Polarização e atos extremistas podem não ter fim no Brasil

Polarização
Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Ações foram classificadas de vandalismo; alguns falam em infiltrados

A polarização política no Brasil pode não ter um fim após os episódios considerados como atos de terrorismo e vandalismo no último domingo (8), em Brasília. De Mato Grosso do Sul, políticos concordam que a polarização não terá fim. Alguns condenam os extremismos e dizem que a invasão dos três Poderes não pode ser confundida com ambiente político de antagonismo e sim como atos criminosos. Do outro lado, há quem defenda os manifestantes e justifique. 

O deputado Geraldo Resende (PSDB) destaca que a polarização política sempre existiu e sempre existirá em diversas democracias pelo mundo. “Nos Estados Unidos identificamos os republicanos polarizando com democratas. Conservadores e trabalhistas na Inglaterra e, esquerda e direita em vários países da Europa.” 

Para ele, o que foge disso, atrelado ao extremismo, é onde mora o problema. “O que é prejudicial para a democracia é o desejo de um lado de aniquilar o outro. Quando esse tipo de coisa acontece, descambamos para barbáries antidemocráticas como as que aconteceram no domingo em Brasília. Geralmente são espectros radicais das ideologias que não respeitam as instituições democráticas.” 

A deputada federal Camila Jara (PT) disse ao jornal O Estado que não considera o momento como o de polarização política e sim de atos criminosos e de terrorismo. “O que estamos vivendo no Brasil não é um momento de polarização. Divergências são bem-vindas na política, mas não foi o que vimos domingo. Existe um lado que, ao perder a eleição, quebra tudo, ateia fogo em ônibus, planta bombas, invade sede dos três Poderes e o outro lado que respeita. Não são opostos! O que aconteceu foi um ato extremo, de terrorismo, sem nenhum precedente na história do nosso país. E assim deve ser tratado.” 

O deputado Dagoberto Nogueira (PSDB) destacou que os atos foram irracionais e de cunho tão radical que ultrapassam o âmbito político. “São inaceitáveis os atos de ‘vandalismo e terrorismo’ nos três Poderes da República; muito longe de uma manifestação democrática, atos nunca vistos no Brasil. Ação orquestrada e premeditada por extremistas, destruição que diminui o país perante o resto do mundo e enfraquece a nossa democracia.” 

O deputado Vander Loubet (PT) diz que não há nada de errado em haver polarização política. Ele pontuou ao jornal O Estado que na política e numa democracia isso é comum, no entanto, atos de terrorismo não devem ser confundidos com política polarizada. 

“A polarização sempre existiu, desde as eleições de 1989. A mais marcante acho que foi a PT x PSDB. Tudo dentro do processo democrático. O que tem de novo é a intolerância, o radicalismo e a violência política, ingredientes que a extrema-direita, representada pelo bolsonarismo, acrescentou em nossa realidade.”

Questionado sobre se as ações ocorridas em Brasília mostraram que existem radicais na direita, assim como na esquerda, e se ambos podiam ser comparáveis, ele disse que não. 

“De jeito nenhum. Não cabe comparação. Mesmo aqueles episódios por parte de militantes de esquerda que foram considerados exagerados não se comparam ao terrorismo e ao nível de vandalismo e criminalidade que vimos ontem em Brasília”, disse o deputado, que acrescentou a necessidade de intervenção federal, tamanha a inércia das forças de segurança pública. “Sem falar na atuação das forças de segurança. Fossem professores protestando por melhores salários, trabalhadores sem-terra lutando por reforma agrária, ou estudantes cobrando mais recursos para a educação, teriam sido tratados com força bruta pela Polícia Militar do DF. Como eram golpistas bolsonaristas, houve clara conivência com os atos. Por esse motivo inclusive eu defendi em uma nota pública a intervenção no GDF, o que logo depois o presidente Lula decretou.” 

A senadora Soraya Thronicke (União) concorda que o ambiente não favorece o fim da briga política. Ela condena atos em Brasília e diz que se trata de crime. 

“Infelizmente, o momento em que vivemos parece não estar favorável para colocarmos fim à polarização. Mas eu creio que a grande maioria dos brasileiros é de boas pessoas, que estão amadurecendo politicamente e que não fazem parte nem apoiam atos antidemocráticos.” 

Deputado bolsonarista, João Henrique Catan (PL) diz que a polarização sempre vai existir e de certa forma culpou o Judiciário pelos atos de domingo. “O que algumas pessoas chamam de polarização eu acredito ser convicção. Lutamos contra o PT há muito tempo e as sementes plantadas na fundação do partido criaram raízes. Não se trata de dois polos opostos ter um fim, ambos os lados sempre haverão de existir. O respeito de garantias constitucionais elementares, a sensação de representatividade, de prevalência da Justiça, serviria para pacificar os ânimos. A interferência do Poder Judiciário na política e a omissão do Congresso Nacional, respondem pelo clima atual.” 

Ele também defende os manifestantes. “Atos de ontem demonstraram vandalismos, quebrar vidraças, janelas e cadeiras é erradíssimo. Mas arrebentar as 4 linhas da Constituição Federal é tão mais grave e infinitamente mais difícil de punir, dada a autoridade que emana do cargo daqueles que a descumprem sob o pretexto de garantir a ordem.” 

Para o ainda deputado estadual Capitão Contar (PRTB) a polarização se dá entre o que é certo e o que é errado. Ele defende a apuração dos atos de vandalismo e classifica como infliltrados de esuqerda. “Com relação aos atos de vandalismo, estes têm de ser apurados, pois, ao que tudo indica, foram cometidos por infiltrados de esquerda e não pelos patriotas que estão há mais de 70 dias na frente dos quartéis. Analisando imagens e relatos que recebemos, esses movimentos dos infiltrados, mais parecem movimentos orquestrados para descredibilizar e desconstruir os movimentos legítimos. A impressão que nos dá é de que foram orquestrados para desmobilizar atos democráticos, pacíficos, justificando a sua desmobilização.” 

Por Rayani Santa Cruz   – Jornal O Estado do MS

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