Amplitude térmica e tempo seco agravam síndromes respiratórias

Especialistas alertam que idosos e crianças ficam mais suscetíveis aos efeitos do clima nesta época do ano

A ligeira queda de temperatura e o aumento das áreas de instabilidade registradas no Estado na quarta (29) e quinta-feira (30) ocorreram em razão da passagem de uma frente fria no sul do Brasil, com massa de ar frio em sua retaguarda, conforme o Cemtec-MS (Centro de Monitoramento do Tempo e do Clima de Mato Grosso do Sul). As mudanças no termômetro foram sentidas pela população, que ao amanhecer foi obrigada a se agasalhar e durante o dia sofreu com a elevação acentuada das temperaturas.

O fenômeno é conhecido como amplitude térmica e ocorre quando as temperaturas mínima e máxima variam muito em um curto espaço de tempo. Segundo especialistas, a variação do clima pode influenciar no surgimento de quadros de síndromes respiratórias e agravar a situação na saúde pública, já sobrecarregada pela pandemia de COVID-19.

De acordo com o pneumologista Ronaldo Perches Queiroz, as mudanças bruscas de temperatura afetam a saúde da população, provocando um grande aumento nos serviços de urgência. “Este aumento no fluxo de pessoas buscando atendimento se dá especialmente por problemas respiratórios. Existem dados que informam que o grande aumento nos serviços de urgência e emergência pode chegar até em 70% a mais do número normal de atendimentos devido aos problemas respiratórios por conta dessas mudanças bruscas de temperaturas e devido a baixa umidade relativa do ar”, explicou.

Para o pneumologista, os problemas respiratórios podem ainda ser confundidos com a COVID-19, situação muito preocupante. “A COVID-19 é uma patologia viral, é uma gripe grave e nós estamos vivendo o ápice da pandemia especialmente aqui em Campo Grande e no Mato Grosso do Sul. Como o quadro clínico inicial da COVID tem os mesmos sintomas ou muito parecidos com infecções virais respiratórias desta época, como gripe e resfriados, a dor de cabeça, dor no corpo, coriza, febre, dor de garganta e até tosse, poderão ser confundidos com o coronavírus, daí a importância de que os pacientes, ao apresentarem esses sintomas, procurem precocemente uma avaliação com os clínicos e pneumologistas, para que eles possam tomar as melhores medidas para cada caso, especialmente fazer o que nós chamamos de diagnóstico diferencial”, pontuou.

A estudante Rafaela Alves, 21 anos, sofre de sinusite e relatou que todos os anos, durante o período de inverno, e principalmente por conta do tempo seco, as crises pioram. “Quando começa o inverno, a minha sinusite ataca e eu costumo sentir muita dor de cabeça, dor no ouvido, dor no corpo e mal estar. Como estou trabalhando normalmente, em contato com outras pessoas e sabendo os sintomas do coronavírus, pensei que pudesse estar com a COVID-19”, relatou.

Rafaela procurou atendimento no Polo Ayrton Senna, onde passou por uma triagem. “Quando eu falei dos meus sintomas e da minha crise de sinusite o médico da triagem identificou que pela questão da data [dos primeiros sintomas] estava muito recente para ser coronavírus, então falaram que poderia ser dengue ou uma crise de sinusite. Depois de tomar os medicamentos fiquei bem e percebi que era sim mais uma crise de sinusite por conta do tempo seco”, pontuou.

Queiroz explicou que somente o especialista em pneumologia saberá diferenciar precocemente um quadro de uma infecção respiratória viral comum dos sintomas da COVID19, e “fazendo esse diagnóstico diferencial poderá tomar as medidas necessárias para evitar esse agravamento dessas doenças”, reiterou. O médico ressaltou que a incidência maior de doenças respiratórias neste período do ano pode configurar em uma situação muito grave.

“Segundo a OMS [Organização Mundial da Saúde], as doenças respiratórias ocupam hoje o terceiro lugar dentre as maiores causas de mortes no mundo. Os principais afetados com as mudanças de temperaturas e baixas umidades são as crianças e os idosos, devido às alterações em seus sistemas de defesas imunológicos que são ainda incipientes nas crianças e já existe uma certa deterioração nos mecanismos de defesa das vias respiratórias dos idosos, e com essas mudanças de clima existe o favorecimento da multiplicação de vírus e bactérias que podem provocar graves problemas respiratórios nessas faixas etárias”, frisou Ronaldo Queiroz.

O pneumologista Henrique Britto reiterou que o tempo seco é ainda mais prejudicial para o surgimento de doenças respiratórias nesta época do ano. “O problema maior não é o tempo frio, e sim a questão do tempo seco que é o grande vilão, porque a baixa umidade do tempo dificulta a nossa defesa respiratória e facilita a propagação de micro-organismos, entre eles vírus e a própria COVID-19, bactérias e fungos, o que também propicia as doenças alérgicas. Quando o frio vem sem as chuvas, como é no nosso inverno, isso facilita o aumento da incidência dessas doenças respiratórias, seja para doenças infecciosas ou doenças alérgicas. Essas doenças como bronquite, rinite e pneumonia, se aproveitam da vulnerabilidade do nosso organismo neste tempo de frio e secura para acessarem a nossa via respiratória mais facilmente pela nossa defesa respiratória estar mais debilitada”, frisou.

(Texto: Mariana Moreira/Publicado por João Fernandes)

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