“Inferno” marca quem se arrisca para tentar salvar Pantanal

“Do alto, o que antes era verde, virou cinza. Ao pousar e iniciar o trabalho de campo, a realidade se torna mais dura. A fumaça, o cheiro de queimado, o semblante de exaustão de quem está todo dia convivendo com aquilo, lutando contra aquilo. Não há sorrisos. Há tristeza e preocupação.”

Quando a bióloga Neiva Guedes, líder do Instituto Arara Azul, voltou para Campo Grande após passar uma semana avaliando os impactos do incêndio, encontrou esperança pela sobrevivência da fauna local. Mas ponderou quanto à situação de voluntários e bombeiros que estão no Pantanal para ajudar a controlar
os incêndios. “Não está fácil para eles”, disse.

Não mesmo. Há mais de três meses em campo, as queimadas recordes deste ano levaram a rotina, que, via de regra, já era de grande desgaste físico e mental aos brigadistas no passado, à completa exaustão.

O Pantanal chegou a 23% de sua área destruída pelo fogo. Somente em Mato Grosso do Sul, foram 1,8 milhão de hectares queimados. Somente nesses primeiros dias de outubro, MS registrou 990 focos de incêndio, segundo dados do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais). De agosto até agora, foram 6.595 focos no Estado.

O combate ao fogo na região tem uma série de particularidades, entre elas uma espécie de “fogo subterrâneo” que queima despercebido até que emerge para a superfície. As secas e cheias que marcam a estação vão criando camadas de matéria orgânica no solo. É como se fosse um sanduíche: uma camada de terra, outra de vegetação, outra de terra, e por aí vai. Às vezes, o fogo consegue atingir uma dessas camadas mais profundas, ricas em matéria orgânica e altamente inflamáveis, e vai se espalhando por baixo da camada mais superficial da terra até encontrar alguma fissura e uma vegetação mais seca para emergir.

Outro inimigo dos brigadistas é o vento, que às vezes muda subitamente de direção e leva o fogo junto. E às vezes isso acontece depois de um longo dia de trabalho, quando eles levaram horas fazendo os chamados aceiros: a retirada de uma faixa da vegetação para tentar brecar o avanço do fogo.
Há seis anos, o corumbaense Washington Rojas, 24 anos, deixa a rotina de técnico em refrigeração e encanador para assumir um posto de brigadista do fogo. Assim como ele, outras 89 pessoas se reúnem com renumeração de salário-mínimo para ajudar no combate às queimadas. O problema é que este ano a situação saiu do controle.

 

(Texto Rafael Ribeiro)

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