Saúde Mental: Medicamentos antidepressivos e corticoides aceleram sequelas do glaucoma

Glaucoma
Foto: Wanderson Lara

A maioria de nós já ouviu falar sobre astigmatismo e miopia, mas poucos sabem a gravidade das sequelas de outra doença que acomete nossos olhos, capaz de causar cegueira irreversível. Neste 26 de maio, Dia Nacional de Prevenção contra o Glaucoma, especialistas alertam para a baixa procura pelo exame preventivo, desistência do tratamento e até o consumo excessivo de remédios que aceleram as sequelas da doença.

Doença de manifestação silenciosa, o glaucoma é a principal causa de cegueira. Cerca de 80 milhões de pessoas em todo o globo têm a doença, embora em torno da metade desconheça o diagnóstico, segundo a WGA (Associação Mundial de Glaucoma). Os cálculos sugerem que um indivíduo em cada 200, com 40 anos de idade, apresenta esse quadro, sendo que essa proporção é de um em cada oito a partir dos 80 anos.

Idosos, mulheres, indígenas e grupos de minoria étnica têm mais chances de desenvolver o glaucoma, enquanto familiares de pessoas com a doença têm até dez vezes mais chances de também manifestarem esse quadro.

É o caso de Viviane Soares Monteiro, de 37 anos, que descobriu ter a doença há quatro anos. Ela é portadora do glaucoma juvenil hereditário, que foi manifestado pela primeira vez em seu avô e hoje é tratado pelo pai, irmã gêmea e o irmão de 31 anos, que descobriu aos 20 anos.

“A maioria das pessoas diz que não sente nada, mas eu e minha irmã desconfiamos quando observamos a formação de um arco-íris ao redor das lâmpadas. Quando fiz o exame, a minha pressão ocular estava em 42, sendo que o normal é nove. Fiz uso de colírio, mas não baixava de 22, então precisei passar por cirurgia”, conta Viviane.

A cirurgia consiste basicamente em expandir a vasão do líquido óptico, para que não aumente a pressão dentro do globo ocular. Essa pressão prejudica as veias que “levam” a imagem captada pela retina para o cérebro. Nos casos raros, como da Viviane, a cirurgia cicatriza com o passar o tempo e outra se faz necessária.

“Meu pai fez a cirurgia jovem também, como meus irmãos e eu. Hoje, aos 63 anos, tem só 40% da visão de um olho e precisaria fazer outro procedimento, mas com a idade dele o risco de ficar totalmente cego é maior”, conclui.

O WGA observa que a pandemia impactou de forma significativa os cuidados com o glaucoma, provocando atraso nas consultas, exames e procedimentos oftalmológicos essenciais, levando alguns pacientes a evoluírem para deficiência visual significativa.

Com a média de atendimento de dez pacientes ao dia, o médico oftalmologista, especialista em catarata e glaucoma pela USP (Universidade de São Paulo), professor e responsável pelo serviço de oftalmologia da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul), Luiz Taranta, também observou a diminuição da procura do tratamento com a pandemia.

“A maioria dos casos é acima de 50 anos, mas está aumentando o diagnóstico abaixo dos 50. Isso está relacionado ao estilo de vida, fatores genéticos e uso de medicamentos, principalmente corticoides e antidepressivos”, destaca Taranta.

O professor doutor explica que, quando a doença é diagnosticada de maneira precoce, às vezes não é necessário o procedimento cirúrgico. “A cirurgia é recomendada quando os outros tratamentos mais iniciais falham. O primeiro tratamento é o laser, que reduz a pressão ocular. Quando não resolve, usamos colírios que também diminuem a pressão. Quando esses dois falham, partimos para a cirurgia. O diagnóstico precoce é fundamental para evitar a perda visual”, concluiu Taranta.

Dados do SAI/SUS (Sistema de Informações Ambulatoriais do Sistema Único de Saúde), do Ministério da Saúde, divulgados pela Agência Brasil em março, revelam que, de 2019 a 2021, foram realizados no Brasil 16,2 milhões de procedimentos com finalidade diagnóstica para identificação de glaucoma, sendo 5.932.119 em 2019; 4.357.866 em 2020; e 5.984.033 em 2021. Em 2020, o número de exames realizados foi 27% menor do que a quantidade total do ano anterior; já em 2021, houve expansão de 37% em relação a 2020.

Em 2021, o aumento na procura por exames foi de 38% para homens e 40% para mulheres. Em relação a cirurgias, o estudo do Ministério da Saúde mostra que, no período de 2019 a 2021, houve 82.417 cirurgias de glaucoma no Brasil, sendo que, em 2020, foi registrada queda de até 22% nos procedimentos.

 

Texto: Kamila Alcântara – Jornal O Estado MS

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