O Brasil reage polarizado ou o Brasil é um país politicamente polarizado?

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Foto: reprodução

Nessa segunda-feira (30), completou-se um ano da eleição que derrotou Bolsonaro e elegeu, pela terceira vez, Lula como presidente do Brasil. Do primeiro discurso após o resultado ao slogan do seu governo (União e Reconstrução), o presidente vem defendendo enfaticamente a necessidade de unir o país. 

No discurso de posse, Lula afirmou que “não existe dois Brasis. Somos um único país, uma grande nação. A ninguém interessa viver num país dividido, em permanente guerra. Este país precisa de paz e de união. Esse povo não quer mais brigar. Esse povo está cansado de enxergar no outro um inimigo a ser temido ou destruído”. 

De lá para cá, pouca coisa mudou e os dados mostram que unir o Brasil parece ser uma missão quase impossível. De acordo com pesquisa realizada recentemente pela Quaest, intitulada “O que esperar do Brasil?” mostrou-se que 41% dos brasileiros gostariam de mudar de país por causa da polarização política que se estabeleceu entre os apoiadores de Lula e Bolsonaro. Brasileiros que romperam relações por causa política representam 54% dos entrevistados, sendo que a maioria afirma não se sentir mal por ter encerrado relações. 

A pesquisa revelou também que: 35% dos brasileiros preferem assistir a um canal de TV que apresente conteúdos a partir daquilo que eles acreditam politicamente; 32% reprovam o casamento do filho com alguém que votou diferente; um em cada quatro brasileiros mudaria o filho de escola, caso tivesse a maioria de pais que votaram no candidato adversário; 23% registram que poderiam deixar de ouvir música de um artista que apoiou o candidato adversário; 19% deixaram de comprar produtos de marcas que apoiaram o candidato adversário; 10% mudariam de igreja se o padre/pastor apoiou o candidato adversário. 

Os dados mostram realmente um país dividido, mas a pergunta que ando me fazendo é: o Brasil segue polarizado ou o Brasil é um país politicamente polarizado? Ao que me parece, resumir a polarização brasileira a partir da eleição de Lula versus Bolsonaro seria minimizar o real problema. Até acho que esta eleição polarizou ainda mais o país, mas, para mim, o Brasil é um país politicamente polarizado, fruto da desigualdade racial, econômica, agrária, social, de gênero e étnica. 

As desigualdades geram polarizações que não serão dirimidas de forma simples. Estamos falando de projetos de sociedade antagônicos. Há um grupo de brasileiros de direita e de esquerda que, apesar de suas muitas diferenças (e que bom que elas existem), acreditam na democracia, na Constituição Federal e na relevância do Estado para dirimir as desigualdades, mas, no outro ponto, a partir da eleição do Bolsonaro, ganhou força um grupo extremista de direita, que sobrevive exatamente da polarização, da negação de direitos e da tentativa de implodir a democracia, negando o valoroso papel do STF, da urna eletrônica, da vacina, da ciência, da Constituição Federal, das Universidades, da OAB e de tantas outras instituições. 

O Brasil deixará de ser um país polarizado a partir do momento que vencermos minimamente nossas tantas desigualdades, pois são elas que ainda garantem que pessoas extremistas entrem na política, alcancem espaços de poder e intensifiquem polarizações destrutivas à democracia. A polarização que vivemos não é característica da democracia, mas da tentativa de exterminá-la. 

“Até acho que esta eleição polarizou ainda mais o país, mas, para mim, o Brasil é um país politicamente polarizado fruto da desigualdade racial, econômica, agrária, social, de gênero e étnica”

Por – Tiago Botelho

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