A vacina contra o VSR (Vírus Sincicial Respiratório), responsável por grande parte das infecções respiratórias graves em bebês nos primeiros meses de vida, deve chegar ainda esta semana a Mato Grosso do Sul. No primeiro lote, o Estado receberá 10.755 doses para iniciar a imunização de gestantes a partir de 28 semanas de gestação. Para a pediatra Nataly Perez Verardo, a medida tem potencial para reduzir internações e até óbitos por bronquiolite.
“A vacina representa um avanço enorme na prevenção da bronquiolite causada pelo VSR. Ela é aplicada ainda na gravidez e tem um objetivo muito específico: fazer com que a mãe produza anticorpos que serão transferidos para o bebê pela placenta. Assim, o bebê já nasce protegido durante os primeiros meses de vida, justamente o período em que o risco de bronquiolite grave e internações é mais alto”, explica.
A pediatra reforça que o VSR é uma das principais causas de hospitalização de recém-nascidos. “Essa estratégia é extremamente importante porque os recém-nascidos não podem receber a maior parte das vacinas nos primeiros dias de vida. Ao imunizar a gestante, conseguimos reduzir de forma significativa os casos graves, a necessidade de oxigênio, o risco de UTI e até o número de óbitos”, afirma.
Segundo Nataly, a incorporação do imunizante ao SUS representa um marco para a saúde infantil. “É uma política pública que fortalece a proteção desde a gestação e complementa outras medidas essenciais, como a amamentação e um ambiente familiar seguro”.
A médica explica ainda que o Vírus Sincicial Respiratório é um dos agentes mais comuns de infecções das vias respiratórias. Ele costuma circular com maior intensidade no outono e no inverno. “Praticamente todas as crianças entram em contato com o vírus até os 2 anos de idade, mas para algumas delas a infecção pode ser mais séria. Nos primeiros meses de vida, o sistema imunológico ainda está imaturo e as vias respiratórias são estreitas. Isso faz com que a inflamação causada pelo vírus leve rapidamente à dificuldade respiratória”, detalha.
A população idosa também está entre os grupos vulneráveis. “Por causa da queda natural da imunidade e de doenças crônicas, como cardiopatias e problemas pulmonares, os idosos também podem apresentar casos graves. São os dois extremos da vida que correm maior risco”, finaliza a especialista.
Situação no Estado
Segundo a SES, o país registra aumento na circulação do VSR, tendência que reflete em Mato Grosso do Sul. Em abril de 2025, a positividade para o vírus atingiu o maior índice desde 2022, o que acendeu alerta nacional devido ao impacto entre bebês e crianças pequenas. Em resposta, o Ministério da Saúde ampliou as estratégias de proteção, incluindo a oferta do anticorpo monoclonal para grupos de risco e a vacinação de gestantes.
No Estado, 1.990 casos de VSR foram identificados em pacientes hospitalizados com SRAG (Síndrome Respiratória Aguda Grave) este ano. Nas unidades sentinelas, que monitoram casos de síndrome gripal, outros 256 casos foram confirmados.
A bronquiolite, embora diretamente associada ao vírus, não é de notificação obrigatória, por isso, não há contabilização específica, sendo os registros incorporados às notificações de VSR e outras síndromes respiratórias. Dados do Ministério da Saúde apontam que o vírus é responsável por 75% dos casos de bronquiolite e 40% das pneumonias em crianças menores de dois anos.
Vacinação
A campanha seguirá o informe técnico do PNI (Programa Nacional de Imunizações), que define como público-alvo todas as gestantes a partir de 28 semanas de gestação. Em Mato Grosso do Sul, esse grupo é estimado em 39.989 gestantes.
A previsão do PNI é que o imunizante chegue aos estados e municípios na segunda quinzena de novembro. A vacinação está prevista para ser realizada ao longo de todo o mês de dezembro, conforme informou o ministro da Saúde, Alexandre Padilha.
Treinamento de equipes
Segundo a SES, os 79 municípios do Estado já foram orientados e estão prontos para iniciar a campanha assim que as vacinas forem entregues pelo Ministério da Saúde. A distribuição será imediata, com aplicação nas unidades básicas de saúde.
A Secretaria concluiu o treinamento das equipes e alinhou os fluxos de trabalho com coordenadores municipais de imunização durante uma web-reunião realizada na última semana. No encontro, foram repassadas as orientações do informe técnico, incluindo o fluxo de atendimento das gestantes, a verificação da idade gestacional a partir de 28 semanas, a organização das salas de vacinação e o registro das doses.
“O alinhamento prévio com as equipes municipais permite que toda a rede opere com fluxo definido, garantindo segurança e eficiência na distribuição e aplicação. A rede está organizada para garantir que cada gestante receba a dose no tempo certo”, afirma a secretária-adjunta de Estado de Saúde, Crhistinne Maymone.
Investimento
O Ministério da Saúde anunciou a compra de 1,8 milhão de doses da vacina contra o VSR, principal causador da bronquiolite em recém-nascidos. O primeiro lote é composto por 673 mil doses. O investimento total é de R$1,17 bilhão, segundo o ministro Alexandre Padilha.
Além das doses previstas para 2025, o Ministério planeja adquirir mais 4,2 milhões de doses até 2027, garantindo a continuidade da estratégia nacional. O imunizante passa a ser ofertado gratuitamente pelo SUS, na rede privada, o valor pode chegar a R$1,5 mil por dose.
Por Geane beserra