Vereadores e ACP rejeitam exame toxicológico para professores

Crédito: Câmara Municipal de Campo Grande
Crédito: Câmara Municipal de Campo Grande

Tiago Vargas diz que seu projeto visa evitar professores viciados na Capital

O projeto de lei que obriga professores da Reme (Rede Municipal de Ensino) de Campo Grande a realizarem exame toxicológico para detectar o uso de drogas ilícitas causou indignação em alguns parlamentares da Câmara dos Vereadores, que são professores de profissão, e na ACP (Associação Campo-Grandense dos Profissionais da Educação Pública). A proposta do vereador Tiago Vargas (PSD) foi repudiada por eles.

Em entrevista ao jornal O Estado Play, na quinta-feira passada (21), o presidente da ACP, Lucílio Souza Nobre, disse que emitiu nota de repúdio na página da entidade e que os professores estão se mobilizando contra o projeto, que é “sem nenhuma fundamentação”. Ele promete manifestação contrária na Casa de Leis. “Refutamos o projeto até porque, na justificativa, ele coloca o professor em trabalho direto com o aluno. Nesta linha, todos os que trabalham precisam fazer o exame ou só o professor do municipal? E os estaduais, os particulares e os próprios pais? E o médico, o psicólogo, o pastor, o catequista, todos que lidam? É um projeto que vem culpabilizar e causa estranheza.

Ele não apresenta dados que comprovem esta ‘acusação’ do uso de drogas ilícitas pelo professor e de fato acho que deveria ser um exame de consciência do vereador. Isso causa um monte de transtorno e constrangimento”, pontua Lucílio. O projeto prevê que o professor realize o exame de drogas previamente à admissão, como condição para ser empossado como membro do magistério, e depois a cada ano repita o teste. Em sua justificativa, o vereador diz que “os professores passam boa parte do tempo com os jovens estudantes, exercendo um importante papel de impacto e influência”.

Vargas pontuou também que foi procurado por pais de alunos que relataram o problema, e justificou que pesquisa do IBGE divulgada pela PeNSE (Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar), em 2016, indicou que houve aumento de consumo de drogas entre jovens do 9º ano, de 7,3% em 2012 para 9% naquele ano. O parlamentar tenta fundamentar o projeto com esse argumento de que a imagem do professor reflete no aumento de uso de drogas pelos alunos. Vereadores contra Para o vereador Professor Riverton (DEM), o projeto marginaliza a categoria do magistério.

Contra a proposta, ele demonstrou indignação com a matéria. “Lembrando que o repúdio não é ao vereador e sim ao projeto, que praticamente marginaliza os profissionais da educação e mostra total falta de empatia com nossos professores e professoras. Lembrando que o dom de ensinar vai muito além da sala de aula, é feito com amor. Em quais dados técnicos o propositor se baseou para montar um projeto desta esfera? Lembrando que o meu primeiro nome nesta Casa de Leis é ‘professor’ e temos diversos outros vereadores professores.” O vereador Professor Juari (PSDB) disse que a Comissão de Educação não dará parecer favorável. “Infelizmente um projeto como esse não deve passar por aqui. A comissão é contra e temos consenso que a proposta não tem lógica.”

O vereador Betinho (Republicanos) destacou que é fruto da educação pública e que o educador precisa de valorização e o importante no período pós-pandemia é amparar o aluno. Valdir Gomes (PSD), que também é professor, disse que a situação seria mais um gasto aos educadores, já que exigiria exame anual saindo dos bolsos do trabalhador. “Acho que no momento temos de melhorar a educação dos alunos. Com contraturno, e brigar para melhorar a situação daqueles que ficaram dois anos fora da escola por conta da pandemia. É um projeto inoportuno.”

O Professor João Rocha (PSDB) questiona os motivos de a proposta ser indicada somente para a categoria e não a outras. “Precisamos tomar cuidado com essas propostas que dizem respeito às categorias. Por que o professor precisa fazer o exame? Se formos olhar de forma geral, então, todos os profissionais deveriam passar por exames. Vamos olhar na esteira de investimentos e não de policiamento.” O que diz Tiago Vargas O vereador Tiago Vargas defendeu seu projeto e disse ao jornal O Estado que o exame é comum e que pretende elaborar novos projetos ampliando as categorias obrigadas a fazer o exame, incluindo até mesmo os próprios vereadores. “Exames toxicológicos são normais para os militares do Corpo de Bombeiros, policiais e para motoristas, como os caminhoneiros. Então, é justo ampliar esse tipo de exames aos professores. Eu já estudo a colocar as demais categorias que fazem parte do município e inclusive os vereadores de Campo Grande.”

O parlamentar afirma que o objetivo é detectar e tratar o professor e não é prejudicar a categoria. “Precisamos dar atenção aos professores usuários de drogas e levá-los ao tratamento, para que se libertem da dependência química e retornem normalmente ao trabalho e à sociedade. Confirmando o uso de droga pelo docente, o mesmo será, conforme o meu projeto, encaminhado para tratamento a ser definido.” O parlamentar argumenta que os profissionais têm contato prolongado com alunos. “É inadmissível que os profissionais de ensino sejam dependentes de drogas ilícitas. As crianças são o futuro e para tanto o magistério torna-se de suma importância para a sociedade e para os alunos. Quem está à frente da educação deve ter a sua integridade total para passar seus conhecimentos que servirão para toda a vida de nossas crianças.”

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