Senadora participou de manifestação na Paulista que pedia impeachment

A senadora Simone Tebet (MDB), que atua de forma destacada da CPI da Pandemia no Senado, defende que a construção da terceira via aconteça para que seja derrubada a possibilidade de segundo turno com o atual presidente. A parlamentar participou no último domingo (12) de manifestação organizada pelo MBL (Movimento Brasil Livre), que pedia o impeachment de Jair Bolsonaro. Ela quer ainda uma espécie de “bandeira branca” entre os partidos de esquerda, centro e direita para efetivo sustento da democracia.

Simone destacou que o MDB é categórico em ser porta-voz da defesa de pautas democráticas mesmo tendo membros apoiadores do presidente. Ela disse, durante entrevista em live do Carta Capital, que a terceira via não morreu e que vai acontecer. Em sua visão, deve haver esforço para que nas eleições de 2022 não haja chances para Jair Bolsonaro.

“A eleição está longe, mas eu me preocupo em um cenário de segundo turno entre Bolsonaro e Lula. Na minha concepção, e se eu aceitar essa missão [de ser pré-candidata] é única e exclusivamente para terceira via tentando retirar o Bolsonaro do segundo turno. Esse é o meu entendimento. Não sei quem será o nome da terceira via, mas terá o meu apoio. Não precisa ser eu essa pré-candidata, mas não me arriscaria a confiar em um segundo turno com o Bolsonaro que em um primeiro mandato comete tantos erros e prejudica o país.”

Simone também classifica Bolsonaro como incompetente, omisso e cruel, e diz que não há chances de apoiá-lo. “Não consigo ver uma mudança de rumo na economia, nas pautas importantes e políticas sociais com esse presidente no poder.”

Claramente de oposição ao mandatário, a senadora comentou sobre o protesto na Avenida Paulista e destacou que a pluralidade partidária na defesa da democracia é bem- -vinda e que não vai descansar enquanto perceber ataques e riscos ao sistema. Ela pontuou que os atos do dia 12 de setembro tiveram valores, apesar de não ter tantos participantes.

“Numericamente acho que deixou a desejar. Falo porque, quando tinha 14 anos de idade, me lembro do movimento das Diretas Já que começou com 5 mil pessoas e depois levou milhões às ruas e o fim da história nós já conhecemos. De qualquer forma, a esquerda com o centro se mobilizou em torno da democracia. Da mesma forma, ocorreu esse movimento da Paulista, que começou pequeno. Mas eu não me lembro desde a redemocratização de ter visto um palanque tão plural. Ali nós tivemos movimentos do PC do B junto ao DEM, eu vi bandeiras da Força Sindical e bandeiras do PSDB, eu vi representantes da União Nacional dos Estudantes em palanque onde tínhamos tido deputadas do PSL. Essa é a pluralidade da democracia, e eu acho que é um marco e um pontapé inicial”, disse durante a live.

Simone afirma que há a necessidade de abrir caminhos sem olhar especificamente para correntes ideológicas a fim de que o extremismo não ocupe espaços. Para a senadora é natural que haja ressentimentos entre algumas frentes partidárias [como o PT e a CUT que se recusaram a participar do manifesto por conta do apoio do MBL ao afastamento da presidente Dilma Rousseff em 2015], mas explica que, diante de um governo reacionário e que se demonstrou insensível com a população no momento em que mais precisava, as correntes devem deixar as diferenças de lado.

“É natural que haja ressentimentos, mas é possível que estejamos sentados em uma mesma sala e em curto espaço de tempo. Quem sabe vamos ter um grande palanque como aconteceu nas Diretas Já. Acredito muito e quem sabe agora em novembro, no dia 15, em que comemoramos a data da proclamação da República, a gente possa comemorar como naquela época, com as mesmas cores, onde todos estavam se abraçando e comemorando um projeto em defesa das liberdades públicas da democracia”, disse Simone. E acredita que o PT pode marchar ao lado de grupos como o MBL ou o Vem Pra Rua, já que na manifestação observou que o PDT, por exemplo, que tem como presidenciável Ciro Gomes, estava a favor do manifesto.

“É preciso entender que é muito recente o episódio que tivemos [pedido de impeachment da presidente Dilma Rousseff] e temos de neste momento levantar bandeira branca. Agora que temos essa sombra sobre nossas cabeças [Governo Bolsonaro], e principalmente para a esquerda que viveu os piores momentos na época da ditadura. Acredito que a esquerda vai ter a capacidade de entender que este é um momento de união, independente de nomes.”

‘Centrão’

Para ela, caso o presidente Bolsonaro continue a “flertar com pautas antidemocráticas” nos próximos meses, as siglas do “centrão” terão de decidir um lado. “Os partidos de centro de um modo geral em curtíssimo espaço de tempo, creio que em menos de 60 dias, terão de se posicionar. E se posicionar não só a favor da democracia, mas do próprio processo de impeachment do presidente da República.”

CPI

Em relação à CPI da Pandemia, a senadora afirma que está segura de que a comissão tem provas suficientes para concluir o relatório. Ela explica que, mesmo quando houve casos em que o depoente não contribuiu com a comissão, houve formas de angariar substancialidade nos temas. “A prova testemunhal poderia ser a mais frágil. Temos documentos, quebras de sigilo, gravações e vídeos o bastante para compor o relatório final da CPI”, afirma ela que também indica indícios de materialidade de crime de responsabilidade.

“Temos materialidade de crimes na administração pública, corrupção ativa, corrupção passiva, peculato e propinoduto, e principalmente em relação ao contrato da Covaxin.” (Texto: Andrea Cruz)