Desmobilizada, paralisação dos caminhoneiros acaba sem convencer motoristas da categoria

Manifestações de caminhoneiros
Foto: Reprodução/Isto É Dinheiro

Para integrantes da classe, movimento deveria ampliar discussão sobre reais necessidades do segmento

Um comunicado da Polícia Rodoviária Federal, às 16h36 de ontem (10), confirmou o fim da paralisação dos caminhoneiros em Mato Grosso do Sul. Encerrada menos de quatro dias após ser iniciada, com só 40 horas concretas de bloqueio, a manifestação, que penou com a falta de mobilização, foi considerada fracassada pela categoria por não atender os anseios reais e sim defender as pautas do presidente Jair Bolsonaro (sem partido).

“O que voto impresso vai mudar minha vida? O que derrubar ministro do Supremo [Tribunal Federal] vai melhorar minha situação? Não é a nossa luta”, disse Nélson Zachow, 45 anos, 21 deles como caminhoneiro.
Paranaense de Barracão, ele disse que viu as reivindicações feitas pelos caminhoneiros serem ignoradas. “Não é caminhoneiro. É cara que se apropria. Eu vi pecuarista encostar caminhão e começar a assar carne e beber cerveja”, disse Zachow, eleitor arrependido de Bolsonaro.

O douradense Alexandre Ferreira dos Santos, 35, há 13 deles na boleia, disse que as manifestações são justas, mas com as reivindicações erradas. “É preciso olhar as questões certas, o combustível caro, o preço do pneu nacional. Hoje um caminhão não roda por menos de R$ 50 mil em um trajeto”, disse.

Quatro pontos das rodovias do Estado ainda tinha concentração de caminhoneiros. No km 4 da BR-262, em Três Lagoas; km 614 da BR-163 em São Gabriel do Oeste; km 290 da BR163 em Douradina; e no km 354 da BR-262 em Campo Grande.

Um caminhoneiro ouvido pela reportagem, e que preferiu não se identificar, disse que a adesão ao movimento “era pífia”. “Vocês precisam parar de falar em caminhoneiros. Não há caminhoneiros como um todo. É um grupo pequeno. Como vou poder defender um governo que cobra caro pelo diesel e manutenção do caminhão”, disse.

O fim do protesto dos caminhoneiros foi decretado pela manhã por Marcos Antônio Pereira Gomes, conhecido como “Zé Trovão” e suposto líder da categoria, que se comunica por meio de vídeos em redes sociais, já que está escondido no México e é considerado foragido por estar com a prisão decretada.
Durante toda a quinta-feira (9), Zé Trovão entrou em contradição pelo menos três vezes com os passos dados por Bolsonaro, que se reuniu com o ex-presidente Michel Temer e chegou a pedir desculpas a Alexandre de Moraes, ministro do STF alvo da militância, após divulgar nota conciliadora escrita pelo estafe do ex-mandatário federal.
Primeiro, Zé Trovão pediu uma confirmação a Bolsonaro de um áudio em que o presidente pede a liberação das erstradas. “Presidente, nós queremos que o senhor fale para o povo brasileiro isso, que o senhor faça um vídeo, fale a data, fale o dia, e que o senhor peça para nós caminhoneiros abrir, porque aí, sim, nós faremos vídeos para liberar as pistas”, apelou.

Depois, ao longo do dia, o caminhoneiro desvinculou o movimento ao presidente e disse que as manifestações continuarão. Ontem, depois de pressão da base bolsonarista, a manifestação foi definitivamente suspensa.

“Decidimos pôr fim nas paralisações, com a ressalva de que, a partir de agora, estaremos atentos às ações tomadas por ministros, deputados e senadores. Liberaremos porque nós acreditamos que o que Bolsonaro nos prometeu vai acontecer. A janela do diálogo e do bom-senso pode trazer uma estabilidade para os Poderes, o que é o importante. Decidimos definitivamente que o povo brasileiro vai dar mais um voto de confiança ao presidente”, disse Zé Trovão à rádio Jovem Pan.

Rafael Ribeiro

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