‘É a nossa casa e a gente não quer acabar com ela’, disse representante de Corumbá
As discussões em relação ao Pantanal e as taxas de desmatamento ainda vão longe. Depois do Ministério do Meio Ambiente enviar um nota técnica que critica a porcentagem de desmatamento prevista no decreto estadual n° 14.273, o governo estadual anunciou a criação da 1ª Lei do Pantanal, classificada como o “Projeto de um Pantanal para o Século 21”.
De acordo com o Estado, haverá diálogos com todos os entes envolvidos, desde a sustentabilidade ao desenvolvimento econômico e social.
Os sindicatos e produtores rurais dos municípios pertencentes ao bioma garantem que vão sair em defesa dele e para que as taxas, já previstas no decreto, sejam mantidas. Segundo o presidente do Sindicato Rural de Corumbá, Gilson Barros, os produtores têm muitos argumentos para defender a manutenção.
“O Pantanal continua sendo preservado, continua produtivo. Essa taxa de inversão de pastagem não é maléfica para o bioma, pelo contrário já existem pesquisas publicadas, inclusive da Embrapa Pantanal. A pecuária, hoje, no Pantanal, para mim, ela já é uma simbiose, faz uma troca perfeita entre o que o homem dá para a natureza e o que a natureza dá para o homem”, argumentou.
“Nós vamos sair em defesa do Pantanal. Não só do homem pantaneiro a qualquer preço, mas do Pantanal, em si. O bioma é a nossa casa e a gente não quer acabar com ela, isso já está mais do que provado”, ressaltou.
Gilson assegura que se a nova legislação se tonar muito restritiva e o Pantanal se tonar inviável para o setor produtivo, o bioma estará condenado a ser um parque de incêndios anuais. “Temos como exemplo o nosso Estado vizinho, Mato Grosso, que com uma legislação extremamente restritiva, tornou-o inviável e com várias fazendas que viraram foco de incêndio. Entretanto, eles já modificaram a lei”, disse.
Outro município que é porta de entrada para o Pantanal é Miranda e o Sindicato Rural da cidade assegura que os produtores estão bem preocupados com a nova legislação. Conforme o presidente, Massao Ohata, “A criação da nova lei tem gerado até mesmo uma angustia entre os produtores de Miranda, até porque se a restrição for muito forte vai comprometer a renda e a população desses municípios, que estão dentro do bioma Pantanal”, declarou.
Massao reforça, justamente, o quanto a pecuária e os pantaneiros ajudam na preservação do Pantanal. “Eu acho que a pecuária ajuda muito na preservação. Tem o termo boi bombeiro, que ajuda a diminuir a massa vegetal, que acaba virando material combustível quando ocorrem os incêndios. Os homens trabalham acompanhando as características da região e respeitando-as. Claro que tem as dificuldades, que acabam comprometendo a ocupação com o gado”, explicou.
Instrumento de conservação
Para o produtor rural Armando Lacerda, que é morador da região do Porto de São Pedro, vizinho de áreas de proteção ambiental da Serra do Amolar, a iniciativa do governo estadual em criar uma nova legislação é muito boa, justamente pelo fato de 70% do bioma estar em terras sul-mato-grossense. “O pessoal estava com os ânimos muito exacerbados e o governador os acalmou, por tentar resolver o assunto aqui, no Mato Grosso do Sul, que é onde está 70% do Pantanal e ele está absolutamente certo quanto a isso”, afirmou.
Lacerda reiterou ainda a importância da pecuária na preservação do bioma. Para ele, a pecuária é o grande instrumento de conservação, justamente por conta do gado. “Isso permite a conservação com a famosa história do boi bombeiro. Quem melhor apaga incêndio é quem evita, o capim que o gado comeu, que o gado pisoteou, que foi consumido não vira facho e onde não tem o gado, normalmente, vira facho e esse é o problema.”
Como morador do Pantanal, Armando falou ainda das estradas e da sua função social para manutenção do bioma. Vale ressaltar que uma medida cautelar adotada pelo TCE-MS (Tribunal de Contas de Mato Grosso do Sul) suspendeu as obras de implantação de revestimento primário da MS228, localizada na região do Pantanal. “Experimente abrir um mapa das rodovias do mundo, você vai ver que o Pantanal é um grande vazio. As pessoas precisam ir no colégio, precisam de atendimento médico, precisam combater incêndio quando ocorre e aí entram as estradas. Temos as estradas pantaneiras que, quando está seco, a gente anda com um carro preparado, então a função social da estrada, para a manutenção do Pantanal é muito importante, porque é ela que mantém as pessoas lá dentro, senão elas saem”, explica.
Por Rafaela Alves – Jornal O Estado de Mato Grosso do Sul.
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