Projeto gratuito visa retomar a autoestima de mulheres que lutaram contra a doença
Mulheres que enfrentam o câncer de mama acabam sofrendo durante e após a doença, isso porque algumas necessitam fazer a retirada de uma ou até mesmo das duas mamas. Além do dano físico, dores terríveis e um tratamento pesado, e com medicamentos fortes e com muita química, muitas delas acabam passando por uma extrema dificuldade emocional, pois a retirada das mamas pode causar uma ferida profunda em sua autoestima.
O jornal O Estado conversou com a tatuadora Paty Miranda, que iniciou em 2017 um projeto intitulado Marta Rosa Tattoo, voltado para a realização de reconstrução das aréolas dos seios de mulheres que passaram pelo procedimento da retirada de mama, ou até mesmo para cobrir cicatrizes deixadas pelos procedimentos. O trabalho é feito voluntariamente.
O projeto foi criado para homenagear as duas avós de Paty, Marta e Rosa, que tiveram câncer de mama e acabaram falecendo em decorrência da doença. “No começo foi bem como uma homenagem para elas e estamos aí há cinco anos e trabalhamos o ano inteiro, mas, como é algo independente, demanda recurso. Não cobro o trabalho para mulheres que tiveram essa luta contra o câncer e estamos tentando criar um site para ajudar na divulgação. Por mais que seja gratuito e seja uma mulher realizando, oferecemos todo o conforto necessário, ainda tem muita resistência e barreiras, principalmente com o lado emocional. A gente faz tanto o projeto de pigmentação de aréola, quanto a cobertura das cicatrizes, algumas vezes fazemos a própria tatuagem para cobrir a cicatriz”, disse.
Ela explica que essa foi a maneira de poder contribuir por meio de seu trabalho para esta causa que é muito importante para ela. Durante os cinco anos de projeto, aproximadamente 150 mulheres, entre 30 e 50 anos, passaram pelo estúdio de Paty. A O Estado ela conta que atualmente a adesão é baixa, tanto pela falta de divulgação quanto pela fragilidade em que as mulheres que passam por isso se encontram.
“No início até que teve mais gente, agora deu uma parada e, mesmo com divulgação, não tem tanta procura quanto antes, antes tínhamos muita indicação dos médicos. Recebíamos mulheres muito fragilizadas, faço uma avaliação antes e para realizar o trabalho pedimos um laudo do oncologista para autorizar a pigmentação em cima da cicatriz, elas chegam com fragilidade, mas com esperança, e essa é a parte mais legal, o antes e o depois. No depois, elas choram muito, é emocionante, não tiramos fotos nem gravamos, mas é algo muito pessoal, um momento único na vida delas”, comenta.
A gente que trabalha com tatuagem, a gente acaba conversando sobre tudo, somos meio que psicólogos. A primeira mulher lembro que eu estava muito quebrantada e muito nervosa. Mas depois do procedimento realizado foi bem mais tranquilo.” A pigmentação é realizada por meio de um procedimento diferente da micropigmentação, a técnica usada se chama microtatuagem.
O projeto acontece durante o ano todo e é necessário realizar uma avaliação com a profissional. Interessadas por entrar em contato no (67) 98138-8470 ou através da rede social @067inktattoo.
Taxa de cobertura de mamografias no Brasil caiu para abaixo de 50% após a pandemia
No ano passado, as mulheres de 50 a 69 anos no Brasil tiveram a menor cobertura de mamografia com apenas 17%, abaixo dos 23% registrados em 2019. Essa e outras métricas preocupantes são levantadas no Panorama da Atenção ao Câncer de Mama no Sistema Único de Saúde, que avalia os procedimentos de detecção e tratamento da doença entre 2015 e 2021. A OMS (Organização Mundial da Saúde) recomenda que 70% da população feminina faça o exame uma vez por ano a partir dos 40 anos. No Brasil, a faixa etária para rastreamento é limitada à faixa etária entre 50 e 69 anos.
Além da cobertura, os números de produção de exames também diminuíram em relação ao período anterior. Em 2020, o desempenho da mamografia diminuiu 40%, e em 2021, mesmo com a vacina e várias atividades retomadas, a redução ainda é de 18% da média nacional.
Em 2020, as regiões com maiores reduções de testes foram o Centro-Oeste (50%), e em 2021 foi o Sul (23%). A redução da cobertura e produção de mamografias (o exame primário de rastreamento e diagnóstico do câncer de mama) resulta em um diagnóstico mais tardio na população feminina.
Mulher, se toca: ginecologista fala sobre riscos de não se tocar
Outubro é o mês marcado pela campanha de prevenção, conscientização e diagnóstico precoce do câncer de mama e colo de útero. A orientação é para que mulheres façam o autotoque nas mamas e também que procurem as unidades de saúde para realização do exame de diagnóstico da doença.
A dra. Nathália Pires, ginecologista endócrina, tem abordado o assunto em suas redes sociais, pela importância das mulheres entenderem a historicidade das mamas, para então perceberem a importância de se tocar.
“Nós sabemos que estilo de vida, genética e outros fatores influenciam diretamente na prevenção das doenças. Mas o autocuidado e autotoque são capazes de possibilitar diagnóstico precoce, dando tempo de tratamento e cura”, afirma a doutora.
Segundo o Inca (Instituto Nacional de Câncer), estima-se que o país registre 66.280 mil novos casos de câncer de mama e mais 16,7 mil casos de câncer de colo de útero. Em Mato Grosso do Sul, a estimativa é de que surjam 850 casos novos de câncer de mama com média de 200 óbitos ao ano. E, de colo de útero, 270 casos novos com média de 100 óbitos ao ano.
“Além do autotoque para entender se tem algo incomum no corpo, é essencial que a mulher busque auxílio por meio dos exames de preventivo e mamografia, pois somente eles são de fato eficazes nesta investigação. É possível ter acesso a esses exames pelo SUS no Hospital de Amor e no Hospital de Câncer Alfredo Abraão”, diz dra. Nathália Pires.
Durante o mês de outubro, existem campanhas que promovem exames em vários lugares gratuitamente. Mas durante todo o ano é possível ter acesso a esse recurso nos dois lugares citados pela ginecologista: Hospital de Amor, na Av. Ver. Thirson de Almeida, 3.103 – Aero Rancho; Hospital de Câncer Alfredo Abraão, na Rua Marechal Rondon, 1.053 – Centro.
As mulheres podem procurar a UBS mais próxima para ter informações de como fazer pelo SUS também. O câncer de mama e colo de útero tem cura, quando tratado precocemente. (Com assessoria)
Por Camila Farias – Jornal O Estado do MS.
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