Candidata a prefeita no segundo turno é sócia de empresa suspeita em Rondônia
Quem vê o discurso da candidata à Prefeitura de Campo Grande, Rose Modesto, que propaga sempre que já foi professora, nem imagina que atualmente ela é empresária no ramo de empreiteiras. Rose é proprietária de duas empresas de construção, uma das quais não foi declarada à Justiça Eleitoral, e a outra apresenta um contrato com cláusulas suspeitas.
Com investimentos fora de Campo Grande, Rose é sócia majoritária da RCO Comércio e Serviços, em parceria com Rosenita Queiroz, em Porto Velho, Rondônia.
A empresa que ficou oculta da Justiça Eleitoral é a Porto Vitória Empreendimentos Imobiliários, que ela detém em sociedade com seu irmão, o deputado estadual Rinaldo Modesto. No local que deveria ser a sede, ao invés de identificação sobre a empresa campo-grandense, há uma placa da RCO Comércio e Serviços—sim, a mesma que é de Porto Velho.
A RCO possui uma extensa lista de CNAEs (Classificação Nacional das Atividades Econômicas), abrangendo desde construção civil até atividades esportivas e serviços de transporte, uma diversidade que levanta suspeitas. E ainda assim, no local onde está registrado o endereço da empresa funciona uma clínica de estética, o Soluna Med SPA, contrariando o vasto leque de CNAEs disponíveis para a empresa.
Aumento de Capital
Com a entrada de Rose Modesto, a RCO teve um significativo aumento de capital, passando de R$ 50 mil para R$ 190 mil, quando a ex-deputada federal se tornou sócia majoritária.
De acordo com um documento da Junta Comercial de Rondônia, a mudança de empresário individual para sociedade limitada ocorreu em outubro do ano passado, poucos meses após Rose Modesto assumir a Sudeco. Essa alteração repentina na estrutura da empresa deixou Rosenita com plenos poderes, ocultando o controle direto de Rose Modesto sobre o negócio e promovendo uma isenção em caso de conflitos de interesse.
Outro ponto a ser destacado é que, apesar de Rosenita ser a sócia que tem autoridade sobre a empresa, curiosamente, quem estaria realmente no comando é o empresário José Flávio de Queiroz, por meio de uma procuração assinada desde 2017, com poderes amplos e data questionável.
Suspeita-se que Rose Modesto tenha utilizado essa procuração para agir em nome da empresa enquanto ocupava cargos públicos, e que o documento em questão tenha sido usado para encobrir transações ilícitas ou conflitos de interesse durante seus mandatos como deputada federal e vice-governadora.
Zero Transparência
Apesar deste “aporte financeiro” por parte de Rose Modesto, a empresa não se destaca por sua transparência em relação aos lucros. Conforme o contrato social, a distribuição de lucros é bastante vaga, permitindo que sejam mantidos em “contas específicas a critério dos sócios”. Esse tipo de contrato possibilita a ocultação de lucros ou a distribuição desigual de dividendos, beneficiando um dos sócios em detrimento do outro.
Assim, o contrato social registrado na Junta Comercial de Rondônia gera dúvidas quanto à idoneidade da empresa, que poderia estar sendo utilizada para “lavar” dinheiro proveniente de atividades ilícitas—o que explicaria o aumento repentino do capital social e a falta de clareza na divisão de lucros.
Nas redes sociais, a sócia de Rose é discreta e tem apenas um perfil de professora de Pilates, no mesmo endereço onde fica a empreiteira das duas.
E ficam alguns questionamentos que só podem serem respondidos pela candidata. Qual o motivo de ter uma empresa em Porto Velho e não investir na Capital? Por que manter na empresa de Campo Grande uma placa da empresa rondoniense? E por que um aumento de capital tão repentino?
Por fim, é importante questionar a falta de transparência nos interesses de Rose Modesto, que tenta passar a imagem de professora pobre de Fátima do Sul, quando na verdade já é uma empresária de grande porte.
A reportagem entrou em contato com a equipe da candidata Rose e foi informada que seria encaminhada uma nota, que não chegou até a publicação do material.