Wolbachia reduz dengue em 63% em Campo Grande, aponta estudo

Foto: Reprodução/Ministério da Saúde
Foto: Reprodução/Ministério da Saúde

Pesquisa acompanhou liberação de mais de 100 milhões de mosquitos e mostra queda expressiva dos casos após estabilização da bactéria em 86% da cidade

Um estudo científico sobre o uso de mosquitos infectados com a bactéria Wolbachia apontou redução de 63,2% na incidência da dengue em Campo Grande em 2024 nas regiões onde a estratégia atingiu níveis considerados estáveis. Os resultados serão publicados na edição de fevereiro de 2026 da revista The Lancet Regional Health – Americas, uma das mais relevantes da área da saúde.

A pesquisa analisou dados de 16 anos (2008 a 2024) e avaliou o impacto da liberação em massa de mosquitos entre 2020 e 2023. Nesse período, a prevalência média da Wolbachia chegou a 86,4% na capital, e 89% das áreas monitoradas alcançaram pelo menos 60% de presença da bactéria, índice adotado como referência para a consolidação da estratégia.

Antes da intervenção, os registros anuais de dengue frequentemente ultrapassavam 4,7 mil casos. Após a implantação do método, a cidade deixou de repetir picos com a mesma intensidade observada no período anterior, segundo a série histórica analisada pelos pesquisadores.

O trabalho é resultado da tese de doutorado de Fabiani de Morais Batista, da Faculdade de Medicina da UFMS, e reúne pesquisadores de instituições nacionais e internacionais, como Fiocruz, USP, Yale, Stanford, Johns Hopkins, Monash University (Austrália) e o World Mosquito Program (WMP). Trata-se da primeira avaliação científica programática da Wolbachia no Brasil, financiada e coordenada pelo Ministério da Saúde.

Ao longo de três anos, mais de 100 milhões de mosquitos foram liberados em seis regiões urbanas da capital, com acompanhamento feito por 1.677 ovitrampas. A técnica consiste em infectar o Aedes aegypti com a bactéria Wolbachia, que impede a multiplicação dos vírus da dengue no mosquito e reduz sua capacidade de transmissão.

A execução científica local e o monitoramento epidemiológico ficaram sob responsabilidade da Fiocruz Mato Grosso do Sul. A logística territorial foi conduzida pela Secretaria Municipal de Saúde, enquanto a Secretaria de Estado de Saúde atuou como parceira institucional, oferecendo estrutura física, veículos e apoio técnico.

Segundo o artigo, a Wolbachia não substitui outras ações de controle, mas atua como complemento às medidas tradicionais, como eliminação de criadouros e vacinação. A tecnologia não utiliza inseticidas e tem manutenção autônoma ao longo do tempo, o que, de acordo com os pesquisadores, amplia seu potencial como ferramenta permanente no enfrentamento das arboviroses.

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