Teste de força para a Câmara em 2020 mostrar protagonismo

Após ‘reconsolidação política’, nome de majoritária é desafio para a Casa

Uma tendência foi evidente a Campo Grande nos anos 2000, época em que eleições para prefeito elegeram sempre um deputado estadual para governar a maior cidade de Mato Grosso do Sul. Porém, do primeiro capítulo dessa série de quatro pleitos, um cenário se diferenciou: o protagonismo da Câmara Municipal em definir o nome do escolhido e também do seu vice. Quinze anos depois, a Casa de Leis se organiza nos bastidores para repetir esse feito, e faz isso gradativamente, ancorada na figura de dois veteranos.

Crédito: Izaías Medeiros

Ainda com poucas definições claras da disputa pela prefeitura no ano que vem, apenas se tem a certeza de que o atual chefe do Executivo venha a ser um dos nomes na corrida. E não seria uma surpresa se, para uma composição, o vice no projeto de um novo mandato de Marquinhos Trad fosse indicado pela Câmara. Entretanto, uma condicionante fica explícita quanto ao perfil do parceiro a se integrar nesse processo.

Não seria um novato, um marinheiro de primeira viagem, a se encaixar nessa manobra. Mais que uma presença pessoal, o “cobiçado vice”, do talvez favorito nas eleições de 2020, assim como ocorreu em 2004, deve sem um vereador que fala pelos demais parlamentares, que transcende sigla partidária e que ainda seja ávido a articulações. Alguém que, mesmo no jogo político consiga pronunciar a língua do povo e demonstrar carisma.

Com perfis diferentes, e absoluta discrição quanto a ambições, dois parceiros de longa data despontam nesse quadro. João Rocha, atual presidente da Câmara, vereador de terceiro mandato, é um deles, enquanto outro capaz de preencher a vaga seria o 1º Secretário da Casa, Carlão, parlamentar comunitário, combativo e regularmente campeão de indicações. Se pudesse existir alguém que reunisse qualidades dos dois em um só, então Marquinhos teria a mais perfeita escolha.

Visão global em disputa de espaço com a política de nicho

Meses antes das eleições de 2004, o então deputado estadual Nelsinho Trad, primeiro a puxar a tradição desse século – depois repetida por Alcides Bernal e Marquinhos Trad – não era uma certeza no MDB. Para o nome máximo da sigla, que era prefeito de Campo Grande e cogitadíssimo a ser governador, o melhor substituto seria Edson Giroto, engenheiro com o qual repaginou o município. Contudo, foi por um movimento político da Câmara, com reflexos também no partido, que André Puccinelli precisou ceder. Naquela ocasião a “política de nicho”, perdeu, mas venceria em 2012 e 2016.

Abraçado pelo ex-vereador Edil Albuquerque, que era presidente da Câmara, Nelsinho vendeu na sua articulação política um projeto de futuro para Campo Grande, e de visão global para a disputa, algo absolutamente bem costurado. A vitória no terreno político, depois se refletiu nas eleições e também se confirmou em um ciclo virtuoso para cidade, com recorde de apresentação de obras, equilíbrio nas contas e ótimos índices sociais.

Todavia, o desgaste do MDB e o fortalecimento da política com o discurso de nicho impediu que o bom mandato designasse um sucessor da mesma sigla. Popular, e dono de uma escalada na vida pública com votações expressivas, Alcides Bernal não precisou de um projeto para se tornar prefeito, e nem de muitas palavras. Bastou como recado não se encaixar na rejeição que achataria Giroto, o MDB ou qualquer coisa que fosse relacionada a André Puccinelli. Nada obstante, mesmo se o triunfo fosse cercado de pragmatismo, não adiantaria, uma vez que a governabilidade foi, de forma incomum, exacerbadamente comprometida e até, em alguns momentos inexistente.

‘Maratonismo’, personalidade e tradição deram certo em 2016 mas para 2020 uma nova estratégia

E, diante do caos, cassação, volta após meses, “tapa-buracos fantasma” ou escândalos com cheque atribuídos a um vice mal escolhido, Marquinhos se apresentou como solução. Ganhou inclusive a primeira eleição para prefeito do “seu jeito”, bancando Adriane Lopes na Vice, e superando por meio de uma estratégia maratonista a estrutura de uma adversária que possuiu muito mais recursos desde o começo da campanha. Enquanto isso, na Câmara, combalida por uma forte crise, evitar uma troca total das cadeiras já seria um troféu.

Diferente de Bernal, que, naquela altura, carregava o ônus do poder e dos problemas da cidade, Marquinhos, o terceiro deputado estadual a se eleger prefeito de Campo Grande neste século, confiou inteligentemente nessa tradição do eleitor. Além disso, teve a leitura de que precisaria ser autêntico, independente, desprendido de grupos e siglas, como o homem que venceu o seu irmão era em 2012

Acontece que, para se reeleger no ano que vem, o atual prefeito da Capital não poderá repetir a mesma estratégia. Para chegar ao segundo turno, precisará de forças que não tem, para que o seu discurso tenha alcance. Nesse ponto, uma composição com a Câmara, por meio de um líder que consiga isso, é mais que oportuna. Talvez em nenhum momento de suas vidas, João Rocha, ou Carlão estiveram com o passe tão valorizado.

(Texto: Danilo Galvão)

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