França suspende pelo menos três mil agentes de saúde antivacina

França suspende pelo menos três mil agentes de saúde antivacina
Foto: Presidente da França deste 2017

A vacinação compulsória para a categoria é uma das medidas do governo para conter o avanço da variante delta

O governo francês anunciou ontem (16) a suspensão de cerca de 3.000 funcionários de saúde e cuidadores que não se vacinaram contra a COVID. A imunização foi tornada obrigatória para esses profissionais em julho, e o prazo para a categoria se esgotou na quarta (15).

Embora o número represente cerca de 0,4% dos 2,7 milhões de trabalhadores nessa área no país, o SNPI (Sindicato Nacional dos Profissionais de Enfermagem) afirmou que suspensões podem agravar uma falta de mão de obra que já deixa 10% das vagas desocupadas.

Pelos números da Saúde Pública da França, até 7 de setembro 16% dos cuidadores de asilos e funcionários de hospitais ainda não haviam cumprido a exigência. Entre os clínicos gerais e enfermeiros autônomos, a fatia de não imunizados é de 9%.
Isso significa que, no total, que cerca de 150 mil servidores podem ser passíveis de suspensão, durante a qual não podem frequentar os locais de trabalho e deixam de ser remunerados.
Em entrevista à rádio francesa RTL na manhã de ontem, o ministro da Saúde, Olivier Véran, afirmou que os serviços de saúde estão assegurados “em todos os hospitais e instalações médico-sociais” e que a maioria das suspensões deve ser temporária.
A vacinação compusória para profissionais de saúde foi uma das medidas do pacote do governo francês para conter o avanço da variante delta. A medida também foi adotada em países como Itália, Hungria e Grécia, e está em discussão no Reino Unido.

A França também tornou obrigatória a apresentação de um certificado de vacinação para frequentar restaurantes, bares e espaços culturais, o que desencadeou protestos em várias cidades, mas fez também subir o número de doses aplicadas no país.
Cerca de 85% dos franceses adultos tomaram todas as doses prescritas contra o coronavírus, e o país iniciou a imunização de crianças a partir de 12 anos e a aplicação de uma dose extra para os cidadãos vulneráveis. Há hoje na França cerca de 10.800 pacientes hospitalizados com Covid, pouco mais de um terço dos 30.800 registrados no pico de abril deste ano, mas mais que o dobro dos 4.500 de agosto do ano passado.
O país registra atualmente 9.800 novos casos de infecção por dia, em média, contra 24.600 há um mês.

Intertítulo – Sindicatos

Na terça-feira (14), profissionais de saúde da França manifestaram-se contra a medida, ameaçando uma greve geral nas próximas semanas. “Há muitas pessoas contra, portanto acho que estamos prontos a passar para uma greve geral”, disse Coralie, enfermeira que se manifestou em frente ao Ministério da Saúde e da Solidariedade em Paris.

Coralie trabalha em um hospital nos arredores da capital francesa e teme como o seu serviço vai funcionar, já que os colegas não vacinados não vão poder trabalhar, o que considera uma situação insustentável. “Caso essas pessoas sejam retiradas de funções, vai sobrar para nós, as pessoas que se vacinaram devido à pressão das hierarquias, e os pacientes vão demorar ainda mais a ser atendidos”, afirmou.
A vacinação não é só obrigatória para todos os que trabalham nos hospitais, incluindo pessoal administrativo, mas também em todos os lares, unidades de cuidados continuados, centros de saúde, assim como estudantes na área da saúde que vão a essas unidades, além de bombeiros e militares com missões civis.

Para a CGT, uma das maiores centrais sindicais da França, a medida serve para “esconder” a falta de investimento na saúde, mesmo em tempos de pandemia, e gerar a desconfiança da população nos profissionais do setor. “O problema não é a vacinação, o problema é que querem nos estigmatizar e apontar o dedo, dizendo que nós contaminamos as pessoas. Assim, não falamos dos verdadeiros problemas: a falta de pessoal e o orçamento reduzido da saúde”, afirmou Asdine Aissiou, secretário-geral da CGT no hospital Pitié-Salpêtrière.

(Texto: Ana Estela de Sousa Pinto, Folhapress)

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