‘Vai acabar sobrando para todo mundo’, diz vendedor sobre jogo do bicho

Foto: Comerciantes temem
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obtenção de renda/Jornal O Estado
Foto: Comerciantes temem que operação acabe com o meio para obtenção de renda/Jornal O Estado

Após prisões, bancas mantiveram funcionamento, de norte a sul da Capital

De norte a sul de Campo Grande, as apostas do jogo do bicho continuam, após as prisões feitas na Operação Successione, do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado), do Ministério Público, na última terça- -feira (5), que investiga as práticas criminosas que envolvem a jogata popular nos bairros. Há quem tente esconder as apostas, mas acaba sendo facilmente identificado por populares, e tem quem teme perder uma das principais fontes de subsistência. 

A reportagem do jornal O Estado MS esteve no bairro mais populoso da região sul da Capital, em um ponto conhecido por diferentes tipos de apostas. Na abordagem, a proprietária do ponto disse: “não sei do que está falando, porque aqui eu só vendo esse título [de capitalização], doces e tapetes de crochê”, tentou despistar.

Bastou questionar outros dois comerciantes próximos que ela foi indicada como a principal vendedora da região. “Todo mundo aqui sabe que é ela, mas fica meio escondida porque vai acabar sobrando para todo mundo que é ambulante aqui”, alertou o vendedor de produtos naturais. 

Já próximo à avenida Coronel Antonino, mais ao norte de Campo Grande, um idoso trabalha com a venda de jogos tranquilamente e, sem se identificar e ciente que era uma entrevista, disse temer perder a única fonte de renda.

“Confesso a você que não sei quem está comandando o bicho agora. Quem recolhe aqui no ponto diz ser de fora, não sei se é Rio de Janeiro ou São Paulo. Essa briga está tendo desde prenderam os Name, querem tomar o comando, aqui. Só quero continuar o meu trabalho tranquilo, com os clientes que tenho”, disse o idoso, sorridente. A conversa acabou quando um cliente chegou para fazer a aposta do dia. 

Cabe lembrar que a prática é considerada uma contravenção penal. Conforme o artigo 50 do decreto nº 3.688/1941, quem “explorar ou realizar jogo de azar em lugar público ou acessível ao público” pode ser punido com prisão simples de três meses a um ano e o pagamento de multa. Portanto, tanto o bicheiro como o apostador podem ser penalizados, se forem pegos em flagrante. 

As investigações contra essa prática não são recentes. Jamil Name e Jamil Name Filho foram presos durante a Operação Omertà, do Gaeco, em setembro de 2019. As investigações iniciaram após três homicídios, prisão dos autores e localização de armamentos pesados, como fuzis AK 47. Durante a fase “Arca de Noé” da Operação, em 2020, a operacionalização do jogo do bicho, em Campo Grande e em algumas cidades do interior, sofreram baixas, mas a realidade é que nunca parou. 

Aos 46 anos, Jamilzinho foi condenado e está preso, pelas mortes que ordenou, na penitenciária federal de Mossoró, no Rio Grande do Sul. Seu pai receberia o mesmo destino, mas morreu em 2021 por complicações da covid-19, no hospital que estava internado, também em Mossoró. 

Com isso, as informações indicam que os articuladores do jogo na fronteira e em Dourados tentam assumir o posto de liderança, mas antes da chegada deles, os comerciantes recorreram a fornecedores paulistas, que entraram na disputa.

De acordo com o Ministério Público, a Operação Successione visa acabar com essa disputa pela sucessão do controle do jogo do bicho. Foram dez mandados de prisão expedidos e sete cumpridos, entre eles, quatro contra assessores parlamentares do deputado estadual Neno Razuk (PL), além de José Eduardo Abdulahad, empresário e pai do advogado Riadh Abdulahad – que já se colocou na defesa do deputado e de alguns dos investigados. 

É importante lembrar que também foi preso o major da reserva da Polícia Militar, Gilberto Luiz dos Santos, o G. Santos, que trabalha como assessor parlamentar no gabinete de Neno, além do seu filho, Júlio César. Gilberto foi encaminhado para o Presídio Militar e Júlio para a Garras, onde recebeu a visita do advogado Santos Júnior. 

Todos eles passaram ontem (6), por Audiência de Custódia e o Ministério Público decidiu pela prisão temporária, pelo prazo de 30 dias. 

Por – Kamila Alcântara

 

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