Produtos caros nas gôndolas provocam aumento nos pedidos de doações na Ceasa

Ceasa
Foto: Valentin Maneir/Jornal O Estado

Apesar da necessidade, prioridade é a de atender projetos como o Mesa Brasil e o FAC

Os crescentes aumentos nos preços dos produtos alimentícios estão ultrapassando questões econômicas e se tornando uma preocupação social. Na edição do último sábado (7), a equipe de O Estado revelou um incremento no número de famílias que, sem alternativa, precisam se endividar com cartões de crédito para conseguir levar os produtos até a mesa.

Além disso, outro fator que comprova a dificuldade enfrentada nos lares campo- -grandenses foi identificado na Ceasa (Central de Abastecimento de Mato Grosso do Sul), onde a busca por doações está maior, reflexo de mais famílias em situação de vulnerabilidade necessitando do auxílio de instituições filantrópicas.

Gerente de um dos boxes da Ceasa, Carlos Oliveira, de 45 anos, explica que a maioria dos funcionários não está autorizada a entregar os produtos para qualquer pessoa que chega, sendo prioridade apenas para o projeto Mesa Brasil e o FAC (Fundo de Apoio à Comunidade) da prefeitura. Mesmo assim, ele confirma que a busca por alimentos está maior.

“Na verdade a gente não doa pra qualquer um. Aqui no box só doamos para o Mesa Brasil, porque é uma instituição séria, que emite nota fiscal e conhecemos bem. Sabemos que vai montar as cestas para famílias carentes”, esclarece Carlos.

Responsável por outro box da Central de Abastecimento, Maicon Leon tem 32 anos, nove deles foram trabalhando lá, e percebeu o crescimento dos pedidos.

“Sempre que há um aumento dos preços, que a economia aperta, aparecem mais pessoas aqui pedindo comida. Quando tem, a gente doa sem problema nenhum. É bom saber que aquele produto, que só ia ocupar espaço aqui, está sendo aproveitado por uma família”, diz Maicon.

Em uma pequena picape, a pastora Glória Campos, de 50 anos, aguarda os ajudantes Abimael e Miguel retornarem de uma “rodada de pedidos” pelos boxes. Eles pertencem à Igreja Pentecostal Fé e Amor, que fica no bairro Coronel Antonino, que atende 68 famílias em situação de vulnerabilidade há dez anos.

“Realizamos este projeto, de arrecadação e doação, há muitos anos, mas já tem alguns meses que buscamos produtos aqui também, por causa da procura. Daqui, fazemos a seleção e higienização para entregar. Tem semana em que conseguimos montar 20, outras 10… Depende de como estão as doações. Entregamos nos bairros Vila Nova, Coronel Antonino, Canguru e até em Sidrolândia”, detalha a pastora.

Para as famílias cadastradas nos Cras (Centros de Referência de Assistência Social), que buscam ajuda nas lideranças comunitárias ou são cadastradas em instituições, a Prefeitura de Campo Grande destina os ofícios com pedidos de doações para o FAC. Renata da Paixão é a líder do setor de hortas do Fundo de Apoio e, todas as manhãs, vai com sua equipe à Ceasa tentar angariar o máximo de produtos possíveis para doações.

“Nós trabalhamos com ofícios, não informamos datas ou quantidades. Recebemos demandas das sete regiões de Campo Grande, de lideranças comunitárias e dos Cras. Recebemos aqui os alimentos, levamos para a UTA (Unidade Técnica de Agricultura Urbana), ali no Jardim TV Morena, montamos as cestas e doamos. O que não é aproveitado destinamos para as hortas ubanas que apoiamos, para usar no adubo”, explica Renata.

Renata começou a desenvolver este trabalho em janeiro e, nesse pouco tempo, já sentiu o aumento da demanda nos últimos dias. “Existem as comunidades que sempre precisam, mas tem muitas famílias perdendo seus empregos e pedindo ajuda às instituições que atendemos. Tem muita gente hoje em dia que não tem como pagar o próprio alimento”, conclui.

Texto: Kamila Alcantra – Jornal O Estado de MS.

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