“O MDB não pode abrir mão de disputar eleição”

Cayo Cruz/O Estado Play
Cayo Cruz/O Estado Play

O ex-ministro nega a possibilidade de voltar a disputar cargos políticos, no entanto, mostra sua influência dentro do partido.

 

Afastado de cargos públicos desde que deixou o Conselho da Itaipu Binacional, o ex-ministro Carlos Marun atua como advogado e presta consultorias, sempre que requisitado. Marun, no entanto, não está afastado da política e, principalmente, continua influente dentro do MDB, tanto no diretório nacional quanto no regional de Mato Grosso do Sul. Essa influência faz com que ele mantenha opiniões fortes, como a de que o partido não pode abrir mão, antecipadamente, de lançar candidaturas próprias a cargos majoritários, como é o caso da disputa eleitoral pela prefeitura de Campo Grande, em 2024.

Para Marun, em qualquer pesquisa que se fizer, atualmente, o nome do ex-governador André Puccinelli aparece liderando e isso faz com que o MDB o tenha como pré-candidato.

“Podemos até mesmo compor com outras agremiações, mas isso vem somente lá na frente e se verificarmos que estas tenham nomes mais fortes que o nosso. O ex-governador André Puccinelli é, e sempre será, um nome forte, em qualquer disputa eleitoral, em Mato Grosso do Sul”, defende Marun.

No último dia 15 de abril, o MDB comemorou 60 anos de história e foi marcado por reuniões dos líderes do partido de Mato Grosso do Sul. Em entrevista ao jornal O Estado, Marun avalia que, mesmo que MDB tenha hoje participação no governo de Lula (PT) e no governo de Eduardo Riedel (PSDB), não pode deixar de buscar protagonismo.

“Hoje, o partido pode até ter perdido em representatividade, mas, nas próximas eleições, pode voltar a crescer, principalmente se não deixar de ser o que sempre foi para o país. Tanto no cenário nacional quanto no cenário estadual, o partido tem que estar presente nas disputas estaduais e municipais, com candidaturas próprias, principalmente nos Estados onde conta com candidatos competitivos, pois isso mantém o partido vivo”.

Marun também disse que está cada vez mais distante de voltar a concorrer a algum cargo, mas não descarta a possibilidade. Ele também falou sobre a possibilidade de a ministra Simone Tebet, que teve um desempenho muito ruim em Mato Grosso do Sul, em sua candidatura à presidente da República, de transferir seu domicílio eleitoral para São Paulo.

“A Simone Tebet é um dos principais quadros do MDB nacional, atualmente e é citada como potencial candidata à sucessão do presidente Lula, em 2026”, destaca.

Por fim, Marun disse que está aguardando a recuperação do deputado estadual Zeca do PT, para que seja remarcada a sessão de lançamento da Frente Parlamentar em Defesa da Rota Bioceânica, na qual receberá homenagem, juntamente com o ex-presidente da República Michel Temer. No dia 15 de abril, o MDB comemorou 60 anos de história e este foi marcado por reuniões dos líderes do partido, em Mato Grosso do Sul.

Aconpanhe a entrevista abaixo.

O Estado: O senhor aguarda a melhora de Zeca do PT para acompanhar o ex-presidente Michel Temer, em visita à Rota Bioceânica?

Carlos Marun: A Rota Bioceânica foi sonhada e proposta pelo ex-governador e agora deputado estadual Zeca do PT, juntamente com seu irmão, Heitor Miranda dos Santos e está em execução. O Zeca disse, recentemente, que o grande mérito da Bioceânica foi do governo Temer e meu, que conseguimos os recursos da Itaipu Binacional em uma negociação com o governo paraguaio, para acelerar a construção das pontes, o que é fundamental. E que, por ocasião da instalação da Frente Parlamentar em Defesa da Rota Bioceânica, propôs uma homenagem ao presidente e a mim.

