“Demônio no corpo”, diz testemunha sobre autor do crime

William Dias Duarte Comerlato estava na viatura com Ozeias

Única testemunha a presenciar a execução de dois policiais civis da Derf (Delegacia Especializada em Roubos e Furtos) na terça-feira (9), o tapeceiro de 30 anos que estava algemado na viatura descaracterizada deu uma explicação no mínimo curiosa sobre o que pode ter levado o vigia Ozeias Silveira de Morais, 44, a cometer o crime: possessão demoníaca.

Em seu primeiro depoimento formal sobre o ocorrido, na noite da quarta-feira (10), no Garras (Delegacia Especializada de Repressão a Roubos a Banco, Assaltos e Sequestros), onde está preso, William Dias Duarte Comerlato disse que Morais “parecia estar com o demônio no corpo” e voltou a reiterar que não sabia que o comparsa estava armado e que tomaria tal atitude.

Na explicação de Comerlato, Morais atirou após ser questionado pelos investigadores Jorge Silva dos Santos, 50, e Antônio Marcos Roque da Silva, 39, sobre o paradeiro dos itens de ouro roubados de uma joalheria no Centro, em 21 de maio. “Os policiais perguntaram umas três vezes e daí ele perdeu a cabeça”, explicou o tapeceiro, que disse ter ficado assustado com a atitude e alegou que correra do carro “para pedir ajuda, não fugir”. “Minha perna batia tanto que não consegui sair do carro, saí quando o sangue do moço da frente começou a espirrar em mim. Nunca imaginei que veria algo assim”, justificou.

A cautela das investigações, ainda comedidas pela tragédia, não fazem com que policiais ouvidos pelo O Estado acreditem na versão. Há um vínculo: Morais é tio da atual mulher de Comerlato. Mas este, no depoimento, negou que ele ou ela tivessem contato frequente. Na dinâmica dos fatos explicados pelo tapeceiro, ele estava em sua casa, no bairro Tiradentes, quando os investigadores da Derf chegaram. A princípio, o prenderam cumprindo mandado de prisão em aberto, por conta de sentença dada em 14 de agosto de 2018, da 1ª Vara da Família.

No banco traseiro do carro, algemado, Comerlato relata que os policiais lhe perguntaram sobre Morais, se o conhecia e sabia do seu endereço. Diante da confirmação, o trio seguiu então até o vizinho Maria Aparecida Pedrossian. Lá, o vigia foi convidado a ir até a sede da Derf, na Vila Sobrinho. Ele embarcou no Fiat Mobi branco, de pochete, no banco de trás, sem estar algemado e sem ser revistado. E foi só na Avenida Joaquim Murtinho que o assunto joalheria teria sido abordado.

Santos e Silva apuravam o crime da joalheria, quando foram levados duas correntes de ouro, 58 gramas de ouro, 16 gramas de ouro branco, aproximadamente 300 peças com brilhantes, lâminas de cheque e R$ 4,8 mil em dinheiro. Nas imagens das câmeras de segurança, um motoqueiro com capacete armado entra no local e aborda o dono no momento em que transportava os valores para o cofre. A suspeita é de que esse acusado seja Comerlato. A defesa nega. Morais entrou na mira por supostamente estar oferecendo as joias no mercado negro.

As investigações prosseguem. Após a repercussão do caso, comerciantes teriam procurado a polícia identificando o vigia como autor de crimes em diversas regiões da Capital. Um choque para seu convívio social. O síndico do condomínio onde ele trabalhava na Chácara Cachoeira o relata como um homem empenhado e dedicado no trabalho. Familiares nunca viram nada de anormal, nem no fato de ele ter uma arma registrada em seu nome, já que seria parte do seu trabalho. O revólver calibre ponto 38 estava registrado e regulamentado.

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(Texto: Rafael Ribeiro/Publicado por João Fernandes)

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