61,4% da população nas capitais brasileiras apresenta sobrepeso, enquanto 24,3% vive com obesidade, de acordo com dados do Ministério da Saúde. O cenário alarmante revela, além do aumento dos diagnósticos, o despreparo nas unidades hospitalares e os desafios na realização de exames físicos. Especialistas também alertam para os riscos de uma alimentação baseada em ultraprocessados.
A Federação Mundial de Obesidade estima que o número de adultos com sobrepeso ou obesidade chegará a 3,3 bilhões em 2035, em todo o planeta. O aumento nos diagnósticos de obesidade, considerada uma doença crônica pela OMS (Organização Mundial da Saúde), acende o alerta para inadequações nas estruturas hospitalares.
O despreparo apresenta-se na falta de uso de macas reforçadas e na capacitação de equipes para procedimentos como intubação e obtenção de acesso venoso. Em nota, Abramede (Associação Brasileira de Medicina de Emergência) e Abeso (Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica) ressaltam que os atendimentos emergenciais figuram como um dos maiores desafios. “O excesso de tecido adiposo dificulta exames clínicos essenciais, como palpação e ausculta, e compromete a identificação rápida de sinais clínicos críticos, como a pulsação em pacientes inconscientes. Tudo isso pode atrasar procedimentos que exigem resposta imediata, como a ressuscitação cardiopulmonar.”
De acordo com a nutricionista Priscilla Klausing, que atua há mais de 14 anos, a conscientização sobre uma alimentação saudável pode ser uma alternativa para solucionar o problema. “O estilo de vida da correria, de não ter mais tempo, de não priorizar mais as refeições em casa, isso tem dificultado muito uma qualidade de vida nas escolhas, porque hoje em dia, quando você vai procurar algo saudável na rua, é bem difícil de se encontrar. E, a cada dia que passa, você tem mais opções não saudáveis do que saudáveis. Hoje, por isso, a gente percebe um aumento grande da obesidade, não só em adultos, mas também em crianças, e crianças bem pequenas. Então, essa conscientização da importância do cuidado com a alimentação, com boas escolhas, isso aí é fundamental”, afirma.
Um dos meios para diagnosticar a doença é por meio do IMC (Índice de Massa Corporal) e exames de sangue bioquímico, utilizados por alguns profissionais para identificar comorbidade associada a essa obesidade. A nutricionista também ressalta a importância de um tratamento multidisciplinar. “O que importa é a mudança dos hábitos do dia a dia desse paciente. Então, a nutricionista vai cuidar da alimentação, um clínico geral ou endocrinologista das doenças associadas, e o psicólogo ou psiquiatra de algumas disfunções em relação a essa compulsão alimentar do paciente”, explica.
“A obesidade é um problema complexo que envolve diversos fatores psicológicos”, destaca a psicóloga intercultural, Lethicia Bogue. “Um dos principais é a “fome emocional”, que vai além do estresse, depressão ou ansiedade; ela pode ser desencadeada por emoções como solidão, tédio ou até felicidade, levando as pessoas a usarem a comida como uma forma de lidar com essas sensações intensas”, comenta.
A psicóloga acrescenta que o ato de comer está ligado à liberação de “hormônios da felicidade”, como serotonina, dopamina e também endorfina. Neurotransmissores que podem criar um ciclo vicioso, onde a busca por prazer através da comida se torna cada vez mais frequente. Mas, em especial, a profissional ressalta que a influência do ambiente não pode ser ignorada. “A acessibilidade a alimentos menos saudáveis, somada à publicidade agressiva que impacta diretamente as escolhas alimentares das pessoas e pode agravar o problema da obesidade”, sublinha.
A psicoterapia também uma ferramenta no tratamento da obesidade, pois aborda as raízes emocionais e psicológicas que influenciam os comportamentos alimentares. “Muitas pessoas com obesidade têm experiências emocionais ligadas à comida, como traumas e padrões familiares que moldam sua relação com a alimentação”, afirma Lethicia. “É importante explorar a relação do paciente com figuras significativas, como pais ou cuidadores, para entender como essas dinâmicas afetam seu comportamento em relação à comida e à imagem corporal. A psicoterapia também ajuda o indivíduo a desenvolver uma autoimagem mais saudável, lidando com questões de autoestima e promovendo o amor-próprio”, conclui.
Por Ana Cavalcante
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