D. Varella: Vacina pode ser útil só em futura epidemia

Com ao menos quatro vacinas em fase de testes ou começando a serem testadas no Brasil, pode passar a sensação de que a pandemia do novo coronavírus está chegando ao fim por aqui. Mas não se engane. Para o médico Drauzio Varella, ainda vai demorar para que as vacinas sejam disponibilizadas à população e é preciso continuar combatendo o vírus com medidas de distanciamento social e uso de máscara.

“A vacina não vai resolver o problema atual”, disse o médico em entrevista à GloboNews na última semana. “[Com os testes das vacinas,] os politico erram muito. Dão à população uma falsa segurança, que daqui a pouco vamos voltar aos estádio, aos bares”, declarou.

“Pode ser que quando chegue, essa vacina não seja mais tão necessária assim. Até o meio do ano que vem, pode ter virado uma gripe, uma pneumonia mais arrefecida. Agora é a hora de evitar a aglomeração, de usar máscara. Não usar máscara agora é um absurdo tão grande. O que leva um cidadão a não usá-la? É uma estupidez. Por que no auge de uma epidemia a pessoa não usa máscara?”, questionou.

“Se você pegar a história das vacinas, não tem nenhuma produzida em meses. Elas levaram anos para serem feitas. Precisa mostrar que a vacina tem capacidade de imunizar contra a doença, e isso leva tempo. Nessa daqui,a pressão é tão grande, que vamos ter estudos mais ou menos completos. Serão estudos inicias ainda”, disse.

“Aí vamos ter outro problema. Vamos dizer que tudo corra bem com essas 2 vacinas testadas no Brasil. Vamos ter a fase de fabricação, e quem tem que ser vacinado no Brasil? São 210 milhões de pessoas. Não temos experiência anterior com uma vacina que precisasse para tanta gente. Como vão ser preparadas as vacinas? Como vão ser as instalações? Teremos frascos para embalar todas elas?”, acrescentou.

O novo normal

Nesta semana, João Doria, governador de São Paulo, autorizou que bares e restaurantes pudessem ficar abertos até às 22h. Drauzio disse que, do ponto de vista científico, a medida não deveria ser adotada, mas que as autoridades precisaram lidar com outras pressões para iniciar a retomada.

“Se você for analisar do ponto de vista cientifico, não vai encontrar um epidemiologista que vai dizer que está na hora de abrir, tendo 1.000 mortes por dia. Nas grandes cidades brasileiras, está morrendo um monte de gente ainda. A questão do isolamento é que ele precisa ser feito de cara e não pode ser muito prolongado. E a gente nunca teve isso por aqui”, explicou.

Quanto à voltas às aulas no segundo semestre, o médico lembrou que, apesar de as crianças estarem mais protegidas contra a covid-19, outras pessoas podem ser colocadas em risco.

“Tem vários aspectos. Primeiro: alguém precisa levar a criança para escola e depois trazer de volta para a casa. E com essa epidemia não tem conversa. É um vírus altamente contagioso. Se você se expõe, você se infecta. Quanto mais gente se expõe, mais gente se infecta. Se você precisa levar seu filho para a escola, você vai sair de casa e vai se expôr. E, segundo, tem o fato de as crianças estarem em casa, que também está prendendo os pais em casa. A hora que elas voltarem para as escolas, os pais também vão sair. Eu não sei quando é o tempo certo de voltar às aulas, ninguém sabe”, completou.

(Texto: Exame)

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