Secretarias de Saúde avaliam remanejar fluxo de pacientes

Com iminente falta de condições de assistência médica pela superlotação, a Santa Casa de Campo Grande pediu socorro ao poder público na manhã de ontem (22). Em resposta, às secretarias municipal e estadual de Saúde afirmaram que, em breve, será acordado a retomada de procedimentos no Hospital do Pênfigo e Humap-UFMS (Hospital Universitário Maria Aparecida Pedrossian), contribuindo para desafogar o hospital. Apesar disso, as pastas alegam que a instituição recebeu recursos suficientes para atendimento à pacientes SUS (Sistema Único de Saúde).

O presidente da Santa Casa de Campo Grande, Heitor Freire, frisou que, a instituição vive uma realidade dramática. “Há três, quatro anos, não tínhamos macas nos corredores”, disse. Conforme Freire, a prioridade neste momento é reorganizar o fluxo de pacientes.

Para a infectologista da instituição, Priscila Alexandrino, a Santa Casa chegou ao colapso porque absorveu uma demanda de pacientes e procedimentos sem precedentes durante a pandemia de COVID-19.

De acordo com a médica, os atendimentos foram quadruplicados e, há cerca de dois meses, o hospital possui pacientes todos os dias em ventilação manual. “Chegamos no limite com cinco pacientes em ambu”, disse, se referindo aos atendimentos de quarta-feira (21).

O supervisor da Ginecologia e Obstetrícia, William Leite afirmou que, os deslocamentos de pacientes do HRMS para a Santa Casa, aliado a defasagem da assistência básica, provocaram uma crise no atendimento à mães e bebês. Segundo Leite, a UTI (Unidade de Terapia Intensiva) neonatal não possui condições de atendimento, com falta de insumos e antibióticos adequados.

“De janeiro a outubro deste ano, fizemos mais de 300 atendimentos de alto risco, em 2019, foram cerca de 100”, ressaltou Leite.

Vagas-zero

Outra situação apontada pela Santa Casa de Campo Grande é incapacidade de admissão de pacientes vaga-zero, ou seja, com risco iminente de morte. Conforme a instituição, há equívocos durante a regulação de vagas que obrigam o hospital a tratar pacientes que nem sempre se enquadram nesta categoria.

Dados da Santa Casa apontam que, de sábado (17) até quarta-feira (21), 521 pacientes foram admitidos como vaga-zero. Destes, 44 foram encaminhados ao setor de pediatria; 117 para a maternidade e 360 referentes a atendimentos no geral.

A taxa de ocupação atual da UTI adulta está em 100%, com pacientes internados em todos os 70 leitos habilitados. A taxa de ocupação na UTI pediátrica e neonatal está em 90%. Dos 609 leitos ativos no hospital, 517 estão ocupados, sendo 485 só com pacientes SUS.

SES rebate hospital

O secretário estadual de Saúde, Geraldo Resende, afirmou que todos os pagamentos destinados à Santa Casa estão em dia. “Somente do governo estadual, os repasses foram de R$ 1,75 milhão a mais na pandemia”, disse. Conforme Geraldo, do governo federal, os recursos destinados à instituição foram superiores à R$ 6 milhões.

O titular da SES (Secretaria de Estado de Saúde) questionou ainda o porquê de pacientes estarem em ventilação manual se a SES “forneceu equipamentos suficientes à instituição”. Em sua opinião, é preciso agora, checar os números do hospital com os da secretaria, para verificar o que de fato está contratado com o que está em defasagem.

A aposta da SES para a redistribuição de vagas é a regionalização da saúde. Resende afirmou que já se reuniu com Humap-UFMS e terá uma reunião com o Hospital Evangélico, de Dourados, para discutir o remanejamento do fluxo de pacientes.

Por sua vez, o titular da Sesau (Secretaria Municipal de Saúde Pública), José Mauro Filho, acredita que para atender a demanda de pacientes não COVID, é necessário reorganizar todo esse fluxo de pessoas, inclusive de forma interna, na própria Santa Casa.

O secretário acredita que a contratualização de 20 leitos de UTI no Hospital do Pênfigo, além de 20 leitos clínicos, ajudará no processo de normalização do atendimento na Santa Casa. Para o HRMS (Hospital Regional de Mato Grosso do Sul), ainda será decidido quantos leitos serão destinados para pacientes sem o coronavírus, conforme José Mauro. “Dentro de uma semana a quinze dias, esse fluxo vai se normalizar”, afirmou.

Mediação do MPMS

De acordo com a promotora do MPMS (Ministério Público de Mato Grosso do Sul) Filomena Aparecida Fluminhan foi acordado durante a reunião entre a Sesau, Santa Casa e Ministério Público, na quarta-feira, a prorrogação da contratualização de leitos no hospital pelo município.

“O contrato com a Santa Casa, que venceria em 30 de novembro, foi prorrogado por 90 dias no mínimo, até o final do mês de fevereiro. Para que isso possa ser ajustado com a situação atual, de demanda do aditivo de urgência e para que as situações atuais sejam encaminhadas”, frisou Fluminhan.

Uma nova reunião entre as autoridades está marcada para hoje (23) para tratar de soluções para a superlotação.

(Texto: Mariana Moreira)

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