Sem especialidades médicas, municípios enviam 300 pacientes ao mês para a Capital

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Foto: Nilson Figueiredo

Além da distância, população lida com a falta de comunicação sobre consultas e agendamentos

Mesmo sendo apenas 15 cidades sem hospitais próprios em todo Mato Grosso do Sul, esses municípios, que contam com estas unidades, não possuem especialidades médicas como nefrologista, cardiologista e até mesmo ortopedista, precisando transferir os pacientes de forma recorrente para a Capital. De acordo com as secretárias de saúde, alguns deles chegam a enviar de 250 a 300 pacientes por mês para atendimentos e tratamentos no CEM (Centro de Especialidades Médicas) ou até mesmo na Santa Casa de Campo Grande.

Geralmente, o transporte para os atendimentos é fornecido pela Secretaria de Saúde da cidade de origem, que conta com o horário de saída, que normalmente é por volta de 5 h, e de retorno, que é estipulado a partir do último paciente atendido na Capital.

O problema da falta de atendimento nessas cidades do interior acontece em diversas frentes, tais como, o tempo de deslocamento de um lugar para outro, o tempo de espera para o retorno, despesas com alimentação e principalmente o risco de passar por tudo isso e ainda assim não conseguir atendimento, como é o caso da dona Ernestina Teodora do Nascimento, 65 anos, que é moradora de Rio Verde e costuma vir até a Capital de seis em seis meses, para um tratamento cardíaco e que as vezes acaba ficando sem a consulta.

“Já faz bastante tempo que eu venho fazer o tratamento aqui, porque essa médica em específico não tem lá, na cidade. Às vezes, nós precisamos sair por volta de 2h e ficar aqui na frente, aguardando atendimento e depois aguardando para voltar, pois nunca há previsão, mas, com isso, eu já estou acostumada, o problema é quando acontece de chegar e a médica estar de atestado médico. São quatro horas de viagem, eles mandam o e-mail no mesmo dia da consulta. No horário que vimos, já estávamos chegando aqui. E isso já aconteceu outras vezes, acabamos passando o dia todo aqui na frente, esperando o horário de voltar”, declarou Ernestina.

O caso se repete com outros pacientes, que tinham consulta marcada com a mesma médica, na manhã de ontem (4), conforme apurado pela reportagem, ao menos 4 pacientes perderam a viagem e não conseguiram atendimento. Dona Ernestina explica, ainda, a necessidade de ter especialidades ou no próprio município ou em alguma cidade mais próxima. “É um tempo muito longo de viagem e como eu preciso do tratamento, não tem como simplesmente não vir, mas toda vez é cansativo, desgastante e temos gastos com alimentação, então, é necessário fazer um planejamento para estar aqui”.

Já o técnico de enfermagem José Barbosa, 63, veio pela primeira vez de Guia Lopes da Laguna, acompanhar um amigo que tem deficiência visual e precisava iniciar um tratamento com um nefrologista.

“É muito difícil ter que fazer todo esse deslocamento, são mais de duas horas de viagem e depois sabe-se lá quando vamos conseguir voltar. A Secretaria de Saúde disponibiliza o transporte, mas alimentação é por nossa conta”, contou José.

Alternativa

Com a falta de especialidades, atendimentos e até mesmo cirurgias, alguns municípios transferem os pacientes para Campo Grande. De acordo com o secretário de Saúde de Corguinho, Anderson Alves de Oliveira, os números não são fixos, mas geralmente 250 pacientes são enviados para tratamentos, mensalmente. “É difícil dizer, pois depende das vagas que abrem, mas geralmente é de 250 para mais”, disse.

Já na cidade de Dois Irmãos do Buriti, o monitoramento é diário e são remanejados para atendimentos na Capital 15 pessoas por dia, de segunda a sexta-feira, totalizando, aproximadamente, 300 por mês.

Em Terenos, segundo dados da Central de Regulação, foram encaminhados para atendimento em Campo Grande, nos últimos três meses, mais de 600 pessoas para atendimento médico especializado. No quantitativo mensal, foram 172 pacientes em fevereiro, outros 254, em março e 193, em abril.

Por Camila Farias – Jornal O Estado de Mato Grosso do Sul.

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