Pelo menos três fiscais sanitários federais de Mato Grosso do Sul estão entre os acusados pela Polícia Federal de receberem propina da JBS para fazerem vistas grossas na fiscalização do abate de bovinos nas duas unidades da empresa no Estado, em Campo Grande e Cassilândia. Foram gastos, ao todo, cerca de R$ 6 milhões em propinas, disfarçados na contabilidade com o uso de documentos falsos.
As informações foram divulgadas pela Polícia Federal de Mato Grosso, que desencadeou na manhã de ontem (10) a segunda fase da “Operação Porteira Aberta”, que combate a corrupção de fiscais responsáveis por verificar os processos da JBS. Segundo a autarquia federal, a empresa pagaria altos valores não só a fiscais, como também a veterinários do Serviço de Inspeção Federal, para burlar os mecanismos de abate do gado. Eles emitiam certificados sanitários, mesmo sem terem sequer inspecionados os frigoríficos.
Além das duas cidades de Mato Grosso do Sul, o pagamento da propina acontecia nas unidades da JBS em Anápolis (GO) e outras nove cidades de Mato Grosso, além de Pernambuco, Paraná e Santa Catarina. Ao todo, 15 servidores federais foram alvos da atuação da PF.
Todos os valores e planilhas foram descobertos pelos agentes na primeira fase da operação, em junho de 2018, e também através de delações premiadas de funcionários da empresa em acordos feitos com o Ministério Público Federal. Ainda de acordo com a PF, o valor pago das propinas varia entre R$ 5 mil e R$ 25 mil mensais, descritos em balanços como “pagamentos de serviços de marketing”.
“Mas o CPF usado para lançar esses valores entre 2010 e 2014 era de uma pessoa que morreu em 2009”, disse o delegado Rafael Valadares, da PF de Barra das Garças (MT), que chefiou a operação. Em entrevista coletiva, ele explicou que o pagamento da propina aconteceu até 2017, quando foi desencadeada a “Operação Carne Fraca”.
Segundo Valadares, os servidores vão responder por corrupção ativa e passiva e organização criminosa, cujas penas somadas pode render até 20 anos de prisão. Os mandados foram expedidos pela Justiça Federal de Barra do Garças (MT), que ainda determinou o sequestro de valores pertencentes a quatro fiscais, totalizando mais de R$ 5 milhões. Por nota, a JBS informou ao O Estado que “que nenhuma unidade da empresa foi alvo da segunda fase da operação Porteira Aberta. A empresa reforça que a operação em curso não tem qualquer relação com a qualidade dos produtos da empresa, cujos processos produtivos seguem padrões e normas internacionais”.
(Texto: Rafael Ribeiro)