“Legalizar a droga seria uma ‘sopa no mel’ ao crime organizado”, diz médico psiquiatra Ronaldo Laranjeira

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Foto: Reprodução

Coordenador da Escola Paulista de Medicina da UFSP aponta as consequência as da liberação das drogas, critica a falsa narrativa de que países estão discutindo a legalização e pede plebiscito 

O médico psiquiatra Ronaldo Laranjeira, que possui conhecimento profundo na área da saúde mental, em especial, na dependência química, assegura que os ministros do STF (Supremo Tribunal Federal) estão sendo “contaminados” pelos ativistas das drogas. “Os ativistas vêm cultivando uma narrativa de que a luta contra as drogas falhou terrivelmente no Brasil e a única alternativa seria legalizar todas as drogas, porque resolveria a maior parte dos problemas. Esse ativismo pela legalização, absolutamente contaminou os membros do Supremo Tribunal Federal e, de alguma forma, faz parte da elite que valoriza essas ideias”, explicou.

Laranjeira concedeu entrevista ao jornal O Estado por videoconferência, em São Paulo-SP. Ele coordena a Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas, na Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo e é PhD em dependência química, na Inglaterra. O médico alerta que é preciso ter consciência de qual tipo de sociedade queremos viver e que é preciso ter como exemplo países que legalizaram o uso da droga e hoje sofrem com o aumento de dependentes e do tráfico, como os Estados Unidos.

“Qual é o tipo de sociedade que queremos viver? Uma sociedade desses intelectuais libertários, aparentemente mais irresponsáveis, do ponto de vista social, que acham que vão fazer uma grande medida. Olhar para o futuro! Não podemos esquecer que quem será mais afetada é a população jovem e pobre”, aponta.

Ele defende que mais da metade da população é contra a legalização e acredita que o Congresso também seja contrário. Entretanto, ressalta quem caso os deputados e senadores fraquejem, um plebiscito seria o caminho. “O que está acontecendo é querer tumultuar o processo legislativo via Supremo Tribunal Federal, mas eu acho que o Congresso tem a coragem de enfrentar, quer seja a Câmara ou o Senado, principalmente por não permitir que isso ocorra e a própria manifestação do presidente do Senado é nesse sentido. Ou o Congresso enfrenta ou, se o Supremo Tribunal desafiar o processo legislativo já estabelecido pelas duas casas do povo, aí eu acho que talvez o plebiscito possa ser uma solução”, argumenta.

O Estado: O senhor tem acompanhado cada voto dos ministros e suas justificativas para liberar o porte de drogas para consumo próprio. No Congresso, o que chamou a atenção no seu discurso foi que os magistrados estão sendo influenciados pelos “ativistas das drogas”. Quem são estes ativistas e como eles influenciam a sociedade?

Dr. Ronaldo Laranjeira: Os ativistas vêm cultivando uma narrativa de que a luta contra as drogas falhou terrivelmente no Brasil e que a única alternativa seria legalizar todas as drogas, porque resolveria a maior parte dos problemas. Resolveria o crime organizado, já que não teria mais ninguém nas prisões, devido ao uso de drogas.

Então, é uma narrativa meio fantasiosa e que tem apelo, para que as pessoas acreditem nisso. Acreditam que, às vezes, a droga é uma questão de liberdade individual, que as pessoas que têm interesse teriam o direito de usar drogas, enquanto elas pudessem fazer isso, sem nenhuma interferência do Estado.

No entanto, quem cultiva essas ideias são os principais jornais do país, a “Folha de São Paulo”, “O Globo”, a própria “Rede Globo”… Existe uma cultura na mídia a favor. Mas é uma cultura mais ou menos bem solidificada que defende isso. Se for ver as matérias desses veículos de comunicação, verá ali a origem dessa ideia, de que com a legalização vamos resolver os problemas e isso eu acredito que tenha contaminado essa ideologia, esse ativismo pela legalização, que absolutamente contaminou os membros do Supremo Tribunal Federal e, de alguma forma, fazem parte dessa elite que valoriza essas ideias e não tem sintonia como o que acontece nos países que efetivamente legalizaram as drogas, especialmente Estados Unidos e Canadá. Qual é que tipo de sociedade a gente quer viver?

Uma sociedade desses intelectuais libertários, aparentemente mais irresponsáveis, do ponto de vista social, que acha que vão fazer uma grande medida. Olhar para o futuro! Não podemos esquecer que quem será mais afetada é a população jovem e pobre.

