Loteado pela primeira vez há 56 anos, o bairro Jardim Noroeste mais é conhecido por abrigar o Instituto Penal de Campo Grande. Apesar de muitas vezes esquecida, a região coleciona histórias daqueles que desbravaram o local, e acompanharam juntos, o crescimento e a chegada das infraestruturas básicas no bairro.
Apesar de possuir décadas de existência, a região passou a ser habitada em 1989, quando quatro famílias resolveram acreditar, e começaram a povoar a região que anos atrás chegou a ser conhecida como “Jardim Faroeste”. No início, faltava o básico para os moradores. Sem água encanada e sem energia elétrica, a situação não foi nada fácil.
Um dos primeiros moradores do Jardim Noroeste, Carlos Alberto de Oliveira, 54, e sua esposa, Mara Teresinha Frey de Oliveira, 54, relatam que para ter o básico, foi necessário muito esforço. “Quando nós mudamos para cá, não havia nada, nem água, nem luz, nem rua, foi necessário muita garra e esforço para conseguir trazer as coisas”, contou Carlos. Foram mais de 10 anos sem infraestrutura, sendo necessário, viver de ‘gatos’. “Nós até corremos atrás de iluminação, água, mas no início ninguém respondia a gente. Com isso nós precisamos fazer puxadinhos, nós tínhamos que pegar a água com mangueiras, que ligavam a encanação até em casa, nisso era necessário abrir uma vala, e tapar com a terra, porque se ficasse a vista, o pessoal levava a mangueira embora”, relatou Mara.
As coisas começaram a mudar quando as moradoras se uniram em 2002 e começaram a buscar as mudanças, que começaram a chegar de fato em 2005. Mara conta que André Puccinelli, prefeito da cidade na época, a chamava de “Polaca Doida” pela sua insistência e persistência por transformações.
“Nós insistimos muito. O grupo de mulheres começou em 2001/02, e a partir dai nós nos unimos e partimos para cobrar o poder público, com isso as mudanças foram chegando aos poucos. Primeiro foi a água e a luz, depois a linha de ônibus no bairro, que antes eram só duas vezes por semana, na BR, nós tivemos que parar os circulares, até que a Assetur veio aqui e nós construímos a rota do ônibus”, contou Mara. O mesmo ocorreu para conseguir a iluminação pública. Antes eram postes de eucalipto, que não continham luz, após isso, foram trocadas pela estrutura existente, que ilumina as ruas da região.
Para o mecânico, Thiler Lenos, 58, morador da região há 18 anos, as reformas foram importantes, livrando parte da região do areião, já que com a chegada do asfalto, a poeira nas ruas foi levemente controlada. “A região está crescendo bastante, hoje, nós já conseguimos realizar quase tudo aqui no bairro, que tem mercado, borracharia, farmácia, a única coisa que falta para a região é uma lotérica, que ai vai facilitar para os moradores, nós vamos conseguir pagar as contas por aqui mesmo, o que facilitaria muito a vida da gente”, assegurou Thiler.
Escoteiros do Jardim Noroeste
Com o desenvolvimento do Jardim Noroeste, foram chegando novas famílias, e consequentemente muitas crianças passaram a circular pela região. Pensando em criar um ambiente que prestasse apoio a essas famílias e disponibilizasse um local onde o lazer estaria ligado a educação, surgiu o Grupo de Escoteiros Mário Dilson 35ª/MS. Juntos, Carlos Alberto, Mara Teresinha, Leize Demétrio e o Sargento Freitas desenvolveram o projeto e inauguraram o GE em 2011. A diretora-presidente, Denize Benteu, 49, também participou da fundação, e hoje comanda o movimento. “Anos atrás, a realidade dos jovens aqui era outra, nós tínhamos muitos usuários de droga, filhos de presidiários, e crianças das famílias que moravam no ‘lixão’. Hoje a situação melhorou um pouco, claro, ainda existem casos assim, mas nós estamos trabalhando para mudar isso”, destacou.
O atual grupo, possui cerca de 50 crianças e 27 adultos, que juntos trabalham de forma solidária, para manter aberta as portas da instituição, que ocasiona mudanças efetivas nas vidas das crianças. “Dos primeiros que começaram em 2011, eu posso dizer que nós conseguimos formar cidadãos. Hoje, muitos meninos que passaram por aqui estão no Exército e se destacaram, outros estão formados, enfermeiros, jornalistas. Nós conseguimos mudar a perspectiva de vida desses jovens, apesar da realidade em que eles vivem”, frisou Denize. O projeto tem como objetivo a continuidade, para que com o tempo, aqueles que passaram pelo GE assuma aos poucos as rédeas das ações e as conduza aos longos dos anos.
A ação do projeto transforma a vida das famílias. A mãe, Ângela dos Santos, 29, conta que após a entrada da filha, Nathalia Brenda, 9, no projeto mudanças no comportamento dela foram perceptíveis. “Ela melhorou em casa, se tornou mais proativa, deixando de reclamar e passando a me ajudar ainda mais nas coisas de casa. Eu nunca tive que reclamar dela na escola, mas tenho certeza que isso melhorou também, ela está mais calma e fica animada para a chegada do sábado, que é o dia em que ocorre os encontros aqui”, disse Ângela.
Crianças que esperavam CEU, já estão adultas
O CEU (Centro de Artes e Esportes Unificados) do bairro teve previsão inicial de término para 2013, mas após seis anos, a situação se encontra ainda pior. Parte dos materiais que se encontravam no local foram levados e os moradores do entorno já deixaram de acreditar que a obra será retomada.
As grades que fechavam o local foram derrubadas e para aproveitar a sombra e o local calçado, crianças e adolescentes brincam livremente por lá. Um morador, de 20 anos que preferiu não se identificar, relatou que faz falta uma área de lazer na região e conta que chegou a ter esperança que a praça ficasse pronta quando ainda tinha 14. “Os meninos ficam ai, jogando na calçada e para eles está bom, mas o certo seria ter a obra pronta, para toda essa garotada. Aqui a região está esquecida pelo Poder Público, há anos nós não vemos melhorias e o que seria o único ponto de lazer segue abandonado”, relatou.
(Amanda Amorim)