Documentário “Depois do Fogo” é indicado para premiação na Alemanha

Foto: Divulgação
Foto: Divulgação

Por Méri Oliveira – Jornal O Estado MS

O documentário “Depois do Fogo”, dos cineastas Marco Carvalho e Marcelo D’Ávila, foi indicado esta semana para a seleção do Return International Film and Art Festival, que será realizado em outubro, em Weimar, na Alemanha, após outras indicações para festivais na Colômbia e no Brasil. O projeto, que de forma despretensiosa mostrou a situação do Pantanal após os incêndios de 2020, está cruzando fronteiras, alcançando olhares e tocando o coração e a consciência de pessoas ao redor do mundo.

Marco conta que o objetivo com esse trabalho era fazer um recorte transparente daquela realidade, a fim de que ela pudesse ser vista por pessoas que talvez nunca possam ir até lá. “É um documentário sobre o ano seguinte aos incêndios de 2020. São pessoas com dilemas, sonhos e medos reais, literalmente abrindo suas casas e verbalizando os sentimentos de quem viu o fogo de perto.”

O cineasta conta que esteve em Corumbá e Ladário antes de gravar “Depois do Fogo”, e que esse foi um dos motivos para gravar o documentário, mostrando as mudanças causadas pelo fogo no local e na vida das pessoas, fatos que o deixaram impactado. “Ir com uma imagem construída na minha mente, e me deparar com pessoas que já haviam sido profundamente modificadas pela tragédia que viveram, e que, em alguns aspectos, já não se pareciam tanto com suas ‘versões pré-incêndios’ que conheci anos antes é uma sensação estranha, uma mistura de nostalgia, tristeza, mas também um tipo de alívio por saber que, de algum modo, todos seguiram em frente”, afirma o cineasta.

Experienciando o Pantanal

Para Marcelo D’Ávila, também cineasta e coprodutor do filme, alguns momentos do trabalho foram percebidos pelas lentes da empatia. “Foi impressionante e comovente ao mesmo tempo, a destruição feita pelo fogo ainda era bem visível e a escassez da chuva formava pequenas praias no rio. Mas creio que a parte mais marcante foram os depoimentos: dava para sentir o sofrimento no olhar dos ribeirinhos, foram momentos muito delicados”, relembra o produtor.

D’Ávila também explica que participar da produção de “Depois do Fogo” teve um sabor diferente, em comparação com o trabalho anterior que fez com Marco. “Eu e Marco Carvalho já havíamos trabalhado juntos em um outro curta dele sobre o Pantanal, chamado ‘Baía Negra’. Neste eu fiz a pós-produção do áudio, não havia estado presente no local, então o ‘Depois do Fogo’ foi muito mais imersivo: poder estar em todas etapas do projeto e conversar com as mesmas pessoas que deram depoimento no ‘Baía Negra’ anteriormente foi incrível”, relata o produtor.

Desafios

A produção também foi marcada por desafios, desde a logística, que inclui o tempo de viagem de Campo Grande a Corumbá e do hotel até as locações, até o baixo orçamento. “É um período bastante curto quando pensamos em toda logística de deslocamento do hotel até a região das filmagens, toda a montagem do set, preparo de câmera, tripés, luz, áudio, as entrevistas e captações, e depois a desmontagem de tudo isso, para começar tudo outra vez na próxima casa. Com orçamento maior, poderíamos permanecer por mais tempo, ter uma equipe maior, e consequentemente teríamos um resultado diferente.”

Outros desafios foram câmeras e gravadores pararem de funcionar por causa de superaquecimento e, ainda, imprevistos com as fontes. “O processo de produção de documentários nesse contexto exige muita criatividade e capacidade de se adaptar ao que não estava nos planos, porque nesse cenário, o imprevisível é bastante previsível.”

Festivais

O trabalho feito está entrando em várias seleções para festivais internacionais de cinema, o que Marco define como uma alegria incomensurável. “Esta semana recebemos a notícia da seleção oficial para o Return International Film and Art Festival, que acontece em outubro na cidade de Weimar, na Alemanha, mas antes disso, já havíamos sido selecionados para mais quatro festivais, dois da Colômbia e dois nacionais, com destaque para o Festival Guarnicê de Cinema, o quinto festival de cinema mais antigo do Brasil”, conta.

Com isso, o intento de Marco – que envolve, principalmente, a conscientização –acaba por se cumprir a contento: “Como eu costumo dizer, o objetivo é alcançar sempre mais pessoas. Fazer com que as histórias contadas no documentário possam atingir positivamente quem assistir e, quem sabe, com uma boa dose de otimismo, gerar algum tipo de transformação na consciência social e ambiental de algumas pessoas”.

Expectativas

Sobre ter trabalhado nesse projeto e as expectativas relacionadas a ele, os profissionais ficam entre a gratidão e a esperança. “Foi uma fatia muito bonita e especial da minha vida, e torço para que também tenha sido para todas as pessoas envolvidas nesse trabalho. Claro que eu quero que o filme possa alcançar o mundo, mas se ao menos uma pessoa for atingida positivamente, se ao menos uma pessoa for tocada verdadeiramente pelo que contamos com essa história, nossa missão já estará cumprida”, afirma Marco.

Marcelo, também tomado pelo sentimento, dispara: “É muito gratificante poder mostrar para o mundo as coisas que acontecem por aqui, saber que nosso trabalho está andando por aí, levando sua devida mensagem sobre esse assunto tão importante é muito legal. Espero que o filme continue chegando a mais e mais pessoas, e que possa conscientizar na preservação do Pantanal, que é um bioma único no planeta”.

Trajetória

Marco Carvalho é de São Paulo, formado em Rádio e TV e é produtor de audiovisual há dez anos, e desde a adolescência seus sonhos se dividiam entre jornalismo esportivo e filmagem de vida selvagem. “Depois optei pela vida de autônomo, quando tive oportunidade de produzir meu primeiro documentário: ‘Baía Negra – Vidas do Pantanal’. Em 2019 entrei em uma produtora de São Paulo chamada Gutierre Filmes, e lá dediquei a maior parte do meu tempo profissional desde então.”

Marcelo D’Ávila trabalha com produção e pós-produção de áudio para cinema, games e publicidade há mais de dez anos. “Morava em São Paulo quando tudo começou, foi lá que conheci alguns dos meus grandes parceiros e clientes que trabalho até hoje, agora já estou fixo em Campo Grande há quase três anos”, finalizou D’Ávila.

Leia a edição impressa do Jornal O Estado do MS.

Acesse as redes sociais do O Estado Online no Facebook Instagram.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *