Acusado pela morte de Marielly, ex-cunhado nega ser o pai da criança que esperava

Julgamento caso marielly
Imagem: Reprodução/Nilson Figueiredo
Réu Hugleice da Silva afirma que recebeu ameaças dentro de unidade penitenciária

Por Rafaela Alves e Michelly Perez – Jornal O Estado do MS

O ex-cunhado da jovem Marielly Barbosa, Hugleice da Silva, e o enfermeiro Jodimar Ximenes Gomes foram julgados desde as primeiras horas de ontem (15), no Fórum de Sidrolândia, a 70 km de Campo Grande. Emocionados, o pai da vítima, Marcos Rodrigues, uma tia paterna e um primo acompanharam o júri que contou com depoimento da irmã de Marielly e de testemunhas.

Segundo informações repassadas pelo advogado José Roberto da Rosa, que defende Hugleice da Silva, ele teria recebido um pedido da então cunhada, Marielly, e acabou trazendo ela, após fazer contato com Jodimar, para que fosse realizado o aborto. Era uma pessoa com quem tinha muito contato, e segundo consta ela pediu ajuda e, no dia agendado, ele a trouxe para realizar o procedimento. Após receber ameaças na delegacia, ele teria mudado o depoimento.

“No primeiro depoimento dele na época do inquérito ele acabou dizendo que teve uma única relação com ela em um determinado dia e, posteriormente, trouxe já em juízo que ele teria sido coagido pela polícia e então trouxeram uma história pronta e ele teria dito isso. Precisamos separar as coisas, uma coisa é ele ter sido coagido, até por que nós como advogados não ficamos 24 h com os acusados, e Hugleice ficou 30 dias preso na cela da DERF”, pontuou o advogado, que ainda destacou que ao longo da investigação apareceram advogados, filhos de políticos, pessoas que teriam supostamente se relacionado com ela. Quando o corpo foi encontrado, não foi possível obter a prova de DNA que pudesse confrontar com o material genético de Hugleice.

Em plenário nesta quinta-feira (15), Hugleice confessou que nunca teve nenhum tipo de relacionamento, mas que levou Marielly no dia 21 de maio de 2011 para cometer o aborto com Jodimar Ximenes. Ele também negou a participação no procedimento, bem como a paternidade do filho que ela esperava. Segundo ele, após pagar uma quantia em dinheiro, o enfermeiro teria informado que o procedimento seria rápido, contudo, após alguns minutos ele teria chamado Hugleice, que já encontrou Marielly sem vida e, após isso, a dupla teria levado o corpo da jovem para a região onde foi desovado e localizado posteriormente.

“Ela não queria que a gravidez fosse para a frente. Acertei o valor em um dia que passei pela cidade. Ele me disse que o procedimento era bem rápido e sem risco e duraria no máximo 40 minutos. Passou meia hora me chamou. Ela estava deitada em uma maca e o lençol cheio de sangue. Eu nunca tive nada com ela. Eu não era o pai. Nunca tive envolvimento dessa forma com minha cunhada. Ajudei porque era muito próximo dela e dei apoio”, pontuou ao juiz Claudio Pareja.

Desconhecido

Um dos depoimentos que chamaram a atenção de quem acompanhava o julgamento foi o da irmã de Marielly, Maiara Bianca Barbosa Rodrigues, irmã mais velha. Ela prestou depoimento por videoconferência como testemunha e destacou que vivia em um relacionamento de dependência emocional. Após a morte da irmã e mesmo com as acusações da participação do seu até então marido, ela se mudou para Mato Grosso, porém os episódios de violência permaneceram. Até que em 2018, Hugleice atentou contra a sua vida, desferindo um golpe de faca no pescoço, pelo que foi condenado a 12 anos e 3 meses de reclusão em regime inicial.

“Sofri tentativa de homicídio. Ele cortou meu pescoço, foram 39 pontos, mas graças a Deus eu sobrevivi, diferente da minha irmã, eu não sei quem é essa pessoa [Hugleice], eu vivi uma dependência emocional, eu não conseguia enxergar quem convivia comigo. É assustador e eu espero que ninguém mais passe o que nós passamos”, pontuou Maiara aos prantos, que ainda afirmou que Hugleice sempre negou para ela o crime e só soube do possível envolvimento de ambos pela mídia. Durante o depoimento de Maiara, Hugleice também se mostrou emocionado.

O advogado David Olindo, que faz a defesa de Jodimar, aproveitou o depoimento de Maiara e questionou se ela acredita que Hugleice também seria capaz de ter matado a sua irmã. E ela respondeu: “Pelo que passei, eu não duvido”.

Enfermeiro nega aborto

Em contrapartida, antes de o julgamento começar, David Olindo, advogado de defesa de Jodimar Ximenes, revelou que o seu cliente manteve a negativa de participação no crime e que nunca alterou a sua declaração. Além disso, destacou que os crimes, já foram prescritos e que não foram localizadas amostras de DNA que confirmem a realização do procedimento.

“Meu cliente durante toda a instrução penal, nega a participação com contundência, nunca mudou a versão e quando a defesa só tem a negativa de autoria e vou negar a autoria, uma vez, que não se encontrou o feto. Era um feto de mais de cinco meses, então já tinha formação de esqueleto. Ele sempre foi uma pessoa discriminada, se não acreditasse nele não estaria defendendo ele”, pontuou o advogado, que ainda destacou que os crimes já prescreveram após os 11 anos.

Durante o depoimento, Jodimar Ximenes, assim como já adiantado pela sua defesa, manteve a declaração de que não conhecia a vítima e de que não realizou o aborto, nem mesmo conhecia o seu cunhado Hugleice, além disso, sobre a possibilidade de ele atuar com a prática de abortos irregulares, destacou que todos os equipamentos apreendidos em sua residência eram utilizados, na verdade, para a função de manicure e pedicure. “Desconheço os dois, nunca tive contato [com Marielly e Hugleice]”, afirmou.

Contudo, ainda durante a tarde de quinta (15), o juiz Claudio Pareja contou para as equipes da imprensa que a tese apresentada por ambas as defesas sobre a prescrição dos crimes não procede nem para as acusações de aborto com morte, nem na ocultação de cadáver.

Bala foi peça-chave para o trabalho da perícia

O julgamento também contou com a declaração da investigadora Maria Campos, que liderou as investigações da polícia em 2011. Ela cita que um dos fatores que a auxiliaram em suspeitar de Hugleice foi o fato de ele insistir em oferecer uma bala, da marca Halls, durante os trabalhos da polícia. Tudo isso, pois, após a identificação do corpo em um milharal, a equipe coletou diversas embalagens da mesma bala, próximas da vítima.

Além disso, após ser informado da confirmação da localização do cadáver, ele teria indagado à equipe policial sobre acessórios que possivelmente a vítima estaria utilizando. Até o fechamento da edição impressa do O Estado, o juiz ainda não tinha comunicado a sentença dos réus.

Veja mais sobre o julgamento: Caso Marielly; Julgamento revela que cunhado da vítima manipulava a família

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