Raça do Boi Pantaneiro ganha reforço na luta contra a extinção em MS

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UEMS e Onçafari trabalham com pesquisas para multiplicar a espécie

O território de Mato Grosso do Sul é a casa do Boi Pantaneiro – raça de bovino que é encontrada apenas nesta região e atualmente a raça vive sob ameaça de extinção. Nos últimos tempos o número da espécie reduziu drasticamente, saindo de 3 milhões para 500 cabeças de gado. Fato preocupante que reuniu a UEMS (Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul) e a Ong Onçafari para tentar impedir que linhagem desapareça, através pesquisas e ações de extensão universitária, visando o resgate, melhoramento genético e multiplicação.

A iniciativa começou com o Prof. Dr. Marcus Vinicius Morais de Oliveira, gestor do Núcleo de Conservação de Bovinos Pantaneiros da UEMS, que mapeou os animais remanescentes nas fazendas de alguns aficionados. Além de professor, é zootecnista e integra o corpo docente da UEMS desde 2003, se dedicando à área de Avaliação de Alimentos para Ruminantes, Produção de Bovinos Leiteiros e Recursos Genético Animal (raça bovina autóctone do Bioma Pantanal). Nesta semana o professor viaja para conhecer a fazenda da Onçafari. Ele explica que o boi pantaneiro tem uma raça forte e resistente em comparação às outras raças bovinas.

“Existe ainda o interesse na manutenção desta genética taurina diferenciada, porque este gado tem uma alta tolerância ao carrapato, e, portanto, um grande diferencial frente as raças modernas europeias, que tem seu uso limitado na pecuária comercial. Todavia, é necessário o apoio dos órgãos de fomento público, e em especial dos Governos, para a obtenção de recursos para dar continuidade ao trabalho que está sendo feito pela Universidade”, defende Oliveira.

Segundo Marcus Vinicius, os primeiros rebanhos de bovinos vieram para a região do Pantanal com os colonizadores espanhóis no início do século XVI, cerca de 200 anos depois chegaram os animais trazidos pelos portugueses. “O livre cruzamento entre esses grupos genéticos, gerou por seleção natural uma raça autóctone, com genes Bos taurus taurus, genuinamente brasileira. Ou seja, temos um bovino com genética essencialmente europeia, magnificamente adaptado às condições singulares do Pantanal”, explica o professor.

Até a Associação Brasileira dos Criadores de Bovino Pantaneiro ser oficialmente reconhecida, em 2013, pelo MAPA (Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento) o bovino Pantaneiro era designado por diferentes nomes locais, como cuiabano, jofreano, marruá, taboqueano e taquati. Sendo há séculos as qualidades e características imponentes dos animais descritas em poesias e letras de canções.

Características diferenciadas

Os bois pantaneiros são fortes, rústicos e, devido a adaptações que sofreram ao longo de séculos, resistem como nenhuma outra raça às condições ambientais do Pantanal. Eles são capazes de pastar em terrenos alagados, sem que os cascos amoleçam, e não dependem só do capim, pois conseguem se alimentar de folhas de árvores e pequenos arbustos. Duas características físicas do pantaneiro fizeram com que os pecuaristas desistissem deles e preferissem investir no Nelore.

Suas pernas curtas representavam um problema no tempo em que os rebanhos eram transportados a pé. Quando as comitivas foram substituídas pelos trens, os longos chifres do pantaneiro —aqueles que dão origem aos berrantes—, que crescem para os lados, impediam que vários animais fossem espremidos em pouco espaço. “Encontrei alguns poucos pecuaristas ricos, que preservavam os pantaneiros só porque gostam dos bois e os criavam como animais de estimação, mas não conseguiram renovar os rebanhos pela consanguinidade”, comenta o professor da UEMS.

A raça pantaneira é a única capaz de se defender dos ataques das onças. A pelagem, em 37 tonalidades, pode mudar de cor para se camuflar na paisagem. Diante do perigo, o rebanho de une, formando uma barreira que protege os bezerros e intimida a onça —um padrão de comportamento único, segundo Oliveira, moldado na convivência com o predador.

O principal objetivo da ONG é preservar animais de todos os biomas e promover o ecoturismo responsável. No Pantanal, a onça-pintada é a estrela do projeto, mas a equipe de Haberfeld logo descobriu que, para atingir seu propósito, precisaria dos bois pantaneiros —e por vários motivos. “Eles são fundamentais para manter as condições do bioma. As vegetações forrageiras crescem muito no verão e, se os bois não pastarem, essa biomassa vira feno, que aumenta o risco de incêndios”, explica o professor.

Os bois pantaneiros também se alimentam dos coquinhos da palmeira acuri, fruto que é a base da dieta das araras-azuis —ao ruminar, o gado remove a casca mais dura, deixando só o miolo pronto para ser comido pelas aves.

Parceria com a ONG Onçafari

A área de 25 mil hectares, no Pantanal do Mato Grosso, é uma das 14 bases de operação da Onçafari, organização não governamental fundada pelo ex-piloto de Fórmula 1 Mario Haberfeld. A reserva, que abrigava 15% da população total de araras-azuis, foi adquirida em 2021, depois de ter 90% do território consumido pelo fogo. O principal objetivo da ONG é preservar animais de todos os biomas e promover o ecoturismo responsável. No Pantanal, a onça-pintada é a estrela do projeto, mas a equipe de Haberfeld logo descobriu que, para atingir seu propósito, precisaria dos bois pantaneiros por vários motivos.

“Eles são fundamentais para manter as condições do bioma. As vegetações forrageiras crescem muito no verão e, se os bois não pastarem, essa biomassa vira feno, que aumenta o risco de incêndios”, explica o professor.

Os bois pantaneiros também se alimentam dos coquinhos da palmeira acuri, fruto que é a base da dieta das araras-azuis —ao ruminar, o gado remove a casca mais dura, deixando só o miolo pronto para ser comido pelas aves. Com recursos investidos pela Onçafari, Oliveira pôde acelerar seu projeto e, através de fertilização in vitro, chegou a 450 embriões da raça pantaneira. Eles foram inseminados em novilhas Nelore, que assumiram a função de barrigas de aluguel —125 emprenharam e os bezerros começaram a nascer no dia 4 de abril. Até agora, 29 já vieram ao mundo, pesando 32 quilos em média. São mais pesados do que a média da raça, que gira entre 18 e 28 quilos ao nascer.

Por Suzi Jarde (com informação Folha de São Paulo)

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