O Brasil passou por seu primeiro grande teste como anfitrião da COP30 durante as Reuniões Climáticas de Junho, encerradas na noite de quinta-feira (26), em Bonn, na Alemanha. O encontro, que reuniu representantes de quase 200 países ao longo de 10 dias, teve como objetivo preparar o terreno para a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, que ocorrerá em novembro, em Belém (PA).
Apesar de avanços considerados importantes, a reunião deixou claro que o caminho até Belém será repleto de negociações difíceis e impasses antigos.
Financiamento climático domina discussões
Logo nos primeiros dias, países em desenvolvimento bloquearam a abertura oficial das negociações, exigindo a inclusão do financiamento climático na pauta. Também colocaram em debate questões comerciais, como as taxas de carbono cobradas por países europeus sobre produtos importados.
Embora o financiamento não fosse um tema formal da conferência, ele acabou dominando boa parte das discussões — reflexo direto da frustração com a falta de avanços na revisão das metas de repasses financeiros, pendente desde a COP29, em Baku, no Azerbaijão. A tendência é que esse tema seja central nos debates da COP30.
Prioridades brasileiras avançam com desafios
A delegação brasileira chegou ao encontro com três prioridades centrais: transição justa, adaptação e o diálogo do balanço global. Os resultados foram variados:
Transição justa: foi o tema com maior progresso. Um texto foi produzido abordando como a transição para uma economia de baixo carbono pode ocorrer de forma socialmente justa, considerando os impactos sobre populações vulneráveis e setores mais afetados pela descarbonização.
Adaptação: a discussão sobre a meta global de adaptação (GGA, na sigla em inglês) foi uma das mais difíceis. O impasse gira em torno do financiamento para países pobres, que cobram apoio dos mais ricos para implementar ações que os ajudem a lidar com os efeitos das mudanças climáticas. Um texto foi aprovado, mas com diversos pontos de desacordo entre as partes.
Diálogo do balanço global (Global Stocktake): responsável por avaliar se os países estão cumprindo as metas de redução de emissões, o tema avançou parcialmente. Dois textos distintos serão encaminhados para Belém, ainda com pontos de divergência abertos.
Brasil avalia encontro como produtivo
Ana Toni, diretora-executiva designada para a COP30, avaliou a conferência como positiva, mesmo diante dos desafios. “Demorou muito para aprovarmos a agenda, mas no final as negociações andaram. Estamos aprovando a maioria dos textos, com colchetes e opções, mas agora temos textos para trabalhar”, afirmou em vídeo publicado nas redes sociais.
Para Toni, a conferência em Bonn foi essencial para identificar os principais desafios e alinhar as expectativas para o encontro de novembro. “Foram duas semanas muito produtivas e que, sim, entregaram os textos que a gente precisava para essa etapa da nossa trajetória para Belém. Saímos daqui felizes, tendo atingido os objetivos”, declarou.
Com isso, o Brasil avança como anfitrião da COP30, mas já ciente de que terá o papel de mediador em um cenário internacional complexo, marcado por tensões entre países ricos e pobres, além da urgência de ações concretas contra a crise climática.
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