Grupos e bancadas religiosas são formados nas Casas Legislativas
Por Rayani Santa Cruz – Jornal O Estado
Candidatos a cargos políticos de Mato Grosso do Sul buscam cada vez mais angariar votos dos religiosos: além dos grupos de evangélicos, muitos se referem a outras ramificações como católicos, espíritas e seguidores de religiões de matrizes africanas.
Apesar de o Brasil ser um estado laico, em todas as esferas de poder existem os grupos e bancadas religiosos, principalmente um domínio das bancadas evangélicas. Entre os que disputam o governo do Estado, o candidato Marquinhos Trad (PSD) e Rose Modesto (União) são os que têm boa parte do eleitorado entre os evangélicos.
Essa ligação dos candidatos com a religião e a busca desse eleitorado é uma estratégia utilizada por centenas de concorrentes.
O deputado estadual Antônio Vaz (Republicanos), e que tenta a reeleição, afirmou ao jornal O Estado que antes da vida política sempre trabalhou em grupos evangélicos. Questionado sobre como age para angariar a confiança desses eleitores, e dos novos evangélicos, já que tem essa base eleitoral consolidada, o deputado respondeu que em razão da luta pelos evangélicos o seu nome se fortaleceu.
“Sou pastor há 28 anos, mesmo antes de entrar no meio político eu já trabalhava em prol do evangelho. Quando assumi como parlamentar, mantive meu compromisso de lutar pelas causas da obra de Deus e com isso montamos uma base eclesiástica que se fortaleceu muito durante o mandato. Nosso compromisso com a base evangélica sempre foi cumprido, honramos a confiança em nós depositada e com certeza isso se refletirá nas eleições.”
O candidato a vice-governador pelo PRTB, Humberto Figueiró, fez críticas aos diversos candidatos que utilizam da religião para convencer os eleitores, mas que não praticam de fato o que pregam.
“Este é um tema espinhoso porque existe um candidato ao governo que era autointitulado de ‘Deus e dizia até que conversava diariamente com Deus’, e quem sou eu para atacar a isso… Mas o processo eleitoral depura as candidaturas e essa a meu Valentin Manieri Alves na Marcha para Jesus em companhia dos candidatos Eduardo Riedel e Tereza Cristina ver se enfraqueceu. Existem outras candidaturas que se dizem evangélicas, e que demonstram incoerência entre o que a igreja prega com a prática que estamos falando no aspecto politico.”
Figueiró disse que a estratégia de tentar obter votos de evangélicos será efetivamente realizada em parceria com o promotor Sergio Harfouche, do Avante, partido coligado.
“A nossa candidatura conta com um reforço incrível, que é o nome do Sergio Harfouche, que fez a coligação conosco. E não tenho dúvida que ele vai poder capitanear uma imensa maioria de evangélicos que agora têm uma representação legítima. E esse conservadorismo de fato, e não de retórica. De Deus, Pátria, Família e Liberdade na essência.”
Puccinelli amplia leque
O candidato ao governo pelo MDB, André Puccinelli, não escolheu apenas um nicho e, inclusive, em seu discurso durante a convenção pediu apoio a todos os seguidores de religiões e exaltou os católicos, evangélicos, espíritas e seguidores de religiões de matizes africanas. Puccinelli é daqueles que gostam de falar com todos os públicos e, por isso, evita se dirigir a apenas um nicho do eleitorado.
Marquinhos Trad (PSD), que é evangélico tem uma base eleitoral forte entre os “crentes” do Estado, é conhecido por discursar sempre usando a tônica religiosa com comentários sobre Deus e fé. Após denúncias de assédio sexual, ele tenta mostrar aos eleitores que não praticou crimes. Para o sociólogo Paulo Cabral, por ser da religião e pregar moralmente outro comportamento, Marquinhos pode ter perdido boa parte dos votos dos evangélicos.
No entanto, o cientista político Tito Machado acredita que os efeitos negativos ao candidato serão mínimos, já que estruturalmente a sociedade como um todo aceita a situação, mesmo entre os religiosos, já que Trad afirma que o caso se tratou apenas de adultério, e que pediu perdão a Deus e à família.
Embora alguns candidatos não comentem diretamente sobre religião, muitas vezes participam de atos religiosos, como aconteceu na Marcha para Jesus, em Campo Grande; quando a ex-ministra Damares Alves esteve na Capital, o candidato do PSDB, Eduardo Riedel, esteve no evento ao lado dela junto com os fiéis. E a seu lado também esteve a candidata ao Senado, pelo PP, Tereza Cristina.
Registro como pastor
Em consulta ao sistema de divulgação de candidaturas do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) foi constatado que até o momento existem seis registros de candidatos que colocaram o nome “pastor ou pastora” para concorrer. Claro que há diversos outros pastores evangélicos entre os postulantes, mas que não usaram o termo. Este é o caso do vereador Betinho (Republicanos) e do vereador Gilmar da Cruz (Republicanos); ambos pastores.
Leitora quer cuidado
Leitora do jornal O Estado, de 34 anos, informou que é evangélica desde o nascimento, mas que não vota por bancada de evangélicos. Ela vota pensando nas propostas, na qualificação do candidato e principalmente na humanidade.
“Vejo se vai atender e lutar pelas demandas do povo ou se vai apenas trabalhar para o grupo de pessoas que pensa igual a ele.”
A leitora informa ainda que pastores deveriam se abster das questões políticas. “O pastor pode influenciar negativamente no meu voto. Como evangélica, se o pastor da igreja que frequento tentar influenciar o meu voto ou dos fiéis que ali estão, trazendo candidatos políticos para discursar na igreja, já me retiro do local e até cogito em mudar de igreja. São papéis que não devem se misturar. O político em sua função deve governar para o povo, para o Estado laico. O pastor deve pastorear seu rebanho, no caso os fiéis de sua igreja com o credo da igreja. São coisas distintas.”
Confira mais notícias na edição impressa do Jornal O Estado do MS.
Acesse também as redes sociais do O Estado Online no Facebook e Instagram.