Mari Ferrer terá recurso julgado nesta quinta após ser humilhada em audiência

Crédito: divulgação
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“Take me back to my happy days”: leve-me de volta aos meus dias felizes, em português. Dois meses atrás, a influenciadora digital Mariana Ferrer, 24, publicou uma série de imagens dela na infância. Na última, está com sua mãe, Luciene, no bate-bate de um parque de diversões na cidade natal das duas, Uberaba (MG).

Postou a legenda em inglês e, na sequência, escreveu: “Para as sobreviventes que não têm a família completa ou não têm o apoio da mesma, saibam que eu acredito em vocês. Eu estou com vocês, e juntas formamos um exército imbatível de Deus”.

Nesta quinta (7), desembargadores catarinenses deverão julgar um recurso apresentado por seu advogado após o juiz Rudson Marcos aceitar, em setembro de 2020, a argumentação da defesa e do Ministério Público local de que não houve dolo na ação de André de Camargo Aranha, 45. Seu estuprador, como concluiu um inquérito da Polícia Civil.

O caso gerou uma campanha, #JustiçaPorMariFerrer, não só pelo que aconteceu com a jovem no clube de luxo Cafe de La Musique, em Florianópolis, mas também no julgamento da primeira instância.

Após ter sido dopada e violentada, de acordo com testemunhas e provas periciais, ela foi humilhada em juízo. Para emplacar a tese de que o sexo com Aranha foi consensual, o advogado do réu, Cláudio Gastão da Rosa Filho, mostra uma imagem da modelo que, segundo ele, foi extraída do site de um fotógrafo.

Ele destaca que, entre retratos de várias mulheres, a única foto “chupando o dedinho é essa aqui, e com posições ginecológicas”.

Gastão Filho diz que Ferrer manipula a história de ser virgem, o que ela era antes daquela noite em Floripa. “A pessoa que é virgem, ela não é freira, não, doutor. A gente está no ano de 2020”, responde a jovem sobre a insistência do advogado em exibir a fotografia, a seu ver, libidinosa.

“Jamais teria uma filha do teu nível e também peço a Deus que meu filho não encontre uma mulher que nem você”, afirma também o defensor.

Em outro momento, Ferrer acusa o advogado de cometer assédio moral contra ela. “O senhor tem idade para ser meu pai, tinha que se ater aos fatos”. Ele: “Não dá para dar teu showzinho. Teu showzinho você vai lá dar no seu Instagram depois, para ganhar mais seguidores. Você vive disso”.

Ferrer então chora na audiência virtual conduzida no primeiro ano da pandemia. “Não adianta vir com esse teu choro dissimulado, falso e essa lágrima de crocodilo”, intervém Gastão Filho. Ela então rebate: “Eu tô implorando por respeito, no mínimo. Nem os acusados, nem os assassinos são tratados da forma como eu tô sendo tratada. Pelo amor de Deus, gente”.

As sequelas daquele dia, somadas à do estupro que diz ter sofrido há quase três anos, persistem. Ferrer não trabalha mais e tem síndrome do pânico com frequência. O jornal teve acesso a laudos psiquiátricos da influencer. Um de 2019 fala em estresse pós-traumático, depressão e privação de sono. Outro mais recente, do ano passado, sugere “acompanhamento médico regular” da paciente.

Sua mãe prefere resguardar a filha na véspera do tribunal. Em nota enviada à Folha, a família de Ferrer e sua equipe jurídica dizem apenas estar “confiantes nos desembargadores do Tribunal de Justiça de Santa Catarina, que, de forma técnica e justa, analisarão todas as provas e farão justiça por uma vítima de estupro de vulnerável, sendo eles instrumentos de Deus aqui na Terra”.

Hoje a conta no Instagram de Mari Ferrer, seguida por 2,5 milhões, só tem 25 publicações. A maioria faz referência ao estupro que sofreu em dezembro de 2018, num dos beach clubs mais famosos da capital catarinense, o Cafe de La Musique. Mas ela não se coloca apenas como vítima. Cobra por justiça pelo que lhe aconteceu.

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