Essa homenagem, no entanto, teve que ser adiada, em função dos problemas de saúde que o Zeca enfrentou e agora vamos esperar que ele se recupere, para que outra data venha a ser agendada. O ex-presidente Temer, como já havia confirmado presença na sessão solene que ocorreu no dia 22, agora, somente espera confirmação da nova data.

Além da sessão, também deveremos ir a Porto Murtinho e à localidade de Carmelo Peralta, onde nos encontraremos com o presidente do Paraguai, Mario Abdo Benítez, que também será homenageado.

O Estado: Qual a importância, para o Estado e o Brasil, dessa rota? Carlos Marun: A Rota Bioceânica ligará o Atlântico ao Pacífico, sendo uma obra que vai ligar Brasil, Paraguai, Argentina e Chile, criando um corredor de integração rodoviária rumo ao mercado asiático, que traz inúmeras perspectivas de desenvolvimento da economia para Mato Grosso do Sul e dos países e municípios que fazem parte da travessia. Isso cria todo um cenário promissor de novos negócios, emprego e renda, proporcionando desenvolvimento tecnológico, ambiental e no desenvolvimento pessoas.

O Estado: Em que estágio encontram-se as obras da Rota?

Carlos Marun: Ainda estamos muito longe de poder chamar todo o projeto de Rota Bioceânica, uma vez que não se trata da construção de uma rodovia, pois toda a rota tem diversos tipos de obras, como pontes em rios e em regiões com geografia bem diferentes. O mais importante é que há um esforço de governos de países como Brasil, Paraguai e Chile. O trecho da Rota no Pantanal e mesmo a obra, em Carmelo Peralta, também exige um grande esforço de engenharia

O Estado: O senhor acredita que, nos atuais governos estadual e federal, a Rota poderá ser concluída?

Carlos Marun: Terá que ser feito um esforço muito grande para que isso ocorra, pois ainda há muita coisa a ser feita, para a conclusão da Rota Bioceânica. Eu cito como exemplo as obras de acesso às pontes que não estão acessíveis e isso acaba resultando em pontes que não estão sendo usadas e trechos que precisam ser concluídos.

O projeto da Rota Bioceânica não é apenas a pavimentação da rodovia, mas tem diversas obras complexas que devem ser executadas, mediante o esforço de governos de países como Brasil, Paraguai e Chile.

O Estado: Recentemente, muitos partidos estão se fundindo ou virando federações. MDB e PSDB estão em negociações. Como estão as conversas? 

Carlos Marun: Acho que uma fusão entre o MDB e o PSDB é improvável, mas uma federação pode até acontecer, com o MDB se juntando ao PSDB e Cidadania, que já estão juntos, mas isso tem que ser objeto de uma ampla discussão. Existem peculiaridades regionais que precisam ser respeitadas. O MDB, hoje, está muito maior que o PSDB, em São Paulo, mas, em Mato Grosso do Sul, estamos menores. Para que ocorra a composição de uma federação, é necessário avaliar Estado por Estado, mas isso é possível de ocorrer.

O Estado: O MDB tem participação no governo Lula e também no governo Riedel. Isso pode se refletir na posição do partido para as próximas eleições?

Carlos Marun: O MDB é o MDB. Ele pode estar alinhado à base de apoio do governo federal ou integrar o governo aqui, em Mato Grosso do Sul, mas não pode perder a sua identidade, pois tem toda uma história a ser respeitada. Hoje, o partido pode até ter perdido em representatividade, mas, nas próximas eleições, pode voltar a crescer, principalmente se não deixar de ser o que sempre foi para o país. Tanto no cenário nacional quanto no cenário estadual, o partido tem que estar presente nas disputas estaduais e municipais, com candidaturas próprias, principalmente nos Estados onde conta com candidatos competitivos, pois isso mantém o partido vivo. Uma coisa é apoiar um governo, outra coisa é abrir mão de lançar candidaturas próprias.

