MS sofre com falta de profissionais intensivistas

Rapidez para ampliar leitos não é a mesma para repor especialistas, que Precisam de 2 anos de capacitação

A Santa Casa de Campo Grande já não tem mais médicos intensivistas suficientes para atuar nas UTIs (Unidades de Terapia Intensiva). Para completar as escalas, o hospital tem colocado médico de outras especialidades para atuarem nos chamados leitos críticos, junto com os intensivistas, que supervisionam os não especialistas. Além disso, todos os residentes de diversas especialidades, com mais de dois anos de tempo de casa, foram convocados para ajudarem no acompanhamento dos pacientes em leitos de terapia intensiva. Tudo isso é para conseguir manter o atendimento aos pacientes, demanda que continua crescendo na Capital.

O presidente da Sosmati (Sociedade Sul-Mato-Grossense de Terapia Intensiva), Sérgio Félix Pinto, afirma que, com a ampliação dos leitos de UTI, os problemas começaram. “Não temos profissionais da área médica, de enfermagem, fisioterapia e todas as outras áreas que trabalham junto, habilitados suficientemente para essa expansão no número de leitos. Isso é uma situação muito complicada e difícil de lidar”, garantiu o médico intensivista.

De acordo com o presidente da Sosmati, um profissional capacitado para lidar com o ambiente de uma UTI leva, no mínimo, dois anos para ser formado e a falta deles pode influenciar, inclusive, no aumento de mortalidade. “Abriram uma série de UTIs que não têm o mínimo suporte e a mínima condição de funcionar. Não tem profissional suficiente, não tem intensivista, os profissionais que existem não estão habilitados e não sabem cuidar de pacientes COVID e de pacientes mais graves, o que reflete no aumento de mortalidade que não era para ter. Começam a ter complicações que não eram para ocorrer. São situações críticas”, relatou.

A presidente da AMMS (Associação Médica do Mato Grosso do Sul), Maria José Maldonado, chama a atenção ainda para o adoecimento dos profissionais de saúde. Desde o início da doença, mais de 2 mil profissionais já foram infectados pelo novo coronavírus no Estado. “Os médicos, enfermeiros e fisioterapeutas que estão em contato direto com o paciente são os que mais pegam a COVID-19, e não há profissionais capacitados para colocar no lugar. Temos agora que complementar o plantão com médicos não especializados. Você começa a não ter todos os profissionais que trabalham na UTI titulados em medicina intensiva, e isso já está acontecendo”, alertou.

Quem não é acometido pela doença também tem sofrido em plantões cada vez mais sobrecarregados. A informação é do presidente do Sinmed (Sindicato dos Médicos de Mato Grosso do Sul), Marcelo Santana Silveira. “À medida que vai aumentando a necessidade por leitos, chega um momento que, devido aos afastamentos dos profissionais no decorrer da pandemia, você não consegue de uma forma muito rápida substituir esses profissionais. O que nós percebemos é que diversos profissionais estão aumentando muito a sua carga horária de trabalho para cobrir aqueles que estão afastados. Isso é um fato bem real e que, inclusive, já aconteceu comigo. É uma situação que eu vivencio”, contou.

Situação crítica

O secretário de Estado de Saúde, Geraldo Resende, há dias tem anunciado que, após a abertura de 98 leitos de UTI (Unidade de Terapia Intensiva), prevista pela pasta para os próximos dias, Mato Grosso do Sul não terá mais profissionais especializados no atendimento a pacientes de leitos críticos. Apesar do cenário crítico confirmado por médicos, o titular da Sesau (Secretaria Municipal de Saúde), José Mauro Filho, garante que Campo Grande ainda não trabalha em regime de contingenciamento de profissionais. “Em alguns países, por exemplo, os médicos que foram adoecendo, foram substituídos pelos menos especialistas, podemos dizer assim, depois pelos médicos recém-formados e depois por estudantes de medicina. Quando os estudantes começaram com os atendimentos, os médicos que haviam adoecido no início começaram a voltar ao trabalho”, pontuou.

O secretário reiterou que a ampliação de leitos hospitalares ocorre de acordo com as taxas de ocupação, estratégia usada para evitar gastos e investimentos desnecessários. “Quando eu falo em percentual de leitos que não forem ocupados, isso quer dizer que a cada 10 leitos, eu tenho um custo aproximado de R$ 500 mil por mês. Se eu tiver 70 leitos vazios, terei um custo de R$ 3,5 milhões alocados em unidades vazias, o que não é uma estratégia economicamente prudente. Por isso, aumentamos os leitos de acordo com as taxas de ocupação. Toda vez que as taxas beiram os 90% de ocupação, nós abrimos mais 10 leitos de UTI”, frisou.

A Sesau afirmou que a prefeitura mantém processo seletivo de contratação temporária em aberto e tem feito periodicamente chamamentos para atender essa demanda eventual. A SES reiterou que não realiza contratação de recursos humanos, e que esta é uma responsabilidade direta dos gestores municipais e das instituições hospitalares.

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(Texto: Mariana Moreira)

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