O Estado: O senhor diz que 70% são contra a legalização das drogas no Brasil. E detalhou que 1 dependente químico afeta quatro pessoas, que são os membros das famílias. Por que os profissionais, que estão na linha de frente, e as famílias são contra?

Dr. Ronaldo Laranjeira: Esses 70% são pesquisas que o próprio Datafolha e a “Folha de São Paulo” fizeram. E, ao conversar com famílias que foram afetadas pela dependência química, o meu argumento é que se tem um número substancial de famílias que foram afetadas. Pode não ser o filho, mas o pai, a mãe ou da segunda geração, as famílias realmente pagam um preço enorme.

Se o filho começa a usar maconha na adolescência, ele não vai conseguir ter uma capacidade plena de estudo. É o que está acontecendo nos Estados Unidos, a pessoa fica com a memória meio alterada. Dos 15 aos 25 anos, que ela precisa de maior pique para construir a vida, construir a profissão, ter a autonomia dos jovens e a maconha tira esse brilho. As pessoas ficam sem brilho, largadas, é isso que a droga produz, não produz mortes diretamente, mas o estado torporoso, diminui a capacidade das pessoas de progredirem na vida.

O Estado: O crescimento do consumo das drogas é realidade em todos os países. O senhor citou que, nos EUA, quase metade dos jovens norte-americano está consumindo maconha. Como, nesses países, a droga chega ao jovem, mesmo tendo leis brandas, onde há lugares em que nem é possível consumir bebida alcoólica em praças públicas?

Dr. Ronaldo Laranjeira: Estados Unidos passou por um aumento de consumo de drogas terrível, a ponto de 44% dos jovens americanos consumirem maconha com prejuízo na parte de memória, de atenção, de concentração. Uma parte substancial da juventude americana está perdendo competitividade e a iniciativa, num mundo complexo como o nosso. Por isso, uma das coisas que eu falei é que eu tenho vergonha desse desses votos, dos ministros do Supremo Tribunal Federal, pois eles não levam em consideração o que já está acontecendo em países que legalizaram as drogas.

Basta ir em qualquer cidade americana, na Califórnia, Nova Iorque, que você vê maconha para todos os lados – no supermercado, nos shoppings, nas ruas e também nas escolas. Então, esse aspecto da realidade, que já está acontecendo e os ministros do Supremo não estão levando isso em conta.

O Estado: E a narrativa de que os países estão indo para o caminho da legalização. É verdade?

Dr. Ronaldo Laranjeira: É uma mentira isso, que todos os países estão legalizando. Nos países escandinavos ninguém pensa em legalizar, mesmo a maioria dos países europeus. Nos países asiáticos, como a China e o Japão, se perguntarem ao Japão ‘vamos legalizar?’ isso não vai acontecer nas próximas décadas, nem nos países do Oriente Médio. Nós tivemos a oportunidade de ver que, na última Copa do Mundo, realizada em países do Oriente Médio, até mesmo o álcool foi difícil para as pessoas consumirem.

O Estado: Um fato que mais se discute é a quantidade. Quando fala em 30, 60 ou 100 gramas para consumo, não se resume apenas à maconha. Há grandes efeitos, com essa quantidade, em outras drogas?

Dr. Ronaldo Laranjeira: O voto inicial do Gilmar Mendes, de alguma forma, legalizava, na prática, todas as drogas, agora já está aí, mudando, para legalizar porções de maconha. Quanto a 30 gramas de maconha, mas de que maconha estamos falando?

Da maconha mais simples, que tem uma concentração de 5% THC (tetra-hidrocanabinol) [que é o princípio ativo da maconha] ou estamos falando do skank, uma maconha mais poderosa, com 20% de THC? Então, os ministros não estão levando isso em consideração e acham que maconha é tudo igual, todas fraquinhas e não é essa a realidade, no mercado ilícito da maconha.

Este é um mercado dinâmico, com novas cepas, dezenas delas, com concentrações muito mais fortes. Então, estabelecer 30 ou 60 gramas é de uma ingenuidade ou, na melhor das hipóteses, um desconhecimento dessa complexidade, no mercado da droga ilícita.

O Estado: Liberando, haverá mais cracolândias pelas Capitais do país, já que o consumo discutido é a mesma quantidade que é consumida por estes usuários?

