Turbidez da água do Rio Formoso deve ser reduzida com menores volumes de chuva

Rio Formoso
Ronald Regis/O Pantaneiro

Semelhança com a cor escura do Rio Aquidauana chamou a atenção nas redes sociais 

Conforme já noticiado pelo jornal O Estado, após uma semana, a turbidez das águas do Rio Formoso segue chamando a atenção nas redes sociais. Além disso, com o nível do Rio Aquidauana deixando a população em alerta, as imagens mostram a semelhança na cor e na força das águas. Para especialistas, a normalidade só será consolidada no Rio Formoso em até quatro dias após a redução dos níveis de chuva, o que segundo a meteorologia tende a não acontecer nos próximos dias. 

Para o biólogo, coordenador do Projeto Peixes de Bonito, José Sabino, mesmo antes dessa alteração no uso da terra, as águas já ficavam turvas, mas o evento durava algumas horas. Em no máximo um dia, tudo voltava ao normal, com a transparência elevada. Hoje, quando ocorrem essas chuvas fortes, conforme a localidade, o Formoso pode ficar 2, 3 até mesmo 4 dias turvo.

“Nitidamente há o problema de uso da terra pela agricultura mecanizada, de grande escala. Com a valorização das commodities [soja e milho] no cenário internacional, algumas fazendas da região da Serra da Bodoquena mudaram suas atividades: passaram de pecuária bovina para essa agricultura que citei. A mudança está muito bem documentada pelo MapBiomas: em 2012 havia aproximadamente 5 mil hectares de agricultura em Bonito e 2020 já havia perto de 60 mil hectares. É importante destacar que toda área preparada para a agricultura deveria ter ações de conservação do solo (as chamadas ‘boas práticas’, que incluem curvas de nível, contenção de erosão, caixas de retenção, além do sistema de plantio direto). O turvamento dos rios da Serra da Bodoquena (no Formoso, mas também no Mimoso e no Prata) é resultado da lixiviação (processo erosivo) do solo. As chuvas intensas do verão caem diretamente sobre o solo exposto”, explicou. 

Questionado sobre os motivos que levaram a essa situação, o biólogo e diretor institucional do ECOA-MS, Alcides Faria, explicou que não existe uma previsão certeira sobre quantos dias o Rio Formoso permanecerá com as águas turvas. “O prejuízo econômico, social e ambiental é enorme. Historicamente o rio sofre as consequências do desmatamento e o avanço da agricultura industrial e a pecuária de corte. Justo ele, Formoso, como indica o nome. E tão importante para o turismo. Fora que destrói a imagem de um dos mais importantes destinos ecoturísticos do Brasil. Imagine a propaganda contrária [que os turistas podem ter no carnaval] caso este quadro desastroso persista”, lamentou. 

Com amplo conhecimento sobre a situação, Augusto Mariano, ex-secretário de Turismo de Bonito-MS, informou que em dias como os atuais, quando o rio está cada vez mais turvo, pelo volume de chuvas, os balneários são os que sofrem os impactos. “Os que mais têm sofrido e inclusive sendo fechados após as chuvas, são todos atrativos localizados às margens esquerda e direita dos rios Formoso, Mimoso, Peixe e Anhumas”, informou.  

Na última sexta-feira (10), o Balneário Municipal alegou que a decisão se deu pelo volume do Rio Formoso estar acima do nível de segurança. A Barra do Sucuri e o Balneário do Sol também fecharam.

Indagado sobre as causas, ele pontua que, além dos fatores ambientais é importante destacar a mudança no volume de turistas. “Temos alguns fatores como a expansão da cidade, redução da cobertura vegetal e o alto volume de veículos de transporte de cargas e de passageiros que passam pelas vias. Em anos anteriores recebíamos 70 mil visitantes, atualmente recebemos 300 mil”, destacou Augusto Mariano. 

Em alerta, nível do rio atinge os 7,38 metros 

Mais de 50 famílias continuam em alerta de alagamento no município de Aquidauana, conforme a Defesa Civil. Após mais um período de chuvas na região, no último domingo (12), o Rio Aquidauana atingiu 7,38 metros de profundidade, marca considerada preocupante.

De acordo com o prefeito da cidade, Odilon Ribeiro, a situação por lá ainda é de preocupação. “Estamos verificando o rio a todo momento e ele subiu mais um pouco, infelizmente. Eu estava esperançoso de que ele não fosse subir tanto, mas atingiu os 7,38 metros”, informou.

Segundo ainda o prefeito, alguns terrenos e campos de futebol da baixada já foram inundados, mas nenhuma família, até o momento, precisou ser retirada de sua residência em razão da enchente. “Estamos preocupados com as águas que possam vir de cima, das cabeceiras, como lá de Corguinho, Rochedo, Dois Irmãos e Anastácio. Temos essa preocupação, e a chuva de domingo também foi forte, o que gera essa insegurança”, relatou.

Equipes do município e da região estão prontas para trabalhar em conjunto. “Corpo de Bombeiros, Defesa Civil, Secretaria de Obras, e Assistência Social. Todos prontos, esperando pelo pior, mas confiantes de que isso não irá acontecer, e não precisaremos colocar em prática os planos de emergência.” 

Nos anos anteriores, o volume marcado atualmente já tinha provocado enchentes, fazendo com que famílias deixassem suas casas. “Por incrível que pareça, este ano, apesar do alto nível, ainda não ocorreu.”

Frente fria promete derrubar as temperaturas 

A previsão semanal elaborada pelo Cemtec (Centro de Monitoramento do Tempo e do Clima de Mato Grosso do Sul) indicou que até quarta-feira (15) o tempo deve ser de sol, com variação de nebulosidade e pancadas de chuva isoladas no Estado. Há probabilidade para chuvas de intensidade fraca a moderada em razão do transporte de umidade e do aquecimento diurno. Porém, localmente, não se descartam algumas pancadas de chuva mais intensas, com raios e rajadas de vento. Entre quinta-feira (16) e sexta-feira (17), a previsão indica tempo instável, com chuvas e tempestades acompanhadas de raios e rajadas de vento, com destaque nas regiões centro-sul e oeste do Estado. Esperam-se acumulados significativos de chuvas que podem superar os 50 mm/24h. Essas instabilidades ocorrem em razão do avanço de uma frente fria, aliada ao intenso transporte de umidade. Além disso, o deslocamento de cavados e a atuação de áreas de baixa pressão atmosférica devem favorecer a formação de nuvens e chuvas.

Por Brenda Leitte e Michelly Perez  – Jornal O Estado do MS.

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