“Não sou só cabeleireiro, aqui a gente muda vidas”, diz Renato Gomes
Vencer desafios, superar obstáculos, se aperfeiçoar e perseverar. Essas são algumas das etapas da trajetória do cabeleireiro e colorista sul-mato-grossense Renato Gomes. Eleito como Melhor Especialista em Mechas de Campo Grande, em 2023, e Cabeleireiro destaque de Mato Grosso do Sul, em 2024, o profissional relembra o começo da carreira como conseguiu ultrapassar as dificuldades ao longo do caminho.
A paixão pela transformação capilar surgiu cedo. “Comecei a fazer cabelo aos meus 15 anos. Lembro que ia com a minha mãe no salão que tinha na rua de casa e ela tem um cabelo bem cacheado, e fazia escova toda semana. E acompanhando ela, via essa transformação, e pensei: ‘quero fazer isso'”, relembra. O sonho ganhou força e, com o primeiro salário, ele investiu em um secador e uma chapinha para cuidar dos fios da própria mãe. “Ali foi um começo”.
Com a popularização da internet e das redes sociais, buscou aprimoramento. “Chegou a era da internet, do YouTube e comecei a pesquisar sobre cabelo. Nisso, melhorei e mais pessoas da família viram e pediram para fazer”. O fim de semana se tornou um espaço para os alisamentos, e o desejo de crescimento profissional era latente. “Eu via esses profissionais de renome e sonhava em chegar lá. Aprendi a fazer progressiva, escova, tudo pela internet, de forma autodidata”.
Mesmo conciliando o trabalho em outras áreas, o universo da beleza o chamava de volta. “Trabalhava de segunda a sexta-feira. Mas, por mais que trabalhasse em outras áreas, sempre voltava a fazer cabelo”. Sem recursos para grandes investimentos, propôs parcerias.
“Minha amiga, mãe já foram modelos. Como não tinha muitas condições, combinava delas trazer o produto e eu oferecia a mão de obra. Comecei a atender a domicílio, às vezes ia até de ônibus atender as clientes, e assim foi”. Ainda com o apoio das redes sociais, ele alavancou o próprio nome no ramo da beleza. “Criei meu Instagram para montar um portfólio, para ser visto por algum profissional ou salão”. A iniciativa deu frutos, e Renato conseguiu encontrar, pelo menos de forma temporária, algo fixo.
A experiência em salões trouxe aprendizado e desafios. “Trabalhei como auxiliar, onde aprendi muito, mas só ganhava R$ 50 na diária”. No entanto, cada erro se tornou uma oportunidade. “Eu já errei muito, mas usei todos os meus erros como um impulso para melhorar”.
Evolução
Um dos sonhos de Renato era ter o próprio salão. A primeira oportunidade de empreender veio com uma sociedade em 2019. “Uma amiga apareceu e me ofereceu uma sociedade. Eu trabalhava para mim, para o salão e para ela, e o que entrava dividíamos por três”. Mas a pandemia trouxe incertezas. “Quando montamos o salão veio a pandemia, e a cidade entrou em isolamento social e eu não tinha uma estabilidade financeira. Ali, me vi mais uma vez sem saída, sem ter para onde ir”. Três meses depois, foi necessário fechar as portas. “Dividimos todos os produtos do salão, e ali tive um pensamento: fazer o salão em casa”.
Com o apoio da mãe, improvisou um espaço. “Na sexta-feira já pedi para a minha mãe tirar as coisas de um cômodo e ali foi o meu salão, tinha uma cadeira, um espelho, lavava o cabelo no tanque”. No sábado, a primeira cliente apareceu. “Ela atravessou a cidade só para fazer o cabelo comigo. Ela é minha cliente até hoje”.
Mesmo com todas as adversidades enfrentadas, Renato não pensava em desistir. “Nunca tive vergonha de recomeçar, se precisarmos voltar para o ponto de partida, volta, não tenham medo. Tenho medo de não tentar”. Após a pandemia, o profissional atendeu em casa por cerca de dois anos, período onde consolidou sua clientela. “Não sou só cabeleireiro, aqui a gente muda vidas, temos nas nossas mãos o papel de ajudar a mudar uma história, de elevar uma autoestima e é isso que tenho feito, com muito amor, carinho e dedicação”.
Reconhecimento
Renato destaca que a profissão permitiu que mudasse o rumo da família, principalmente da mãe, primeira e maior apoiadora da carreira do filho. “Minha mãe tem muito orgulho das minhas reações. Cada vez que saímos juntos, para jantar, por exemplo, ela fala para todos que sou cabeleireiro”. O trabalho transformou também a realidade da casa. “No começo, ela era diarista, e assim que comecei a ter lucro, ela parou de trabalhar”.
A profissão, que antes não era tão valorizada, agora o conecta a clientes do mundo todo. “Antigamente, essa não era uma profissão muito valorizada. Hoje em dia tenho clientes que têm o sonho de fazer o cabelo comigo, atendo pessoas até da Europa. É muito gratificante ver o agir de Deus, e ainda tem muita coisa boa para acontecer”.
Para ele, cuidar dos cabelos vai além da estética. “Hoje em dia o cabelo não é só algo externo, tem algo interior nele, e você, como profissional, vai tirar de dentro para fora”. O trabalho é também um gesto de acolhimento. “Às vezes você faz o cabelo de alguém, e não sabe o que essa pessoa passou na vida. Quando termina e tem aquela lágrima de alegria por ver a mudança, é algo que me inspira a continuar, a saber que esta proporcionando essa mudança, fazer parte disso”, reflete.
“Não sabemos como a cliente saiu de casa, e o nosso papel é mudar essa energia. Às vezes ela esta triste, procurando algo para deixá-la bem, mas não sabe o que, e desconta no cabelo, seja cortando em casa ou indo no salão. É preciso saber filtrar, trabalhamos com um mix de emoções, e saber lidar com elas é o nosso papel, ser um pouquinho de psicólogo”.
Com experiência em técnicas como Soft Blond e Soft Iluminado, ressalta a importância da honestidade com os clientes. “O cabelo da internet é um e o da cliente é outro”. A transparência guia seu trabalho. “Faço a avaliação, teste de mechas, e de acordo com isso irei trabalhar a cor o mais próximo do que ela quer. Cada cabelo é de um jeito”.
Com um olhar atento para as tendências e um coração voltado para as histórias que encontra em sua cadeira, segue transformando vidas, uma mecha por vez.
Serviço: Renato atende na Gomes Beauty, rua Padre João Crippa, 1833. Agendamentos por meio do link.
Por Carolina Rampi
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