JOÃO PEDRO PITOMBO
SALVADOR, BA (FOLHAPRESS) – A Prefeitura de Salvador confirmou nesta quarta-feira (5) o cancelamento da Lavagem do Bonfim, festa religiosa que costuma reunir cerca de um milhão de pessoas nas ruas da cidade.
Em uma rede social, o prefeito Bruno Reis (DEM) justificou a medida afirmando que houve aumento dos casos de COVID-19 e de gripe na cidade. “Não podemos dar margem para ampliação dos números de casos de infecção em nossa cidade. Precisamos ter a consciência e a responsabilidade na preservação das vidas”, afirmou.
O Carnaval de rua de Salvador já havia sido cancelado pela prefeitura e governo do estado nas últimas semanas. A tendência é que as demais festas populares, com a Festa de Iemanjá e Lavagem de Itapuã também não aconteçam em 2022. Festas privadas com até 5.00 pessoas, contudo, estão mantidas, inclusive no período carnavalesco e da própria Lavagem do Bonfim, que aconteceria no dia 13 de janeiro.
Este é o segundo ano consecutivo que não haverá o cortejo de 6,4 km entre a Basílica da Conceição e a Basílica do Bonfim, tradição que se renova na capital baiana há 249 anos. No ano passado, o cortejo deu lugar a uma missa transmitida pela internet e pelo desfile em carro aberto da imagem peregrina pelas ruas da cidade.
A Lavagem do Bonfim é uma das mais tradicionais do calendário de festas populares da Bahia. É marcada pelo sincretismo do culto a Oxalá, no candomblé, e ao Senhor do Bonfim, no catolicismo. Mas vai além da religião. Também tem o seu lado profano de festas e desfiles acompanhados de bandas de sopro e percussão, protestos e serve como termômetro de políticos em ano de eleição.
A festa começa com a celebração e um ato ecumênico no adro da Basílica da Conceição da Praia. Dali, a imagem do Senhor do Bonfim parte para o cortejo no andor em cima de uma camionete, na qual percorre o trajeto até a Basílica do Bonfim, onde baianas fazem a lavagem das escadarias e do adro da igreja.
A devoção ao Senhor do Bonfim foi iniciada na Bahia há 278 anos. A imagem peregrina veio de Setúbal, em Portugal, e atravessou o oceano Atlântico em 1745 para cumprir uma promessa do capitão Theodósio Rodrigues de Faria.
As homenagens ao Senhor do Bonfim começaram em 1754, quando a imagem peregrina foi transferida da Igreja da Penha, em Itapagipe, para a Igreja do Bonfim, construída na Colina Sagrada.
A tradição do cortejo começou em 1773, iniciada por romeiros e escravos que, a mando dos senhores integrantes da Irmandade do Senhor do Bonfim, limpavam e enfeitavam a igreja para a missa. Ela se repete há 249 anos, sempre na segunda quinta-feira após a festa do Terno de Reis.