Com 1 milhão de doses em estoque, vacina brasileira contra dengue em dose única é aprovada pela Anvisa

Foto: José Felipe Batista/ Comunicação Butantan
Foto: José Felipe Batista/ Comunicação Butantan

Novo imunizante deve ampliar proteção em MS e também pode beneficiar países tropicais

A Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) aprovou, nesta quarta-feira (26), a Butantan-DV — a primeira vacina contra dengue em dose única do mundo. Produzida pelo Instituto Butantan, a partir de pesquisa 100% nacional, ela será aplicada em pessoas de 12 a 59 anos e deve integrar o PNI (Programa Nacional de Imunizações). O Ministério da Saúde ainda vai definir quando começa a vacinação e qual será o público inicial.

Mesmo antes da aprovação, o Butantan já havia iniciado a produção do imunizante e soma mais de um milhão de doses prontas para entrega. A instituição também firmou parceria com a empresa chinesa WuXi para ampliar a capacidade de fabricação e alcançar cerca de 30 milhões de doses no segundo semestre de 2026.

“É um feito histórico para a ciência brasileira”, comemorou o diretor do Butantan, Esper Kallás. “A vacina em dose única é uma arma poderosa contra uma doença que nos aflige há décadas.”

Eficácia comprovada

A aprovação teve como base cinco anos de acompanhamento dos voluntários do estudo clínico de fase 3. Entre pessoas de 12 a 59 anos, a Butantan-DV demonstrou:

-74,7% de eficácia geral,
-91,6% contra dengue grave ou com sinais de alarme,
-100% contra hospitalizações.

O estudo, conduzido entre 2016 e 2024, envolveu mais de 16 mil voluntários de 14 estados. Os resultados parciais foram publicados em revistas internacionais como The New England Journal of Medicine e The Lancet Infectious Diseases.

A vacina, que reúne os quatro sorotipos do vírus, mostrou segurança tanto em pessoas com infecção prévia quanto naquelas que nunca tiveram contato com o patógeno. Reações adversas foram, em geral, leves — dor no braço, vermelhidão, dor de cabeça e fadiga.

A aplicação em dose única deve facilitar a adesão e a logística das campanhas. Pesquisas internacionais já indicavam que esquemas com menos doses tendem a ampliar a cobertura vacinal.

Ampliação de público

O Butantan já recebeu autorização da Anvisa para testar a vacina em pessoas de 60 a 79 anos. Se os resultados forem positivos, esse público também poderá ser incluído na recomendação. Há estudos em andamento para avaliar a aplicação em crianças de 2 a 11 anos, faixa etária na qual os ensaios já demonstraram segurança.

Durante coletiva de imprensa realizada na manhã de ontem (26), o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, confirmou que a vacina será oferecida gratuitamente pelo SUS a partir de 2026. “É um hat-trick: vacina 100% brasileira, proteção ampla e dose única”, destacou. A estratégia de incorporação será apresentada à Comissão Tripartite nesta quinta-feira (27).

Importância global

Segundo o vice-presidente da SBIm (Sociedade Brasileira de Imunizações), Renato Kfouri, o imunizante também pode beneficiar países tropicais. “Mais da metade da população mundial vive em áreas de risco para dengue. Com o avanço do aquecimento global, o mosquito tende a se expandir”, alertou.

Um dos estados que devem ser beneficiados é o Mato Grosso do Sul, onde conforme o boletim mais recente da Secretaria de Estado de Saúde aponta 13.696 casos prováveis de dengue em 2025, sendo 8.319 confirmados. No mesmo período, já são 18 mortes registradas e outras sete em investigação.

Nos últimos 14 dias, Sonora, Nioaque e Rio Brilhante tiveram baixa incidência. Os óbitos confirmados ocorreram em 16 municípios, entre eles Campo Grande, Dourados, Ponta Porã e Miranda. Sete das vítimas tinham comorbidades.

A vacinação atual — ainda em esquema de duas doses — já aplicou 201.633 doses no Estado. O público-alvo segue sendo crianças e adolescentes de 10 a 14 anos, 11 meses e 29 dias, faixa com maior número de internações por dengue.

O Estado também registrou 13.721 casos prováveis de chikungunya, sendo 7.546 confirmados. Há 74 casos em gestantes e 16 óbitos. A SES (Secretaria de Estado de Saúde) reforça que a automedicação deve ser evitada e orienta a população a procurar uma unidade de saúde ao surgimento de sintomas.

Por Michelly Perez

 

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