Impacto econômico, perda na fauna e flora estão entre os prejuízos
As águas do município de Bonito são conhecidas por serem cristalinas. Apesar da fama, o cenário atual é outro. Os rios da cidade turística vêm sofrendo com o turvamento após as fortes chuvas. De acordo com o secretário da Semadesc (Secretaria de Meio Ambiente, Desenvolvimento, Ciência, Tecnologia e Inovação), Jaime Verruck, quando chove muito em Bonito e região, alguns rios turvam e depois voltam ao normal, é um processo relacionado a fatores naturais e fatores antrópicos.
“A água turva naturalmente quando tem fortes chuvas. Porém essa turbidez se intensifica com a exposição do solo.
Essa exposição do solo pode estar relacionada a atividades no meio rural como lavouras, aberturas de estradas, dentre outras. Quanto mais protegido o solo, menos turbidez nas águas.
Por isso a importância de se preservar as matas ciliares, evitando processos erosivos e o carreamento de sedimentos”, explicou.
Balneários fechados
Após mais um período de chuvas no município de Bonito, muitos dos balneários da cidade amanheceram fechados nessa sexta-feira (10). O Balneário Municipal alegou que a decisão se deu pelo volume do Rio Formoso estar acima do nível de segurança. Em 24h choveu 67,6 milímetros na região do Parque Ecológico Rio Formoso.
Na Fazenda América, foram registrados 17,4 milímetros de chuva, no mesmo período. A Barra do Sucuri e o Balneário do Sol também não tiveram atendimento ao público. Segundo a Agência Flutua que Passa, prestadora de serviços para diversos balneários, a razão é a mesma. “O Rio Sucuri enfrenta, novamente, problemas de turvamento. Com isso, os atendimentos e passeios são interrompidos para o melhor de todos.”
Plano Máster de Drenagem
O prefeito de Bonito, Josmail Rodrigues, anunciou ontem (10), que o município vai investir na elaboração de um “Plano Máster de Drenagem”, para garantir a qualidade das águas fluviais da cidade. O projeto técnico deve ser licitado no próximo mês, em parceria com o Governo do Estado. Os recursos para execução serão captados por fontes de financiamento internacional, voltadas para conservação ambiental em territórios que possuem certificação em Carbono Neutro.
“Essa semana estive na Capital, onde discutimos sobre a criação desse plano master de drenagem, que deve ter duração de 30 anos e tem como objetivo principal acabar com o turvamento dos rios de Bonito.” Josmail também lembrou que, nos dois últimos anos, as estradas vicinais do MNGLA, da Nascente do Rio Sucuri e da Estância Mimosa, receberam investimentos superiores a R$ 2 milhões para conservação de solo e água. “Isso porque a falta de drenagem carreava sedimentos para o Rio Anhumas, Formoso e Mimoso, respectivamente, contribuindo para o assoreamento e turvamento”, complementou.
A secretária de Meio Ambiente, Ana Trevelin, também destacou que na área urbana, a prefeitura, por meio das Secretarias de Meio Ambiente e de Obras, realizou mapeamento de áreas que podem ser transformadas em bacias de contenção, que armazenem as águas pluviais e diminuam o fluxo e sua velocidade para os córregos urbanos. “O objetivo é que até 2024, tenhamos comprado e adequado, pelo menos três áreas urbanas, para esta função. Contudo, o desafio da drenagem urbana é grande e envolve três córregos que possuem, inclusive, conflito de ocupação em APP, incluindo ainda ligações irregulares de esgoto na rede de drenagem e esgoto”, explicou a secretária.
Conforme nota da prefeitura, “existem outros fatores que impactam o turvamento resultantes das obras de construção das Rodovias do Turismo e da MS-345. A prefeitura tem feito solicitações de ajuste de práticas com a Agência Estadual de Gestão de Empreendimentos e a Secretaria de Estado de Infraestrutura e Logística”.
Problema afeta uma diversidade de espécies
Para o Jornal O Estado, o biólogo curador do Bioparque Pantanal de Campo Grande, Heriberto Gimênes Junior, comentou sobre as condições dos peixes dos rios de Bonito. Conforme ele explicou, a diversidade de peixes da Serra da Bodoquena é alta e inclui algumas espécies novas para a ciência e uma espécie ameaçada de extinção, que se trata de um cascudo cego que ocorre apenas em uma caverna restrita da região. “Essa alteração na transparência da água já vem sendo observada há alguns anos.
É notória a alteração dos ambientes impactados pela agropecuária, o que reflete diretamente no carreamento do solo para os rios e riachos da região, uma vez que as matas
ciliares – que são as principais barreiras para conter a entrada do solo – são comprometidas pela ação antrópica. Isso se tornou mais evidente com as chuvas intensas que estão ocorrendo desde dezembro”, detalhou.
Além dos peixes, a condição do solo atual, que reflete nos rios, ocasiona diversos outros problemas para a natureza “Essa alteração na água é prejudicial para toda uma cadeia, prejudicando não apenas os peixes, mas também as plantas e demais organismos
aquáticos, tendo em vista que as plantas precisam do fotoperíodo para se manter. No caso dos peixes, muitas espécies de pequeno e médio porte precisam da transparência para reprodução e proteção de ovos e larvas, o que tem sido impedido de acontecer nos últimos dias”, ressaltou.
Questionado sobre o que é possível fazer para mudar as condições precárias atuais, o biólogo do Bioparque Pantanal destacou pontos relevantes a serem levados em consideração. “Adotar medidas de conservação para o solo e áreas de preservação permanente. Evitando assim o uso inadequado do solo e impactos nos rios da região de Bonito, que é um dos pontos turísticos com mais belezas naturais do país”, concluiu Heriberto.
Por Brenda Leitte– Jornal O Estado do MS.
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