O Estado: O MDB saiu dividido na última disputa, aqui, no Estado, por conta do apoio a Riedel e ao Contar, no segundo turno. Como isso vem sendo tratado?

Carlos Marun: Tem o MDB lulista, o MDB bolsonarista e outros MDBs e, no primeiro turno, quando tínhamos candidato ao governo, uma parte do partido acabou apoiando Eduardo Riedel e, no segundo turno, acabou acontecendo um racha entre Riedel e Contar. 

Isso é perfeitamente natural e tem que ser digerido internamente, para que o partido possa se reorganizar e chegar unido na próxima eleição, para conseguir eleger prefeitos e vereadores.

O Estado: Então, o senhor é favorável que o MDB tenha candidato a prefeito em Campo Grande?

Carlos Marun: Em Campo Grande, temos um nome que lidera qualquer pesquisa eleitoral, que é o do ex-governador e ex-prefeito André Puccinelli e isso deve ser levado em consideração, o partido não pode desistir por antecipação.

Podemos até mesmo compor com outras agremiações, mas isso vem somente lá na frente e se verificarmos que estas tenham nomes mais fortes do que o nosso. O ex-governador André Puccinelli é, e sempre será, um nome forte, em qualquer disputa eleitoral, em Mato Grosso do Sul. 

Um exemplo disso foi a última eleição, em que ele liderou todas as pesquisas e só não foi para o segundo turno por um fato isolado, aquela declaração do ex-presidente Jair Bolsonaro, no último debate do primeiro turno.

O Estado: O senhor ocupa algum cargo público atualmente?

 Carlos Marun: Estou atuando somente em meu escritório e cuidando da minha vida privada. Desde que deixei Itaipu, eventualmente apenas presto serviços de assessoria para governos que recorrem à minha experiência, seja como com político ou como gestor público.

O Estado: O senhor continuará atuando nos bastidores ou pretende voltar a disputar cargo eletivo?

Carlos Marun: Meu filho nasceu eu era secretário da prefeitura de Campo Grande e passei quase toda a infância dele comprometido com a política e, quando percebi, ele estava com bigode nascendo. Fui muito cobrado pela minha família. Na eleição de 2018, o meu nome aparecia com possibilidades de entrar na disputa para vários cargos, mas, devido a um convite do presidente Temer, acabei desistindo de concorrer, para acompanhá-lo na conclusão do seu governo.

Acabei indo para o Conselho da Itaipu e em 2022 fui novamente cogitado para entrar na disputa, por conta de ainda haver, nos meus eleitores, uma lembrança do meu nome, mas, desta vez, enfrentei uma grande resistência da minha família, o que acabou me levando a não concorrer. Com o tempo passando, naturalmente vamos nos distanciando do eleitorado e fica mais difícil disputar eleição. De qualquer forma, continuo atuando nos bastidores e não descarto voltar a concorrer, mas isso vai ficando cada vez mais distante.

O Estado: O MDB teve a atual ministra Simone Tebet como candidata à presidente da República e hoje ela cogita transferir o título para São Paulo. Como o senhor avalia essa possível mudança de domicílio?

Carlos Marun: A Simone Tebet é um dos principais quadros do MDB nacional, atualmente, e é citada como potencial candidata à sucessão do presidente Lula, em 2026.

Aqui no Estado, por conta da polarização entre o Lula e Bolsonaro, sua candidatura, como opção de terceira via, acabou não sendo bem-sucedida, mas, em outros Estados, como São Paulo, por exemplo, acabou sendo muito bem recebida, inclusive pelo MDB de lá.

Eu não conversei com a Simone ultimamente, mas tive conhecimento de que ela cogitou transferir o título, mas o assunto meio que esfriou agora, como ela tem uma gigantesca tarefa como ministra, provavelmente, só vai falar sobre isso daqui a algum tempo.

 

Por Tamires Santana – Jornal O Estado de Mato Grosso do Sul

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