A decisão do Carrefour França de suspender a venda de carne produzida nos países do Mercosul (Mercado Comum do Sul ), bloco econômico criado em 1991, composto por Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai, gerou intensas reações no Brasil, envolvendo líderes políticos e representantes do agronegócio. O presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), cobrou uma retratação pública do CEO global da empresa, Alexandre Bompard, durante evento nesta segunda-feira (25), em São Paulo.
Lira acusou a França de adotar uma postura protecionista contra produtos brasileiros, destacando o rigor do Código Florestal brasileiro como um dos mais avançados do mundo em termos ambientais. “Não é possível que um CEO de um grupo importante como o Carrefour não se retrate dessa declaração, que praticamente exclui as proteínas animais oriundas da América do Sul”, afirmou.
O parlamentar também defendeu que o Congresso Nacional paute, ainda nesta semana, a chamada “lei da reciprocidade econômica”, proposta que proíbe o Brasil de aceitar tratados comerciais que restrinjam exportações nacionais sem que países parceiros adotem normas equivalentes às brasileiras.
Reações do setor agropecuário
Pedro Lupion (PP-PR), presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), foi ainda mais enfático, sugerindo um boicote do agronegócio brasileiro ao Carrefour. “Se a carne brasileira não serve para a França, que também não sirva para cá”, afirmou. Ele relatou já ter discutido com associações do setor a suspensão da entrega de carne para as lojas da rede no Brasil como resposta.
Lupion também manifestou preocupação com possíveis precedentes que a decisão do Carrefour possa abrir, incentivando outras empresas internacionais a adotar restrições semelhantes.
Posicionamento do Carrefour Brasil
Em nota, o Grupo Carrefour Brasil lamentou a situação e reafirmou seu compromisso com o setor agropecuário brasileiro, destacando a parceria de mais de 50 anos com fornecedores locais. “Estamos em diálogo constante na busca de soluções para viabilizar a retomada do abastecimento de carne em nossas lojas, respeitando nossos compromissos com mais de 130 mil colaboradores e milhões de clientes em todo o Brasil”, declarou.
A empresa negou que haja falta de carne nas lojas brasileiras e reiterou sua confiança na qualidade e responsabilidade da produção nacional.
Contexto internacional
A decisão do Carrefour ocorre em meio a protestos de produtores franceses contra o acordo comercial entre o Mercosul e a União Europeia, assinado em 2019, mas ainda não ratificado. Críticos afirmam que os produtos sul-americanos chegam ao mercado europeu com preços mais competitivos, desafiando os produtores locais.
Para o deputado Alceu Moreira (MDB-RS), ex-presidente da FPA (Frente Parlamentar da Agropecuária), a postura do Carrefour é “discriminatória e irresponsável”, contrastando com a realidade do setor agropecuário brasileiro, que opera sob rígidas normas ambientais.
Próximos passos
Uma comissão temporária externa foi solicitada na Câmara para monitorar as declarações do Carrefour e seus impactos no comércio internacional. Além disso, líderes do agronegócio e do Congresso se reunirão nesta semana para discutir medidas, incluindo a aceleração da tramitação da “lei de reciprocidade”.
Enquanto o Carrefour enfrenta pressões políticas e comerciais no Brasil, o episódio reforça os desafios das relações comerciais entre o Mercosul e a União Europeia, expondo as tensões entre interesses econômicos, ambientais e geopolíticos.
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