Conselhos confirmam crescimento no número de novos consultórios cadastrados, em Campo Grande
Os planos de saúde são a “saída” para quem precisa de consultas com diversos especialistas, como com psicólogos e fisioterapeutas. Contudo, conforme noticiado na edição anterior do jornal O Estado, muitas classes foram afetadas, devido ao baixo repasse dos planos de saúde para estes profissionais. À reportagem, o presidente do Crefito-13 (Conselho Regional de Fisioterapia e Terapia Ocupacional de Mato Grosso do Sul), Dr. Renato Nacer, explicou a situação. Segundo ele, o número de registros de consultórios no conselho tem aumentado gradativamente, nos últimos anos, sendo este um dos motivadores.
“Há um crescimento de consultórios e atribuímos esse aumento também a um maior entendimento do profissional sobre a importância de oferecer um serviço de qualidade, para ser valorizado. À medida que o profissional se capacita para oferecer um atendimento com mais qualidade e autonomia, a população compreende melhor a atuação desses profissionais, como os fisioterapeutas. Nesse caso, a tendência é o profissional deixar de atender pelo plano de saúde”, pontuou.
Conforme ainda o presidente, a situação crítica se dá ao valor inferior repassado à classe, bem como outros profissionais, como o caso dos psicólogos. “Em que pese a saúde suplementar seja responsável por um percentual elevado da assistência em saúde, no nosso Estado, o valor médio repassado pelas operadoras de planos de saúde aos fisioterapeutas é muito inferior ao Referencial Brasileiro de Procedimentos Fisioterapêuticos, está abaixo do que é praticado no mercado, além de ser insustentável para o profissional empreendedor”, afirmou ele.
Duas profissionais, que preferiram não ser identificadas, também confirmaram que o repasse que os planos de saúde cobrem não é o suficiente para manter o local. “Não atendemos por meio do plano de saúde por motivo de o nosso foco de atendimento ser mais direcional a cada paciente e a cada caso clínico. Então, pensando na nossa rotina de atendimento, optamos por não atender via plano de saúde”, relatou uma delas à reportagem.
SEM RESTRIÇÃO DE SESSÕES
Desde o fim do ano passado, os planos de saúde passaram a cobrir sessões ilimitadas de fonoaudiologia, psicologia, terapia ocupacional e fisioterapia. Como uma demanda antiga dos pacientes, a mudança foi aprovada pela ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar), no início de julho e entrou em vigor em 1° de agosto de 2022.
A decisão da ANS revogou uma resolução que limitava as sessões e consultas a uma quantidade máxima por ano, de acordo com algumas doenças e lesões. Com a medida, os planos passaram a cobrir consultas e sessões para essas quatro categorias profissionais, sendo necessário apenas que o paciente tenha recomendação médica.
Antes, as limitações eram as seguintes: Fisioterapia (duas sessões por ano para cada doença apresentada pelo paciente); Fonoaudiologia (24 sessões por ano, para pacientes que apresentassem uma de 11 condições listadas pela ANS, como dislexia, apneia de sono e outras); Psicologia (de 12 a 40 sessões por ano, para pacientes com condições ou tratamentos listados pela ANS).
A recomendação, caso as operadoras dos planos de saúde não estejam cumprindo com a determinação, que visa consultas com fisioterapeutas, psicólogos, fonoaudiólogos e terapeutas, os pacientes têm direito de reclamar com a ouvidoria das empresas, com a própria ANS e, em última instância, acionar a Justiça.
Burocracia e demora na autorização
Vivenciando a luta da classe, o psicólogo e psicanalista, Dr. Lucas Maciel, detalhou os desafios enfrentados, com relação ao repasse dos planos de saúde. Para ele, além do repasse que não compensa financeiramente, há toda uma burocracia, como a liberação de um número reduzido de sessões, assim como a demora na autorização.
“O processo de credenciamento também é demorado, quando ocorre, na maioria das vezes apenas empresas (clínicas) são credenciadas, daí elas sublocam salas para os psicólogos e ainda ficam com uma porcentagem do repasse do plano de saúde. No final, o psicólogo recebe pouco e precisa atender a um volume grande de pessoas, com sessões muito curtas para compensar. O que se torna aquele ditado, ‘casa de ferreiro, espeto de pau’, porque nossa saúde fica comprometida e não temos tempo para estudar e fazer a supervisão”, detalhou ele, à reportagem.
Ainda segundo o profissional, a experiência, principalmente para quem está começando na clínica, de ter contato com mais pacientes, ajuda. “Muitos desistem da clínica porque é cansativo. Grande parte dos colegas de profissão tem o mesmo pensamento quanto aos planos. Em lógica, os valores não são reajustados. Recebemos, por sessão, o equivalente a 15% do que um médico recebe. Sendo que, somando quatro sessões num mês, ainda assim, é menos. Tem alguns planos que pagam um pouco mais. Mas, são difíceis de credenciar e a jornada de trabalho fica escravizante”, destacou.
ica escravizante”, destacou. “Um psicólogo, para se sustentar, atendendo plano, precisará atender, pelo menos, 50 pacientes por semana, para receber o equivalente a R$ 4 mil. Ainda terá os custos de deslocamento, sublocação, supervisão, estudos. Ou seja, seriam mais de 60 horas de trabalho semanal, se contarmos anotação de caso, preparo etc. Sem contar que preferem abordagens como a ‘TCC’, por acreditarem que serão mais rápidas. Eu trabalho com psicanálise e os planos querem algo que se resolva de 20 a 30 sessões. Isso é, eles liberam, mas colocam empecilhos tão grandes que o paciente acaba desistindo. Com isso, muitos não concluem o acompanhamento necessário”, acrescentou.
Por Brenda Leitte – Jornal O Estado do MS.
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