Dr. Ronaldo Laranjeira: Não tenho dúvidas disso. À medida que a sociedade flexibiliza as leis de drogas, está criando-se uma facilitação no setor de distribuição, no caso, o crime organizado, e todo o comércio ilegal. No Brasil, em que já existe uma facilidade de distribuição, nós vamos ter mais situações como a cracolândia de São Paulo. Não podemos esquecer que quem estará lá são várias classes sociais, mas, especialmente, a mais carente, ficando ainda mais vulnerável pelo acesso barato, porque não podemos esquecer que a maconha é barata e mesmo as p e s s o a s com pouco d i n h e i r o têm condições de comprá-la.

No meu julgamento, a legalização proposta pelo Supremo Tribunal Federal vai criar mais problemas, aumentará o número de usuários, principalmente entre a camada mais pobre da população, que não vai ter suporte dentro de uma sociedade mais complexa, que requer que os jovens tenham mais autonomia, mais formação e mais escolarização.

O Estado: O senhor é a favor do plebiscito?

Dr. Ronaldo Laranjeira: A princípio, eu acho que os nossos representantes eleitos o foram dentro de uma perspectiva que já contempla a não legalização. Vale lembrar que o Congresso já votou duas vezes pela não legalização. Na primeira vez, em 2009, teve audiências públicas em todas as Capitais do Brasil e em mais outras 100 cidades. Então, em relação a essa lei das drogas, o Congresso teve um acúmulo de debate muito grande em todas audiências públicas, discutiu-se muito e optou-se pela não legalização.

O que está acontecendo é querer tumultuar o processo legislativo via Supremo Tribunal Federal, mas eu acho que o Congresso tem a coragem de enfrentar isso, quer seja a Câmara ou o Senado, principalmente quanto a não permitir que isso ocorra e a própria manifestação do presidente do Senado é nessa direção. Ou o Congresso enfrenta ou, se o Supremo Tribunal desafiar o processo legislativo, já estabelecido pelas duas casas do povo, aí eu acho que talvez o plebiscito possa ser uma solução, que eu não tenho dúvida de que ganhará a larga margem contra a legalização.

Mas a gente tem que colocar o plebiscito dentro desse contexto, se o Congresso fraquejar e não enfrentar o que ele já decidiu. Só não pode prevalecer 11 votos de ministros por um detalhe técnico.

O Estado: Existe também tudo o que envolve do mercado da droga já que é um produto ilegal, não há indústria. Só o traficante seria o maior beneficiado?

Dr. Ronaldo Laranjeira: Então, você vai fazer uma medida em que vai facilitar o consumo de drogas entre os adolescentes e vai facilitar a vida dos traficantes, porque você estabelece que 60 gramas ou 70 de maconha por dia que a pessoa possa carregar sem ser presa, você está facilitando a vida do traficante, porque todo traficante, pequeno traficante, vai tá fornecendo e está portando abaixo desse volume.

Para o crime organizado essa mudança seria sopa no mel, porque você mudaria a Polícia do pequeno tráfico, mas não existe o pequeno tráfico desconectado do grande tráfico. Hoje o grande traficante tem uma série de formiguinhas que escoam a droga no dia a dia, ou seja, facilitará o tráfico em um todo.

Dependência

Com 40 anos de experiência em dependência química, doutor Ronaldo Laranjeira, que é coordenador da Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas, na Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo, explica como funciona o processo de dependência da droga. Segundo ele, qualquer droga ou substância que produza prazer rápido, vai ter uma ação cerebral que causará dependência.

“O fato é que se você usar uma droga que tenha um efeito imediato prazeroso, por mais diferente que seja, porque o prazer da maconha é diferente do prazer proporcionado pela cocaína, que é diferente do prazer do álcool, mas as substâncias acabam tendo, em comum, algum tipo de prazer por torpor [entorpecimento], que é um misto de sensações e que desregula o cérebro, a ponto de ele querer mais esse apetite e é isso que é o fenômeno da droga. Não é só uma questão de liberdade individual, de as pessoas quererem fazer o que quiserem, mas a droga muda o apetite, muda a compulsão pelo uso e por isso que as pessoas, às vezes, continuam usando, apesar de todos os problemas familiares, profissionais e perdas de oportunidade que o consumo de drogas traz”, garantiu.

De acordo com estudos e dados de 2021, da UNODC (Nações Unidas sobre Drogas e Crimes), 35 milhões de pessoas, de todo o mundo, sofrem transtornos resultantes do uso de drogas. No Brasil, quase 30 milhões de pessoas têm alguém na família que é dependente químico. De acordo com pesquisas da OMS (Organização Mundial de Saúde), em média, 6% da população brasileira faz uso de algum tipo de droga, sendo dependente químico. Essa porcentagem caracteriza mais de 12 milhões de pessoas.

Segundo o Ministério da Saúde, o SUS (Sistema Único de Saúde), em 2021, registrou 400,3 mil atendimentos a pessoas com transtornos mentais e comportamentais devido ao uso de drogas e álcool. A maior parte dos pacientes é do sexo masculino, com idade de 25 a 29 anos.

Sobre a dependência pela maconha fazer com que o dependente procure por drogas mais pesadas, Ronaldo garante que sim, mas que essa busca é por drogas com maior concentração da própria maconha, como o skank. “Este já é um debate enorme, que acontece há muitos anos e que a evidência maior é que sim. Mas, no meu modo de ver, o que mais acontece é de a pessoa mudar das formas mais leves para as mais concentradas da maconha. Então, eu acho que é um apetite que vai ficando mais intenso, à medida que a pessoa vai ficando mais dependente”, explica.

O Estado: Que mecanismo do corpo humano explica o processo de dependência da droga?

Dr. Ronaldo Laranjeira: Eu acho que qualquer droga ou qualquer substância que produza prazer rápido, ela vai ter uma ação cerebral que vai causar o que a gente chama de dependência. Existe a possibilidade de a pessoa querer repetir o uso daquela substância, para obter algum tipo de prazer, alívio ou buscar um torpor [entorpecimento], que é visto de uma forma prazerosa e isso acaba criando, no cérebro, o apetite exacerbado pela experiência que a substância produziu.

Então, o órgão realmente que faz com que esse apetite fique mais intenso é o cérebro, em várias regiões, até bem mapeadas, responsáveis por esse apetite, pela dependência química ou o nome que quiser usar. Mas o fato é que quando se usa uma droga que tenha efeito imediato, prazeroso, por mais diferente que ela seja, porque o prazer da maconha é diferente do prazer da cocaína, por exemplo, que é diferente do prazer do álcool, mas ele acaba tendo em comum algum tipo de prazer por torpor [entorpecimento], é um misto de sensações e que desregula o cérebro, a ponto dele querer mais esse apetite e é esse o fenômeno da droga.

Não é só uma questão de liberdade individual. As pessoas quererem fazer o que quiserem, mas a droga muda o apetite, muda a compulsão pelo uso e por isso que as pessoas, às vezes, continuam usando, apesar de todos os problemas familiares, profissionais e perdas de oportunidade que o consumo de drogas traz.

O Estado: Quais as dificuldades que um usuário de drogas enfrenta, para voltar à sociedade? É comum ouvir que a maconha cura e é inofensiva, não causa dependência. É isso mesmo?

Dr. Ronaldo Laranjeira: Primeiro que a pessoa tem um período de abstinência e esse é um debate enorme, no sentido de a pessoa continuar usando droga e voltar para a sociedade, então é algo muito difícil, porque se a pessoa tem um emprego e é usuário de droga, vai perder a eficiência, não vai render o que uma pessoa sem a dependência rende, então, ela vai ter que se convencer de que precisa parar de usar, para ter uma vida plena.

Sem falar que quem quer que esteja convivendo com esse usuário precisa saber que ele tem o elemento da instabilidade, pois a droga sempre vai dar alguma autonomia, mas não será plena.

O dependente acaba priorizando o uso de drogas a ter que cuidar dos filhos, ter uma profissão, ganhar dinheiro, de ter uma autonomia familiar, isso não vira mais prioridade para muitas das pessoas que usam drogas.

O Estado: O uso da maconha aumenta as chances da procura por outras drogas?

Dr. Ronaldo Laranjeiras: Este já é um debate enorme, que acontece há muitos anos e que a evidência maior é que sim. Inclusive, a resposta mais simples é que sim, que aumenta a chance de mudar para uma droga mais pesada. Mas, no meu modo de ver, até o que mais acontece é de a pessoa mudar das formas mais leves para as mais concentradas da maconha, como o skank e até o cigarro eletrônico. Então, eu acho que este é um apetite que vai ficando mais intenso, à medida que a pessoa vai ficando mais dependente.

O Estado: Com a sua experiência, a legalização pode favorecer o acesso antecipado, por crianças e adolescentes?

Dr. Ronaldo Laranjeira: O consumo com a legalização vai aumentar entre as pessoas jovens, os adolescentes, e não entre as pessoas com 40, 50 anos. E isso é o que já está acontecendo, nos Estados Unidos, pois 44% dos jovens estão consumindo drogas. Nunca houve um dado assim, na história recente dos Estados Unidos, esse aumento do consumo.

Comportamento

A dependência química provoca mudanças significativas no comportamento. À medida que o vício se intensifica, as atitudes se transformam. E, neste sentido, o médico Ronaldo Laranjeira assegura que é mito o uso de drogas, principalmente a maconha, para ficar mais relaxado.

“É mito, porque o álcool, quando a pessoa tem um quadro de ansiedade e bebe, ela vai ficar transitoriamente relaxada, mas, todas as evidências mostram que é o efeito agudo imediato da droga. O álcool é semelhante à maconha, nesse sentido, pois a pessoa relaxa ali, na hora que bebeu, mas, no dia seguinte, irão aumentar os níveis de ansiedade. Então a maconha, à semelhança do álcool, aumenta os níveis de ansiedade, de depressão, os riscos de suicídio, o risco de desenvolver esquizofrenia, também. Se tem uma droga que produz sintomas psiquiátricos é a maconha”, define.

Segundo o médico, a maconha age diretamente na região do cérebro responsável pela complexidade da memória. “Ela vai deixando mais solto o processo de relembrar várias coisas. Em todos os estudos, principalmente com jovens usuários de maconha, a alteração de memória ou de atenção, concentração e do que chamamos de função executiva, a capacidade de pensar e planejar, estão alteradas, mesmo que em doses pequenas e isso faz a diferença, no dia a dia”, ressalta.

O Estado: Quem defende o plantio da maconha costuma dizer que há pesquisas sobre os benefícios de elementos da planta, para algumas doenças…

Dr. Ronaldo Laranjeira: Saiu uma revisão agora, no final de agosto de 2023, na “British Medical Journal”, que mostra que o benefício médico da maconha é muito pequeno ou, obviamente, em alguns quadros de epilepsia em crianças e ela vem sempre muito carregada de efeitos colaterais, então, essa maconha terapêutica está longe de ser uma coisa que a gente ficaria investindo tempo, dinheiro, energia e serviço público para achar que formas de maconha terão efeito grande em causas médicas relevantes.

O Estado: Teoricamente, quando a pessoa ansiosa fuma maconha, fica relaxada. Isso é mito ou verdade?

Dr. Ronaldo Laranjeira: É mito, porque o álcool quando a pessoa tem um quadro de ansiedade e bebe, ela vai ficar transitoriamente relaxada, mas, todas as evidências mostram que é o efeito agudo imediato da droga. O álcool é semelhante à maconha, nesse sentido, pois a pessoa fica relaxada ali, na hora que bebeu, mas, no dia seguinte, irão aumentar os níveis de ansiedade. Então, a maconha, à semelhança do álcool, aumenta os níveis de ansiedade, de depressão, os riscos de suicídio, o risco de desenvolver esquizofrenia, também. Se tem uma droga que produz sintomas psiquiátricos é a maconha.

O Estado: Como age a maconha na memória?

Dr. Ronaldo Laranjeira: Ela age no cérebro na região responsável pela complexidade da memória e vai deixando mais solto o processo de relembrar várias coisas. Em todos os estudos, principalmente com jovens usuários de maconha, a alteração de memória ou de atenção, concentração e do que chamamos de função executiva, a capacidade de pensar e planejar estão alteradas, mesmo que em doses pequenas e isso faz diferença, no dia a dia.

O Estado: Poderia deixar uma mensagem para quem tem um familiar envolvido com drogas?

Dr. Ronaldo Laranjeira: Vale a pena procurar por ajudas que já existem, na maior parte das cidades do Brasil, principalmente das grandes cidades, que é a Federação do Amor Exigente, que são grupos de familiares que ajudam outros familiares como reagir a um filho ou a um parente com dependência química. Há os grupos de ajuda mútua, como AA (Alcoólicos Anônimos), Narcóticos Anônimos, que são fontes de apoio familiar substancial. Então, acho que vale a pena se familiarizar com quem teve casos gravíssimos na área de dependência química e, obviamente, se ela tiver recursos e oportunidade de buscar a ajuda de um profissional, que possa orientar o melhor fluxo de ação. A família precisa saber que existem várias alternativas e que a melhor depende de vários fatores.

Serviço

O SUS também garante atendimento e acompanhamento para quem tem qualquer tipo de dependência química, em qualquer idade. O atendimento começa pela Atenção Primária à Saúde, porta de entrada. A rede pública conta ainda com centros especializados nesse tipo de atendimento, como o CAPS

Por Rafaela Alves – Jornal O Estado de Mato Grosso do Sul.

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