Cameron, Darren Aronofsky e a ex-secretária-executiva da Convenção do Clima da ONU, Christiana Figueres – o simples anúncio da premiação especial do documentário no Wildscreen Festival tem chancelado a relevância do filme, trazendo efeitos positivos para uma promissora carreira internacional do documentário.

“Acabo de dar entrevista para um jornalista da BBC, e o que ele falou do filme me deixou meio tonto. Foi só elogios. Outros festivais de cinema do mundo e distribuidores internacionais estão me procurando. Minha expectativa é de que esse prêmio possa ser uma alavanca para a gente espalhar a mensagem do filme. E vale dizer que uma grande porcentagem do que a gente arrecadar com a venda internacional do filme será doada. Quanto mais a mensagem se espalhar, mais a gente conseguirá manter as brigadas e os centros veterinários no Pantanal”, defende.

Sobre Lawrence Wahba

Lawrence Wahba, 53 anos, é documentarista de natureza, apresentador de TV, fotógrafo, mergulhador e autor. Vencedor do Emmy, seus documentários, filmados em todos os continentes e oceanos, foram exibidos em 160 países, em canais como NatGeo, Smithsonian, Discovery, entre outros.

Para a TV brasileira produziu mais de 600 matérias, apresentou programas no GNT, NatGeo e Discovery, além do quadro “Domingão Aventura”, no programa então liderado por Faustão na Rede Globo. Em 2017, lançou nos cinemas “Todas as Manhãs do Mundo”, seu primeiro documentário.

Por Méri Oliveira – Jornal O Estado de MS.

Leia a edição impressa do Jornal O Estado de MS.

Acesse as redes sociais do O Estado Online no Facebook Instagram.

Veja também:

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *